O Bahia, enfim, voltou a triunfar em seus domínios após vencer, tranquilamente, a equipe do Vasco na noite da última quarta-feira (7), no Estádio de Pituaçu, em Salvador. O técnico Mano Menezes vinha elogiando a equipe nos últimos jogos mas os resultados não apareciam. Contra o Vasco, a estratégia do Bahia funcionou, e aproveitando-se das falhas e limitações do time carioca, o Esquadrão conseguiu triunfar – e convencendo.
O Esporte News Mundo separou uma análise tática para explicar alguns pontos do time do Bahia que resultaram na vitória contundente da equipe de Mano Menezes.
Solidez defensiva
O setor defensivo era um problema sério da equipe do Bahia. Até o jogo contra o Vasco, o time havia sofrido 22 gols, sendo, ao lado do Goiás, a equipe que mais gols sofreu no campeonato. Visando diminuir a ocorrência de gols sofridos, Mano Menezes buscou equilibrar o sistema defensivo. Contra o Vasco, não contou com Nino Paraíba, que foi vetado para o jogo após sentir um desconforto muscular na coxa, então, o técnico improvisou o zagueiro Ernando na lateral direita.
Segundo Mano, na entrevista coletiva após o jogo, a escolha por Ernando – haja visto que ele também tinha Edson para aquele setor – se deve a dar estatura à defesa, evitando gols em bolas aéreas e evitar que a equipe tome gols, como vinha acontecendo nos últimos 12 jogos, em que a defesa do Bahia sempre fora vazada.
Analiticamente, pôde-se perceber alguns comportamentos da defesa que se traduziram em solidez defensiva em determinados momentos do jogo. O Bahia era volátil quanto ao estilo de marcação, impunha um estilo de marcação por zona pressionante, que ocorre enquanto o atleta adversário está com a posse da bola, e a equipe (Bahia) fecha os espaços e outros companheiros diminuem as possíveis linhas de passe, resultando em um adversário encurralado e sem condições de progredir. Foi o que aconteceu algumas vezes na partida e, no exemplo abaixo, o Talles Magno se encontra pressionado por quatro defensores e acaba perdendo a posse da bola.
Outra característica de marcação do time foi a variação para a marcação individual (homem x homem). O Vasco tentava progredir mas não encontrava jogadores livres para evoluir verticalmente e tinha que rodar a bola entre o meio e a defesa. Isso resultou em um Vasco com maior posse de bola, porém, uma posse ineficaz, haja visto que não oferecia risco algum para o setor defensivo do Bahia, que fechava todos os espaços de criação do time carioca.
Mas isso não quer dizer que o Vasco não conseguiu chegar ao gol adversário. Em determinados momentos, o Bahia se compactava no meio campo e oferecia os corredores laterais para a evolução do time do Vasco, mas o time carioca limitava-se nas próprias convicções e encontrava dificuldade em avançar pelo setor. O Bahia oferecia os espaços nas laterais, mas o bloco logo flutuava e fechava os espaços de possibilidades ofensivas, o que traduzia em recuos de bola e inversão de jogo do time do Vasco.
Além dos triunfos de marcação, o Bahia foi fiel ao esquema e seguiu a ideia do Mano Menezes em equilibrar o sistema defensivo. O Bahia começou o jogo postado numa formação em 4-3-3 e manteve essa formação nos momentos chaves da partida, nas transições ofensivas e defensivas. Essa compactação das linhas ofereceu dificuldades ao Vasco, que não buscou repertório para furar as linhas posicionadas do Bahia e optou por alternativas em bolas longas ou inversões, sem sucesso.
Meio campo envolvente
O meio campo do Bahia foi fundamental na vitória contra o Vasco. O triângulo do meio foi fundamental para a dinâmica do jogo. Elias, Gregore e Daniel mantiveram uma rotação constante no meio e o setor de criação vez ou outra ficava a cargo de um desses jogadores.
As jogadas criativas começavam com os zagueiros e um dos três jogadores verticalizavam o lance, como pode ser visto na imagem abaixo, em dois momentos separados da partida. Assim que a bola passava pelos pés dos meias, os jogadores abriam o jogo – amplitude – e, grande parte das jogadas do Bahia, foram construídas pelas laterais do campo, principalmente com Clayson, pela esquerda, e Rossi/Ernando pela direita.
Saída de bola com Elias (Foto: Reprodução/Premiere/Kinovea) Saída de bola com Gregore (Foto: Reprodução/Premiere/Kinovea)
Construção ofensiva
O setor ofensivo do Bahia teve uma noite inspirada em Pituaçu. Muito por conta do estilo de jogo do Vasco. Como citado no tópico anterior, o dinamismo que o triângulo do meio campo oferecia, verticalizava o ataque, e as jogadas ofensivas eram ampliadas para as laterais. Os lances mais ofensivos do Bahia tinham origem a partir dos espaços dados pelo Vasco, que davam oportunidade para os jogadores do Esquadrão vislumbrarem possibilidades de ataque e utilizar a velocidade como arma por aquele setor.
