Considerada a família mais influente da Itália desde a queda do clã Mussolini em 1945, os Agnelli construíram uma marca que se estende do automobilismo ao esporte e levou o rosto da cidade de Turim para cada canto do país. A principal jóia da coroa da família batizada de ‘Kennedys‘ é o clube da cidade capital de Piemonte, Juventus.
Mas, ainda com um verdadeiro império capitaneado por marcas poderosas como a Fiat, Iveco e Jeep, além das lendárias Alpha Romeo e Ferrari, os Agnelli seguem patinando na tentativa de recuperar a glória da Juventus, que hoje amarga a quarta posição, sendo bem gentil com a ‘zebra’ entre os principais times italianos.
Engana-se quem pensa que os Agnelli investem seu tempo e dinheiro apenas em futebol e carros, registro importante da paixão italiana por esporte. Em 2015, a família adquiriu cerca de 50% da ‘The Economist’ e no mesmo ano finalizou a compra do maior jornal de circulação no país, o ‘Corrieri della Sera’, sendo que já controlavam o segundo maior conglormerado da imprensa italiana, o ‘La Stampa’.
A ramificação da família se estende em outros nomes. Os Agnelli também são Rattazzi, Furstenberg, Brandolini D”Adda, Campello, Hohenlohe, Camerana, Nasi ou Elkann. Todos os nomes estampados em matérias de negócios, investimentos, política mas também com uma vaga cativa em escândalos e sensacionalismo barato.
Não a toa é chamada de ‘filial europeia dos Kennedys’. Em uma rasa homenagem a família Kennedy dos Estados Unidos, que também goza de tamanha influência e prestígio na sociedade política norte-americana e nas manchetes de escândalos.
Luigi Fonseca, correspondente brasileiro freelancer e que vive em Bérgamo, na Itália, afirma que “A influência dos Agnelli no país é maior do que qualquer outra família no país. Eles são considerados uma instituição do país, devido a tamanha importância”. Não diferente disso, qualquer decisão econômica tomada em terras italianas precisa do aval de um Agnelli.
“É bizarro” afirma ele, “isso faz deles uma quase ‘família real’ daqui. Mas, acho que nem mesmo os netos da Rainha da Inglaterra possuem tanta relevância lá (no Reino Unido)”, concluiu. O braço político dos Agnelli utiliza a Juventus como trampolim para os seus objetivos, inúmeros primos dos atuais donos dos Bianconeri se elegeram para algum cargo público usando o brasão da família.
O grande capitão da nau juventina é Andrea Agnelli, filho do senador Umberto Agnelli, e que comandou o clube da cidade de Turim a sua maneira. Salvador da pátria em 2006, quando a equipe foi rebaixada para a segunda divisão do futebol profissional após um escândalo de manipulação de resultados, hoje ele é o principal arquiteto do fracasso bianconeri na Europa.
O tino para os negócios o colocou a frente do grupo Fiat, bastão que passou para o primo John Elkann após se dedicar exclusivamente ao clube. Desde 2006, acumulou sete títulos italianos, duas finais europeias (ambas perdidas) além de inaugurar o magnânimo Juventus Stadium. Hoje, este prestígio está mais no passado do que em planos para o futuro.
O Fracasso com Cristiano Ronaldo e a derrocada
No momento da glória, onde conquistava tudo que alcançava, a Juventus almejava rechear seu elenco com peças do primeiro nível europeu e para isso dependia do sucesso em campo. Andrea teve a brilhante ideia de tirar do papel o Juventus Stadium, ao substituir o lendário Delle Alpi, por uma arena moderna com mais capacidade e uma exploração comercial muito maior.
O projeto saiu do papel, mas custou a Juventus os nome estrelados que tanto sonhava. A família não se importava em gastar apenas 20 milhões de euros em contratações por temporada, um valor considerado muito abaixo dos padrões das grandes equipes, para ter seu estádio em tempo recorde.
Quis o destino que os principais rivais, Milan, Internazionale, Roma e Napoli patinassem nas finanças. A hegemonia bianconeri ficou mais forte pela consistência do trabalho de Antonio Conte, e posteriormente de Massimiliano Allegri. Após o fracasso na segunda final de Champions League em três anos, Agnelli apostou em trazer Cristiano Ronaldo para a Itália.
