Olimpíadas

A rota de sucesso da Ginástica Artística Brasileira

Foto: Ricardo Bufolin/CBG

O Brasil se consagra o país da Ginástica Artística nos Jogos Olímpicos Paris 2024, mas a trajetória de suor e sucesso vem desde a década de 80. Conheça mais sobre o caminho percorrido até aqui.

O Brasil se consagra o país da Ginástica Artística nos Jogos Olímpicos Paris 2024, mas a trajetória de suor e sucesso vem desde a década de 80. Conheça mais sobre o caminho percorrido até aqui.

A seleção brasileira de Ginástica Artística fez história nos Jogos Olímpicos Paris 2024. Na primeira final, as atletas garantiram uma medalha inédita na disputa por equipes. Nas individuais, Rebeca Andrade, Flávia Saraiva e Julia Soares brilharam, destacando ainda mais a ginástica brasileira no cenário internacional. Mas o que veio antes desta geração de ginastas?

O Portal Esporte News Mundo convidou Altair Maria Rodrigues Prado, membro do Comitê Técnico Feminino da Confederação Brasileira de Ginástica e árbitra internacional, para contar um pouco desses 40 anos de evolução. Altair foi atleta da seleção brasileira durante 10 anos, na década de 1980. Após se lesionar, passou a atuar nos bastidores, destacando sua participação no Clube de Regatas do Flamengo e como técnica da atleta Flávia Saraiva antes da seleção brasileira.

Ginástica artística brasileira é tradição

A prática da ginástica no Brasil tem raízes que datam da primeira metade do século 19. Foi com a imigração alemã que o esporte começou a se desenvolver, especialmente na região Sul do país. Em 1858, a cidade de Joinville (SC) viu a fundação da primeira sociedade de ginástica do país.

A primeira representação brasileira em competições internacionais de ginástica aconteceu em 1951, nos Jogos Pan-Americanos em Buenos Aires. Três anos depois, o Brasil participou do seu primeiro campeonato mundial, em Roma.

Mas a ginástica do Brasil começou a ganhar destaque no cenário mundial em 1978, quando o país enviou uma equipe feminina ao Campeonato Mundial de Estrasburgo pela primeira vez. Lilian Carrascoza foi a atleta de maior destaque, impressionando com seu desempenho.

No Pan de 1979, realizado em San Juan, Porto Rico, Lilian Carrascoza e a equipe feminina do Brasil eram grandes esperanças de medalhas. No entanto, apesar das expectativas, a equipe não conseguiu subir ao pódio, perdendo o bronze para o México. Ainda assim, a equipe masculina conseguiu conquistar a medalha de bronze.

Após o Pan, o coronel Hugo Roquete, um militar da reserva e professor do Colégio Impacto no Rio de Janeiro, propôs o projeto Medalha de Ouro à treinadora Berenice Arruda. Contudo, foi somente em 1980, na Olimpíada de Moscou, que a delegação brasileira de ginástica artística marcou presença nos Jogos Olímpicos, com João Luiz Ribeiro e Cláudia Costa competindo em todos os aparelhos. Naquela ocasião, apesar de não terem obtido resultados expressivos, abriram caminho para futuras gerações.

A medalha feminina veio três anos depois, nos Jogos Pan-Americanos de Caracas, onde a equipe ganhou bronze. Segundo a ex-ginasta e medalhista Altair Prado, esse pódio foi imprescindível para o reconhecimento do esporte no Brasil.

Equipe brasileira no pódio do Pan-Americano de 1983 — Foto: Arquivo pessoal/Altair Prado

“Nós passamos a ter no Brasil, nos anos 80, intercâmbios com treinadores de fora, porque nos espelhávamos no que era feito no exterior, mas não tínhamos o conhecimento técnico. E isso foi muito importante para os nossos treinadores na época”, contou Altair.

A aparelhagem foi outro ponto crítico. Os equipamentos eram mais duros e, muitas vezes, improvisados, o que aumentava a chance de lesões nos atletas. “Na década de 90, os clubes passaram a ter uma estrutura maior”, explica.

A Era de Ouro: anos 2000 e o surgimento de ícones

A virada do milênio trouxe uma revolução para a ginástica brasileira. Daiane dos Santos é, sem dúvida, a estrela maior dessa geração. Com uma apresentação inesquecível ao som de “Brasileirinho”, Daiane conquistou a medalha de ouro no Mundial de Anaheim, nos EUA, em 2003. Seus movimentos inovadores, conhecidos como “Dos Santos 1” e “Dos Santos 2”, deixaram uma marca permanente no esporte.

