Em um dia histórico para o Atlético, em que a defesa do pênalti contra o Tijuana completa sete anos, o goleiro Victor, protagonista do lance, relembrou na tarde deste sábado, durante uma live do canal Esporte Interativo, a trajetória do Galo nas fases finais da Libertadores e o que sentiu durante o lance que mudou sua carreira e a história do time alvinegro.
“A primeira sensação acho que é de incredulidade né? Desespero. Você fala ‘não é possível né. Como que isso foi acontecer?’ Tanto que eu pego a bola, ponho ela em cima da cabeça. Não posso falar o que pensei na hora porque não é apropriado, mas é inevitável que o pior não venha a cabeça. Formou aquele tumulto junto ao árbitro contestando a marcação. Eu saio caminhando, vou para o centro do gol, faço uma oração, e falo com Deus ‘olha Deus, que seja feita a sua vontade, mas que o Senhor me dê sabedoria para poder enfrentar esse momento, que o Senhor me dê força e sabedoria para enfrentar esse momento’ e tento me manter sereno e esperando a definição do cobrador. Não tinha muitas informações, não sabia muito sobre os cobradores do Tijuana. Daí quando eu vejo o Riascos para fazer a cobrança eu já tenho na minha cabeça o canto que eu tentaria a defesa e a sequência todo mundo sabe”, contou o jogador.
Semifinal – News Old Boys
Tecnicamente falando o News foi a equipe mais difícil que a gente jogou, uma equipe muito bem treinada, que tinha excelente jogadores, que jogava, com características diferentes das equipes sul-americanas que tem jogos mais físicos, mais contato, mais pegado, o News era um time muito técnico, tocava muito bem a bola, conseguia envolver muito bem seus adversários, tanto que no jogo da ida a gente sofreu muito, acabou trazendo um resultado negativo. No jogo da volta a gente conseguiu fazer um gol com 3 minutos de jogo com o Bernard e nos deu uma confiança ainda maior para que nós buscássemos, mas o jogo continuou amarrado, a gente não conseguia criar até que teve o apagão no Independência.
Apagão
Na verdade eu pensei que aquilo pudesse nos prejudicar porque, de certa forma, ia esfriar o clima do jogo, ia tirar nosso ímpeto porque nós partiríamos para o tudo ou nada. Era 35 do segundo tempo se eu não me engano e aquilo, no momento, pareceu algo que poderia nos atrapalhar, mas foi o contrário porque a gente conversou, tentou articular algumas coisas, respirou também. Pode ser que fisicamente isso também tenha nos dado um gás a mais. Antes de voltar a luzes o árbitro veio me consultar, perguntou se poderia reiniciar o jogo daquele jeito e eu falei que não, porque se acontecesse algum gol, algum erro por causa da iluminação, com certeza recairia sobre mim e não sobre a decisão do árbitro então eu pedi para que não recomeçasse o jogo e ganhamos mais uns minutos ali e tivemos a felicidade na sequência do Guilherme pegar um chute ali de extrema dificuldade, com um tanto de gente na frente, mas a gente sabia da capacidade ele e foi um jogador fundamental na partida.
“Eu acredito”
Esse canto da torcida parece algo simples, algo que a princípio não gera nenhum tipo de reação, mas tem uma energia absurda. Esse “eu acredito” vindo das arquibancadas foi algo que nos fez pensar “se a torcida tá ali gritando ‘eu acredito’, nós não temos direito de desistir” e acho que foi uma coisa que ficou enraizada naquela equipe, ela se negava a perder um jogo, nunca se entregava. Então junto com esse espírito da equipe e esse mantra vindo da arquibancada criava aquela sinergia que nos tornava praticamente imbatíveis dentro do Independência.
Pênaltis
Naquela reunião pré-cobrança eu falei com o pessoal ‘capricha, concentra pra fazer gol porque duas bolas não vão entrar e a gente vai sair classificado’. Só que aí a gente fez a primeira cobrança, na sequência eles empataram, aí na sequencia o Jô perdeu o primeiro, aí o jogador argentino chutou pra fora também, aí depois o Richarlyson chutou quase lá no pau da bandeira, aí eu pensei ‘não é possível, é pra gente sair’. Na sequência o jogador do time argentino, se eu não me engano era até um peruano, acabou chutando e a bola resvalou na trave e a gente se manteve vivo. Aí na última cobrança, eu tinha estudado bastante os cobradores do News, visto que eles tinham vindo de uma cobrança de pênalti contra o Boca Juniors e tinham batido umas 20 cobranças, o Maxi tinha chegado a bater duas, eu analisei a corrida, a forma que ele fez em cada cobrança na fase anterior da forma que ele correu, me deu indicativos de que poderia bater no canto esquerdo, eu esperei o máximo possível e consegui fazer a defesa.
Final – Olímpia
O fato da gente sair do Independência para ir jogar no Mineirão nos causou um certo desconforto, até porque nós não estávamos habituados a jogar no Mineirão, isso fez com que a gente perdesse um pouco nossa referência. Mas eu não me lembro de um massacre tão grande em um jogo decisivo como foi esse jogo contra o Olimpia. Nós colocamos 50 bolas na área do adversário, foram duas ou três bolas na trave. Segundo tempo eu praticamente não trabalhei, fiz duas defesas no primeiro tempo, mas também não foram de grande grau de dificuldade, mas foram importantes.
Escorregão
Em cada fase eliminatória a partir do Tijuana teve uma situação que a gente pode observar que as coisas estavam ao nosso favor. Primeiro o pênalti defendido, depois o gol do Guilherme e na final esse escorregão do Ferreyra. Principalmente esse escorregão, são coisas que você não consegue explicar, não tem lógica. Ele estava totalmente equilibrado, em pé, ele só quis trazer a bola para a perna boa, para chutar para o gol. O Mineirão tem um gramado excelente, recém-reformado, estava em excelentes condições. São caprichos do futebol, também sorte de campeão, aquela sorte que todo campeão precisa ter.
Pênaltis
Diferente do News eu não tinha muitas informações dos batedores do Olimpia, só o Miranda tinha feito uma cobrança na semifinal contra o Santa Fé. Conversando com Chiquinho que era meu preparador ele falou ‘se o Miranda for bater, você dá um salto, ameaça que vai sair pro canto e para. Ele vai bater no meio que é a segurança dele’. Aquilo foi algo que nós tínhamos combinado ele tinha feito da mesma forma na semifinal e eu decidi arriscar, dei aquela adiantadinha. Os demais eu fui no feeling, nas técnicas que a gente tem de tentar buscar a defesa.
Último pênalti
Quando o Leo (Silva) converteu o último pênalti ele veio me abraçar, foi dar aquele incentivo e eu falei “ Leo, pode avisar os caras, pode sair para comemorar que essa bola não vai entrar” e ele deu risada. Na hora que o Giménez bate e a bola explode na trave a única preocupação que eu tive foi correr em direção aos meus companheiros. Você fica sem saber o que fazer. Você vê todo mundo correndo na sua direção, a galera vem correndo e é aquela explosão de alegria. Foi inexplicável, surreal aquela sensação. No futebol a maior emoção da minha vida, não tem nada para descrever. Não existem palavras para descrever aquela emoção porque são poucos jogadores que tem esse privilégio.