Em 2019, quando ainda era da base do Vasco, o zagueiro Miranda já teve que lidar com um triste episódio na sua carreira. Em uma partida válida pela Copa RS Sub-20, o garoto foi ofendido por um jogador do Independiente, da Argentina. Mas ele não baixou a cabeça. No lance decisivo da partida, Miranda converteu o pênalti que deu a vitória ao Gigante da Colina e desabafou na frente das câmeras:
– Macaco não, eu tenho orgulho da minha pele.
Um ano se passou e as discussões em torno do racismo e como combate-lo estão cada vez mais em alta, principalmente no mundo do esporte. Em 2020, após o assassinato de George Floyd, nos Estados Unidos, uma onda de protestos se espalhou pelo país norte-americano e pelo mundo. E muitos esportistas se engajaram ainda mais na causa. Partidas da NBA chegaram a ser adiadas devido à boicote dos jogadores.
O Esporte News Mundo conversou com Miranda, que disse ter Lebron James, do Los Angeles Lakers, e Lewis Hamilton, da Mercedes, dois dos principais esportistas do mundo e dos mais ativos na luta contra o racismo, como referência.
– A NBA e na F1 são dois dos principais esportes do mundo e todos os protestos são válidos. Hamilton e Lebron são ídolos e grandes referências. Fico muito feliz deles serem um dos líderes contra o racismo. No futebol também tem suas manifestações de grandes jogadores, não acho que tenha medo (dos jogadores se posicionarem), temos sim que manifestar mais. Não queremos benefícios, queremos igualdade – afirmou Miranda ao ENM.
Caso de 2019
O zagueiro de 20 anos relembrou o episódio da partida contra o Independiente, no último ano. Na ocasião, Miranda chegou a fazer um boletim de ocorrência para registrar o crime, mas com o time argentino foi eliminado, voltaram Buenos Aires logo após a partida.
– Eu senti como se eu tivesse levado um golpe, sentir muita dor. Mas em nenhum momento chegou a me desestabilizar no jogo, consegui converter o pênalti – disse Miranda, antes de completar sobre o apoio que recebeu após o episódio:
– Logo depois do jogo eu eu fui à delegacia e me explicaram como funcionaria tudo. Eu entendi e resolvi prestar queixa. Todos me deram total apoio, o Vasco, os árbitros e os delegados.
Este, infelizmente, não foi o primeiro episódio do tipo que Miranda passou na sua vida. Ele lembrou de outros casos e mandou um recado.
– Já fui seguido no shopping, tratado mal em estabelecimento, Acho que as pessoas tem que entender que cor não é diferença para termos um tratamento inferior.
Ensinamento dos pais e história do Vasco
Miranda nunca deixou de se manisfestar pelas causas em que acredita. Nesta sexta-feira, 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, não foi diferente. O jogador comentou, no Twitter, sobre o assassinato de João Alberto, homem negro covardemente espancado por seguranças do Carrefour, na última quinta-feira, em Porto Alegre.
– Isso é inadmissível e ainda jogaram uma nota de esclarecimento como se fosse justificar tal ato. ABSURDO – publicou Miranda.
Segundo o zagueiro, essa luta por justiça começou desde cedo e teve influência dos seus pais.
– Desde pequeno (se posiciona sobre questões sociais) quando meus pais me ensinavam a me posicionar sobre tudo, sobre o que é certo e o que é errado – disse Miranda.
No time profissional do Vasco desde o começo de 2020, Miranda já tem 22 jogos com a camisa vascaína. E ele falou sobre a emoção de poder jogar por um clube que tem a luta contra o racismo como um dos símbolos da sua história.
– É uma honra ser jogador do Vasco e participar dessa história. Eu sou muito grato ao Vasco. Um clube que me acolheu quando eu tinha 6 anos e estou até hoje, agradeço muito a todos que me apoiaram para estar aqui hoje. O Vasco me tornou homem e atleta e serei eternamente grato por isso – finalizou Miranda.