Na última quarta-feira (26), Cuca pediu demissão do Corinthians. O motivo foi a enorme pressão sobre o técnico, investigado e condenado pelo crime de estupro contra uma menor de idade, em 1987, ocorrido na cidade de Berna, na Suiça. Além do treinador, que na época jogava pelo Grêmio, os atletas Eduardo, Fernando e Henrique foram considerados culpados.
Na metade da temporada daquele ano, o Grêmio decidiu fazer uma excursão pela Europa. Desta forma, Cuca e os outros três viajaram com o elenco. O Tricolor, então foi participar da Copa Philips, e se hospedou, então, no Hotel Metrópole, um dos principais de Berna, que, no dia 30 de julho de 1987, foi local do crime cometido pelos atletas.
Em reportagem especial, o portal “UOL Esportes” informou que, segundo jornais da época, a menina, que tinha apenas 13 anos e terá nome mantido em sigilo, entrou no hotel com dois amigos e foi até o quarto dos jogadores pedir uma camisa do clube gaúcho. De acordo com o jornal “O Globo”, em matéria de 1987, a vítima teria tirado a camisa que estava usando pois não conseguiu se comunicar para pedir e pediu para os homens que a acompanhavam saírem. Depois disso, então, Cuca e companheiros ofereceram bebida a garota e cometeram o crime de estupro.
Já a versão do jornal suíço “Bunk” aponta outro fato. De acordo com a mídia do país europeu, Cuca e os companheiros proibiram a entrada dos dois amigos, permitindo apenas o acesso da vítima. Depois disso, então, trancaram a porta e estupraram a jovem.
Dois dias depois, em primeiro de agosto, Cuca e os companheiros foram detidos e presos pela justiça da Suiça. Depois de um mês detidos, para prestarem depoimentos, eles então foram autorizados a retornarem ao Brasil até o fim das investigações. O que a justiça não contava, no entanto, é que, mesmo após a condenação em 1989, eles nunca retornariam ao país para cumprir a pena de 15 meses de prisão
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Repercussão do caso Cuca na época
Apelidado de “escândalo de Berna” na época, a notícia rapidamente se espalhou na mídia brasileira. Em um primeiro momento, inclusive, foram procuradas até mesmo fontes diplomáticas especialistas em relações exteriores pelo jornal “Folha de São Paulo”, por exemplo. No entanto, já nos primeiros relatos se mudou a idade da vítima. Apesar de ter 13 anos, muitos periódicos afirmavam que ela tinha “14 anos incompletos”.
Em uma das primeiras matérias, do jornal “O Globo”, o então vice de futebol do Grêmio, Raul Régis de Freitas Lima chegou a afirmar que tudo não passava de uma armação da polícia contra Cuca e os outros atletas.
Pouco depois, a revista Placar ainda fez uma edição especial em defesa aos atletas. Com falas de parentes e colegas de equipe, como Renato Gaúcho, Cuca e os outros jogadores são citados como homens de bom caráter e de família. Na edição seguinte, a 899, a revista retomou ao tema detalhando todo “sofrimento” que eles estavam tendo na prisão suíça.
Pouco menos de um mês depois do ocorrido, o jornal “O Globo” ainda divulgou uma matéria em tom machista, apontando a vítima como culpada. O periódico, apesar não ter nenhuma citação direta, afirmou que a jovem “aparentava ter bem mais que 13 anos”. De quebra, pouco depois o jornal “Zero Hora” ainda fez uma nova reportagem, com falas de supostos funcionários alegando que a menina deixou o hotel sorrindo e vestindo a camisa do clube.
Na volta do Grêmio para Porto Alegre, ainda sem os jogadores, no entanto, ainda haviam dúvidas sobre o que fazer. Depois de um jogo no interior, em que o time foi vaiado pela torcida por conta do ocorrido, dirigentes do clube consideraram demitir Cuca e os outros três jogadores. No entanto, o técnico Felipão era contra, assim como o presidente Paulo Odone que, em conversa com os jogadores, acertou que a única punição seria eles mesmo arcarem com os custos do processo.
Diante da cobertura da mídia e da falta de punição do clube, então, a opinião popular virou a favor de Cuca e dos outros jogadores na época. De acordo com uma reportagem da “TV Globo”, inclusive, de 20 entrevistados, apenas um afirmou que os jogadores deveriam ser punidos pelo estupro, enquanto os outros acreditavam na inocência.
Tudo isso, então, resultou em um “desembarque como heróis” de Cuca e dos outros jogadores do Grêmio. Conforme relatado pelo jornal “Zero Hora”, em 31 de agosto de 1987 eles desembarcaram em Porto Alegre com festa da torcida e gritos xingando a jovem estuprada. A partir de então eles seguiram suas vidas e, somente nesta semana, após uma entrevista do portal “UOL Esportes” com o advogado da vítima, o caso veio a tona para “comprovar ao público” a culpa do técnico, já determinada desde 1989 pela justiça da Suiça.