Um exemplo disso é a chance clara de gol perdida por Juninho. No início do lance, Rossi parte em velocidade pela lateral esquerda, a defesa do Vasco está desmontada, na imagem pode-se perceber três jogadores vascaínos em linha vertical atrás da linha da bola e visando só e somente a bola, enquanto Juninho escapa pela meia-direita, ficando de frente para Fernando Miguel, com o gol aberto, recebe o passe e isola. Naquele momento, seria o terceiro gol do Bahia, mas lances de contra-ataques rápidos foram usualmente utilizados pela equipe baiana, que encontrava uma defesa vascaína desmontada.
Além das escapadas rápidas pelos flancos, o Bahia avançou sua linha de marcação, o chamado bloco alto, e pressionou a saída de bola do Vasco. Fernando Miguel, goleiro vascaíno, costumeiramente começava a saída de bola com os zagueiros, começando o jogo quase rente à linha de fundo, e o Bahia deslocava seus jogadores de ataque para pressionarem essa saída e forçar o erro do adversário, em diversos momentos utilizando marcação por pressão individual. Outra característica foi a ocupação territorial do Bahia, que levava uma quantidade considerável de jogadores ao ataque, encurralando a saída de bola do Vasco e evitando a construção ofensiva do adversário.
A bola não entra por acaso
O Bahia resolveu alguns problemas com a vitória sobre o Vasco. A começar pelo afastamento da zona de rebaixamento, passando pela vitória em casa após 52 dias e marcou mais de três gols em uma partida, sem ter sofrido um gol, após 238 dias, quando venceu o Nacional-PAR, por 3 a 0, pela Copa Sul-Americana, em 12 de fevereiro.
Mas, em Pituaçu, o ataque voltou a brilhar. O primeiro gol surgiu após insistência em jogadas pelas laterais, como explicado em tópicos anteriores e que fluía por aquele setor. Clayson recebeu a bola e Yago Pikachu fazia a cobertura mas dava espaço para o atacante do Bahia progredir, além da cobertura do Ricardo Graça e Felipe Bastos estar afastada do lance, apenas observando os desdobramentos. Clayson puxou para o pé bom – destro, que jogava na esquerda, o famoso “pé trocado” -, e percebeu a movimentação do Rossi em direção ao gol, cruzou a bola em direção à pequena área e o Rossi teve apenas o trabalho de desviar para o gol, abrindo o placar em Pituaçu.
O segundo gol se origina também pela lateral do campo, só que, analogamente ao primeiro gol, o lance do segundo acontece na lateral direita. Improvisado na lateral direita, Ernando passou em velocidade por três jogadores vascaínos, levou a bola para a linha de fundo, enquanto a linha defensiva de quatro jogadores do Vasco acompanhava, em linha reta, a evolução do lateral direito do Bahia, com isso, deixando um espaço considerável entre a linha defensiva e a segunda linha, de meio campo, que estava posicionada horizontalmente na lateral do campo (como pode ser visto na imagem 1), e Gilberto percebeu o espaço que tinha.
Assim que Ernando chegou à linha de fundo e cruzou a bola para trás, a linha defensiva do Vasco parou, a segunda linha do Vasco, de meio campo, estava distante, e Gilberto, livre na entrada da grande área, recebeu e só teve o trabalho de chutar alto e forte para o gol, sem chances de defesa para Fernando Miguel, ampliando o placar em Pituaçu para 2 a 0.
A jogada do terceiro gol evidencia a desatenção e desarranjo do time do Vasco e inteligência dos meio-campistas do Bahia. Gilberto recebe a bola marcado por dois jogadores do Vasco, percebendo a pressão, já toca de primeira para Gregore que estava à sua frente, próximo à linha intermediária do gramado.
Gregore, inteligentemente, percebe o espaço deixado no meio do campo, já que os jogadores do Vasco flutuaram quase todo seu bloco para o encontro da bola, e tocou de primeira para ligar ao Elias que já posicionava o corpo para correr em direção ao gol do Vasco – numa jogada muito parecida ao gol do próprio Elias, quando atuava pelo Corinthians em 2015, quando recebeu passe de Jadson e chutou de primeira para marcar o primeiro gol contra o São Paulo, na Libertadores daquele ano -, porém a bola foi um pouco alta, dando tempo para Yago Pikachu cortar a bola para trás.
Contudo, sem cobertura de jogadores vascaínos, que tinham flutuado seu bloco de jogadores para o lado inverso do campo, a bola rebatida por Pikachu sobrou limpa para Clayson, que recebeu e chutou forte para ampliar o placar em Salvador, e dar números finais ao confronto, 3 a 0 para o Bahia e reabilitação no Campeonato Brasileiro.
O Bahia volta a campo no próximo domingo (11), quando joga contra o Fluminense, no Maracanã, pela 15ª rodada do Campeonato Brasileiro. O Esquadrão é o 12º colocado na tabela.