Atlético-MG
Perto do Alético-MG, Cuca se defende da condenação por estupro e grupo de feministas atleticanas rebate
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O Atlético-MG está próximo de anunciar Cuca como o treinador para assumir o cargo deixado por Jorge Sampaoli. Porém, nas últimas semanas o nome do técnico ex-Santos tem repercutido na imprensa e redes sociais negativamente não pelo trabalho no futebol, mas sim por uma antiga acusação de estupro nas costas de Cuca.
Cuca foi condenado por violência sexual contra pessoa vulnerável (menor de 16 anos), em 1989, quando ainda era jogador do Grêmio, por sentença decretada pelo Tribunal de Berna, na Suíça. Isso fez com que parte da torcida atleticana levantasse a #CucaNão, mostrando a desaprovação do nome do treinador para assumir o comando técnico do Atlético-MG.
O treinador falou sobre o caso pela primeira vez depois de 34 anos do episódio, em entrevista ao blog da Marília Ruiz, do portal Uol . Cuca se defendeu dizendo que é inocente e que não houve abuso sexual.
— Não houve estupro como falam, como dizem as coisas. Houve uma condenação por ter uma menor adentrado o quarto. Simplesmente isso. Não houve abuso sexual, tentativa de abuso ou coisa assim. (…) Esse episódio de 1987 precisa ser explicado. Eu estava no Grêmio havia duas ou três semanas apenas, não conhecia ninguém. Eu jamais toquei numa mulher indevidamente ou inadequadamente. Sou um cara de cabeça e consciência tranquila – disse o treinador (leia abaixo o depoimento dele na íntegra).
No pronunciamento de Cuca, ele deixou à mostra a companhia de sua mulher e suas duas filhas. Lembrando que, no dia 8 de março é marcado pelo Dia Internacional da Mulher. O treinador também falou disso no vídeo enviado ao Uol. Veja as falas do técnico:
—Venho neste momento falar de uma coisa que me incomoda muito, porque há 34 anos atrás houve um episódio comigo, e essas coisas aconteceram há 34 anos atrás, e hoje elas vêm como se tivesse ocorrido hoje, e eu fosse condenado e culpado. Pra resumir, não tenho culpa nenhuma de nada, nunca levantei um dedo indevidamente ou inadequadamente pra alguma mulher. Vivo numa casa em que 90% são mulheres, são todas mulheres e tem eu aqui como homem, nem por isso sou machista ou coisa diferente. Pelo contrário, sempre me adapto e tento fazer o melhor possível. Isso é uma coisa que me incomoda bastante. A gente vê em alguns lugares “Cuca não” por causa disso ou daquilo. Eu não devo nada a ninguém, não sou um cara do mal, não fiz nada de errado, não fui julgado e culpado por alguma coisa. Fui jogado a revelia, porque já não estava mais no Grêmio quando houve esse julgamento junto com os outros rapazes. É uma coisa que eu tenho uma lembrança muito vaga, até porque não houve nada. Não houve estupro, como falam, como dizem as coisas. Houve uma condenação por ter uma menor adentrado o quarto, e simplesmente isso. Não houve abuso sexual, não houve tentativa de abuso ou coisa assim. Então, tanto é que está… Só que hoje, 34 anos depois, com a força que os movimentos vem pegando, a gente fica vendo isso e fica sentido, sabe? Resolvi dar um basta nisso, dar uma entrevista pra vocês na frente da minha família, na frente da Rejane, na frente da Maiara, na frente da Natasha. A Rejane, com a qual eu era casado já na época. Hoje tenho 35 pra 36 anos de casado. A Maiara que nasceu dois anos depois, e a Natasha que nasceu quatro anos depois. Pro pessoal ver, gente, é muito constrangedor pra mim dar uma entrevista assim. Lógico que a gente tem que encarar as coisas da vida, mas pra dar um basta nisso. Quero treinar ainda grandes equipes, mas não quero nunca ser um cara mal falado. Prefiro ficar na minha casa do que sair aí, achar polêmica e achar problema. Minha vida é baseada nesses conceitos aqui, família, fé em Deus e ser uma pessoa honesta e íntegra, e isso tenho feito em todos os clubes que passei. Tenho conquistado grandes amigos e tudo, e muito se dá na convivência que temos aqui nessa família”.
Ao final do vídeo, Rejane, esposa de cuca finalizou dizendo:
— O Cuca é uma pessoa muito íntegra, um excelente pai. Se ele tivesse alguma atitude errada, eu jamais teria ficado casada com ele há tanto tempo. E esse tempo nos deu duas filhas lindas, que ele educou com muito amor, integridade e carinho.
Grupo feminista rebate
Uma das entusiastas da #CucaNão é o grupo feminista de torcedoras atleticanas intitulado como “Grupa”. Após o pronunciamento do treinador, elas foram até as redes sociais manifestar a desaprovação das falas do técnico.
— Em um vídeo amparado por sua esposa e filhas, (Cuca) se diz inocente e mal fala do assunto. Num país em que 70% das mulheres sofrem violência sexual por conhecidos e em que 90% dos feminicídios ocorrem dentro de casa, ser pai e marido não é, necessariamente, prova de inocência. Continuaremos a questionar, SIM, toda conduta que banaliza e – por que não – fomenta a continuidade de posturas violentas no ambiente do futebol e na sociedade.
No decorrer do pronunciamento das atleticanas, foi dito que o objetivo da desaprovação da contratação de Cuca pelo Atlético-MG não se trata de um linchamento, mas “romper com as violentas no ambiente do futebol e na sociedade”.
Discutir a violência contra a mulher se faz urgente, inclusive no futebol. O que se busca não é o linchamento ou o foco em uma figura específica, mas sim, a partir da repercussão desses casos, a ruptura com uma estrutura que banaliza e – por que não – fomenta a continuidade de condutas violentas no ambiente do futebol e na sociedade. E, para romper essas estruturas, é preciso priorizar a mudança de atitude em detrimento de interesses particulares.
Por fim, a Grupa desaprova a postura de Cuca, ao não assumir o crime que a condenação vinda da Suíça explicita.
— A postura do treinador em não assumir, não se desculpar, apagar a mancha que não se apaga apenas reitera o seu descaso, o da diretoria atleticana e de todos que o apoiam em relação à manutenção de uma situação de violência constante de desrespeito à mulher e a continuidade de um comportamento de eximir a responsabilidade dos atletas.
As negociações entre Atlético-MG e Cuca avançaram e o anúncio do treinador está próximo. O técnico já comandou o Galo de 2011 a 2013 e conquistou dois Campeonatos Mineiros (2011 e 2013) e uma Copa Libertadores (2013).