O investimento de 117 milhões de euros no português e que ocasionou uma mega greve nas fábricas da FIAT por dois dias seguidos, resultou apenas na manutenção da hegemonia na Itália e deixou a Juventus longe do objetivo de conquistar a Europa após mais de 20 anos na fila. A montagem do elenco nas duas temporadas estreladas pelo ex-Real Madrid foram desastrosas, obras diretas da ambição e da falta de conhecimento de futebol de Andrea Agnelli.
O fracasso na aposta em Cristiano Ronaldo fizeram os acionistas do próprio grupo questionarem a escolha de Agnelli para comandar a Juventus. John Elkann, presidente do conglomerado FIAT precisou sair em defesa do primo para amenizar a situação. “Acho que ter a família por perto é bom porque não são acionistas fáceis. A maior parte da sua fortuna e da reputação está ligada aos negócios familiares e isso aumenta o grau de responsabilidade e de compromisso. Os investidores institucionais são um maior desafio no curto prazo”, declarou ele na ocasião.
O mártir que ninguém quer por perto
A saída de Cristiano Ronaldo da Juventus para o Manchester United sem sequer uma tentativa bianconeri de convencê-lo a ficar foi o maior recibo de incompetência que poderia se esperar de um CEO perdido. Sob enorme pressão, e precisando de respostas, Agnelli apelou para a velha tática europeia: O apoio de Ídolos do passado.
Pavel Nedved, um dos jogadores mais emblemáticos da Juventus se tornou o vice-presidente oficial do clube após uma manobra política que deixaria os parlamentares de Brasília impressionados. Agnelli não so amenizou a situação com os acionistas como também deu uma resposta direta aos torcedores: Agora o futebol é com o tcheco.
Nedved apostou no retorno de Massimiliano Allegri para o comando técnico da equipe após as passagens de Andrea Pirlo e Maurizio Sarri. Encaminhava-se uma tímida recuperação, mas por mais de uma vez, a montagem do elenco passando pelas estratégias de Andrea Agnelli em apostar em jogadores desconhecidos e jovens condenaram a Juventus a mais fracassos, dessa vez no seu próprio quintal, a Itália.
Após ver sua hegemonia ser quebrada pelo Milan, e o ressurgimento de equipes como Internazionale, Napoli e Roma, além do aparecimento de uma Atalanta surpreendente e de uma Lazio recuperada com o contestado Sarri no comando, a ‘dupla dinâmica‘ Nedved-Agnelli percebeu que a falta de profissionalismo lhe custou muito dinheiro nas temporadas sem sucesso.
José De La Riva, comentarista esportivo da Peru21, afirma que “Não há na história do futebol, uma gestão mais desastrosa do que a da famílIa Agnelli na Juventus”. Para o jornalista, o escândalo mais recente, na qual a Juve está sendo investigada por uma série de irregularidades na contratação de jogadores durante a Pandemia de Covid-19, “É o inicio de uma movimentação que vai tirar a Juventus do controle da família”.
“Dificilmente, eles vão olhar para Juventus e vão querer recuperá-la. Berlusconi fez exatamente a mesma coisa no Milan. Quando a corda apertou, ele saiu”. completou José. Em Janeiro, a Juventus foi punida com a perda de 15 pontos no Campeonato Italiano e a suspensão de inúmeros dirigentes, entre eles Andrea Agnelli.
O clube havia sido absolvido em abril de 2022 do processo de corrupção, em meio as revelações de que enfrentava uma das suas piores crises financeiras mas promotores, esses da Justiça Comum da Itália, encontraram fortes indícios de contabilidade falsa, faturas inexistentes de transferências e manipulação de mercado e reabriram o caso. Atualmente, há 42 processos criminais abertos contra o clube e pessoas ligadas a ele.
Estima-se que a Juventus desviou cerca de € 155 milhões entre 2018 e 2021, envolvendo a contratação de jogadores, entre eles o brasileiro Arthur e Cristiano Ronaldo. A Juve saberá o seu destino no próximo dia 19 de abril, onde terá seu recurso de apelação julgado. Em meio a essa turbulência, o capitão Andrea Agnelli anunciou sua saída do clube juntamente com toda a diretoria no final de 2022 e assumiu o status de mártir que ninguém quer por perto.
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