A morte do ídolo do futebol Diego Maradona, nesta quarta-feira, deixou os fãs do esporte consternados. O craque argentino sofreu uma parada cardiorrespiratória, enquanto se recuperava de uma cirurgia para a retirada de um coágulo no cérebro, realizada no início do mês. Para entender o que pode ter causado a morte súbita de um dos maiores gênios da bola, o Esporte News Mundo conversou com a médica Margarete Henriques, profissional com 17 anos de experiência e especialização em Cardiologia pelo Hospital do Coração HCOR, em São Paulo.
Segundo a especialista, o mais provável é que a morte precoce de Maradona tenha sido causada pela sobrecarga do organismo em razão do abuso de álcool e drogas ao longo dos últimos, em especial do coração.
– O Maradona foi usuário crônico de álcool e cocaína. A cocaína é um poderosíssimo vasoconstritor, ou seja, ela contrai os vasos sanguíneos de forma violenta. Isso diminuiu o calibre dos vasos e dificulta a passagem de sangue. Também causa hipertensão e pode levar ao infarto do miocárdio. O uso crônico de drogas também causa falência no coração, que vai ficando sobrecarregado. A função cardíaca vai ficando deficiente e o músculo do coração vai aumentando de tamanho – explicou Margarete.
A médica também deu detalhes dos efeitos progressivos da dependência química no corpo humano.
– O usuário de drogas geralmente tem dilatação no coração. Consequentemente, o coração não tem força para bombear a quantidade de sangue que os órgãos como rins, baço ou fígado necessitam. Com isso, o coração tenta bater mais rápido e sofre alterações nos batimentos cardíacos, as arritmias. Essas arritmias muitas vezes causam coágulos que podem obstruir algum vaso sanguíneo e levar a outros problemas, como um AVC, insuficiência renal, ou a obstrução de algum vaso do coração, que pode levar a uma parada cardíaca com morte súbita. Provavelmente, foi o que aconteceu com o Maradona. Ele devia ter o coração dilatado pelo uso crônico de cocaína e álcool e isso deve ter gerado essa morte súbita por sobrecarga do músculo cardíaco – completou a cardiologista.
Confira outros temas da entrevista da médica Margarete Henriques:
A parada cardiorrespiratória é comum em pacientes que se recuperam de cirurgias para retirada de coágulos no cérebro?
A parada cardiorrespiratória não é comum em pacientes que se recuperam de cirurgias para drenagem de coágulo no cérebro, como Maradona havia feito. É uma cirurgia relativamente simples. É feita a drenagem dessa pequena hemorragia, desse coágulo e, geralmente, a fase de convalescência é tranquila. Não tem ligação direta com a parada cardiorrespiratória. O mais provável é que esses maus hábitos de vida tenham agravado o quadro, a obesidade também. O coração dele devia estar muito sobrecarregado. Se não me engano, ele já havia sofrido outras paradas cardiorrespiratórias antes. Cada vez que isso acontece, o coração fica com sequelas. Dependendo da extensão, o coração fica com algumas partes já sem movimento. Certamente, o coração dele já não funcionava bem, em sua plenitude. É preciso aguardar os laudos, mas, certamente, serão constatadas muitas sequelas naquele coraçãozinho dele, infelizmente.
As crises de abstinência podem ter agravado o quadro de Maradona?
A crise de abstinência não causa diretamente a parada cardiorrespiratória, mas ela contribui porque causa um estresse muito elevado no paciente. A falta do álcool ou das drogas causa estresse e libera adrenalina. A adrenalina também contrai os vasos sanguíneos e também pode gerar a isquemia, aquela diminuição do calibre dos vasos. A abstinência não é uma causa direta, mas ajuda.
Como deve ser o tratamento de dependência química?
É fundamental que esse paciente tenha um acompanhamento amplo. Ele tem que se tratar não só com um cardiologista, pelas comorbidades que a dependência química causa, mas também para tratar o estresse, a ansiedade e a depressão que esses pacientes geralmente têm. Além disso é preciso achar uma maneira de manter a distância das drogas para evitar desfechos tão trágicos.