Ginástica Artística - Daiane dos Santos
Daiane dos Santos. Foto: Daniel Ramalho/COB

Os irmãos Hypolito também brilharam nas competições internacionais. Daniele Hypolito fez história ao conquistar a primeira medalha em mundiais para o Brasil, uma prata em 2001. Seu irmão, Diego Hypolito, tornou-se um dos maiores medalhistas brasileiros em mundiais, acumulando cinco medalhas ao longo de sua carreira.

“Essas gerações que vieram depois da nossa conseguiram uma estrutura melhor e um apoio maior, inclusive o apoio financeiro”, conta Altair.

Os investimentos na ginástica

Conforme o Brasil foi conquistando medalhas e fazendo apresentações brilhantes como ginastas individuais, o Comitê Olímpico Brasileiro proporcionou uma estrutura muito melhor para a seleção brasileira de alto rendimento. “Hoje em dia, o Time Brasil tem uma equipe multidisciplinar de médicos, psicólogos, fisioterapeutas, comissão técnica e de árbitros; além dos estudos e pesquisas para embasar o desenvolvimento das atletas”, explica Prado, que é membro do Comitê Técnico Feminino da Confederação Brasileira de Ginástica.

“Na nossa época, era impensável essa estrutura gigante de trabalho científico, junto com o trabalho técnico”, conta Altair.

Através dos apoios de patrocinadores e do Governo Federal, por meio do Bolsa Atleta, as ginastas podem se tornar atletas profissionais, já que possuem suporte para continuarem estudando e se especializando na área. “Esse apoio financeiro garante uma longevidade ao atleta. Um exemplo disso é a Jade, com 33 anos, uma atleta profissional com formação acadêmica”, expõe a árbitra.

Novos talentos e conquistas recentes

A trajetória de sucesso continuou com ginastas como Jade Barbosa, Arthur Zanetti e Arthur Nory, que solidificaram a presença do Brasil no cenário mundial. Arthur Zanetti, em particular, destacou-se como o primeiro brasileiro a ganhar uma medalha de ouro olímpica na ginástica, nos Jogos de Londres, em 2012.

Rebeca Andrade, no entanto, desponta como a maior ginasta brasileira de todos os tempos. Com um impressionante número de conquistas em torneios internacionais, Rebeca fez história ao se tornar a 11ª ginasta na história e a terceira neste século a obter medalhas no mundial em todos os aparelhos.

“Após os Jogos Olímpicos de Tóquio, formaram-se filas de pais querendo matricular suas filhas na ginástica, porque elas queriam ser Rebecas, Jades e Daianes da vida”, relembra Prado.

Foto: Reprodução The Olympic Games - X: @Olympics
Foto: Reprodução The Olympic Games – X: @Olympics

Seu desempenho na Antuérpia, em 2023, consolidou sua posição como uma das melhores ginastas do mundo e, em Paris 2024, Rebeca se tornou a maior atleta da história do Brasil, ao ganhar quatro medalhas.

O futuro da Ginástica Artística no Brasil

Atualmente, a Confederação Brasileira de Ginástica possui uma parceria com a Caixa Econômica Federal que busca novas atletas em todo o Brasil. O projeto Centro de Excelência Caixa – Jovem Promessa de Ginástica oferece a prática gratuita da ginástica artística para crianças, adolescentes e adultos, atuando na formação de cidadãos, inclusão social e na detecção de novos talentos para a ginástica.

“Hoje em dia, nós temos três times de ginastas e fazemos peneiras, porque as atletas que estão hoje vão parar um dia e nós queremos dar continuidade a esse trabalho”, conta Prado.

O crescimento da ginástica artística no Brasil reflete uma trajetória de superação, talento e dedicação. As conquistas alcançadas por esses atletas inspiram novas gerações e fortalecem a presença do Brasil no cenário internacional do esporte. Com um legado de 25 medalhas em mundiais, o país continua a cultivar talentos que prometem levar a ginástica brasileira a novos patamares de excelência e reconhecimento global.

“A ginástica virou uma paixão nacional. Como é bonito ver a Rebeca ganhando medalha de ouro. É muito bonito quando elas falam, porque é uma medalha de muitas gerações e muitas mãos, e os treinadores reconhecem isso. É uma entrega muito grande do atleta, então, para as futuras gerações, eu só aconselho se entregarem, porque é dolorido, mas a recompensa vem com a satisfação de você representar o seu país. As futuras gerações têm que ter essa vontade, se inspirar no sangue nos olhos – no caso da Flávia Saraiva, literalmente, com aquele olho roxo – que essas meninas tiveram agora. Dedicação, brilho no olhar, respeito a toda equipe e humildade. Porque a minha geração abriu caminho para essa brasilidade que temos hoje”, aconselha a medalhista.

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