Futebol

Árbitra sofre ataques machistas em jogo do America RJ: ‘Não serve nem pra segurar uma bandeirinha, só pra segurar outra coisa’

Publicado em

(VINICIUS LIMA/AMERICA RJ)
— Continua depois da publicidade —

Durante partida entre America RJ e Audax Rio, válida pelo primeiro jogo da final do Campeonato Carioca-Série A2 Sub-20, a árbitra assistente Paola Rodrigues José passou por uma situação desconfortável ao longo da partida. De acordo com fontes presentes ao local, a bandeirinha, após cometer um erro, foi xingada – em tom misógino – por torcedores do Audax. Gritos de “piranha”, “vagabunda”, “vai lavar uma louça”, “não serve nem pra segurar uma bandeirinha, só pra segurar outra coisa” e “é uma Maria xereca”, entre outros, puderam ser ouvidos pelos presentes. A partida aconteceu no último sábado (20), em Mesquita, no Rio de Janeiro.

Polícia Militar foi acionada para conter os homens nas arquibancadas (Vinicius Lima/America RJ)

Os insultos começaram desde os primeiros minutos de jogo, de acordo com testemunhas, principalmente após o primeiro gol do America RJ, oriundo de uma marcação de escanteio assinalada de forma errada por Paola Rodrigues. Como mostra o vídeo abaixo, a bola toca por último no jogador americano, mas a bandeirinha indicou escanteio para os donos da casa, aos 10 minutos do primeiro tempo. Este foi o estopim para que os torcedores presentes pelo Audax Rio partissem para ataques misóginos.

Siga o Esporte News Mundo no TwitterInstagram e Facebook

Publicidade
https://controle.esportenewsmundo.com.br/wp-content/uploads/2021/08/editado-lance.mp4
Jogador do America RJ toca por último, mas escanteio é dado (Reprodução/America RJ)

O Audax Rio nega que as ofensas tenham sido direcionadas à bandeirinha e ressalta que “se houve algum excesso por parte de alguém, fica o pedido oficial de desculpas e o máximo respeito pela bandeirinha e a todos da profissão, mas a situação inteira de estresse foi causada pelo America”. O jogo foi realizado no estádio Giulite Coutinho – casa do America RJ – em Mesquita, no Rio de Janeiro.

+ Presidente do TRT-1 não conhece liminar contra o Reef do Vasco, mas dá 60 dias para clube apresentar plano e decidir se aceita nova centralização por nova lei de clube-empresa

Presentes relataram que a situação foi tão intensa que torcedores nas arquibancadas tentaram conter os outros que praticavam as ofensas. Houve até um princípio de confusão. A partida foi paralisada aos 37 minutos do primeiro tempo, e os torcedores foram convidados a se retirar do local: alguns saíram, outros ficaram. Agentes de segurança da Polícia Militar foram até as arquibancadas, como mostra o vídeo abaixo.

https://controle.esportenewsmundo.com.br/wp-content/uploads/2021/08/parou-online-video-cutter.com_.mp4
Árbitro principal paralisa a partida por conta dos ataques misóginos vindos da arquibancada (Reprodução/America RJ)

O QUE DIZ A SÚMULA DO JOGO

A súmula da partida, que teve como árbitro principal o senhor Luiz Fernando Serrão dos Santos, detalhou o ocorrido e o que foi dito pelos homens das arquibancadas:

– Aos 32 (trinta e dois) minutos do primeiro tempo, paralisei a partida pelo motivo de algumas pessoas da delegação da equipe visitante, Audax Rio, […] proferirem aos gritos as seguintes palavras: “aposto que não lava essa xereca, tinha que ser mulher” em direção à assistente – diz trecho da súmula.

Trecho da súmula que denuncia o ocorrido (Divulgação/Ferj)

O QUE DIZ O AUDAX RIO

O Audax, como dito anteriormente neste texto, afirma que “não houve ataques diretos à bandeirinha da ocasião”. E, ao pedir desculpas, avalia que “a situação inteira de estresse foi causada pelo América.

– Desde a chegada do Audax ao estádio, a equipe foi mal tratada pelos mandantes e com um segurança do América xingando e tratando de forma inapropriada atletas do Audax, inclusive menores de idade. O relato é de que a delegação do Audax foi colocada em um espaço pequeno e ficaram presos no estádio, tratados igual “cachorro” pelo mandante. Alguns atletas menores de idade e não relacionados ficaram presos no vestiário e foram ameaçados pela equipe de segurança do América – reclamou o Audax Rio, através de assessoria.

O Audax Rio frisou que o lance do erro da árbitra auxiliar “acabou inflamando mais ainda com todo o contexto de ser mal recebido no estádio”, mas “claro que não justifica quaisquer xingamentos”.

Imagens da confusão nas arquibancadas (Vinicius Lima/America RJ)

O QUE DIZ O AMERICA RJ

Através de sua comunicação, por meio de nota oficial, o America Football Club afirmou que “não aceita e repudia este tipo de comportamento”.

– O America Football Club vem esclarecer que, ao contrário do que foi declarado em veículos públicos da imprensa, atendeu a delegação do Audax com cortesia e procurou alocar seus membros nas cabines de imprensa e nas arquibancadas do estádio. De modo algum aceita acusações levianas que contrariam o padrão de comportamento do clube. Como é de domínio público, bastando que se veja as imagens da transmissão na America TV Oficial, no Youtube, houve excesso por parte da Comissão Técnica e membros da comitiva do Audax e que por isso os mesmos tiveram que ser contidos pela arbitragem – diz trecho da nota.

O clube, no texto, ainda presta solidariedade à assistente Paola Rodrigues José e tacha como “descontrole e falta de respeito” o episódio:

– Por fim, o America lamenta profundamente que episódios como esses, que denotam descontrole e falta de respeito com profissionais do sexo feminino na arbitragem, ocorram em partidas do Sub-20, que envolvem jovens ainda em formação. Aproveitamos para prestar nossa solidariedade à assistente Paola Rodrigues José – finaliza a nota.

Clique aqui e leia o comunicado completo.

O QUE DIZ A FERJ

A Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) emitiu um comunicado oficial no qual aponta que “A Ferj encaminhará a súmula para o Tribunal de Justiça Desportiva do Rio de Janeiro para que sejam tomadas as devidas providências”:

– A Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, após receber a súmula do jogo America x Audax Rio, pela final do Campeonato Carioca da Série A2 na categoria Sub 20, lamenta o comportamento desrespeitoso e preconceituoso com a assistente Paola Rodrigues. De acordo com o documento oficial do jogo, membros da delegação do Audax proferiram palavras agressivas contra a assistente. A FERJ encaminhará a súmula para o Tribunal de Justiça Desportiva do Rio de Janeiro para que sejam tomadas as devidas providências. Cabe ressaltar ainda que a FERJ respeita e valoriza o trabalho das mulheres no quadro de arbitragem, condenando atitudes lamentáveis como esta. Lugar de mulher é onde ela quiser! – diz a nota.

A árbitra Paola Rodrigues preferiu não se pronunciar à reportagem (Vinicius Lima/America RJ)

A árbitra assistente Paola Rodrigues José já passou por uma situação parecida anteriormente. Em um jogo de futebol feminino entre Fluminense e Vasco, a bandeirinha foi alvo de injúria racial e chamada de “macaca” por uma torcedora vascaína.

Clique para comentar

As mais acessadas

Sair da versão mobile