“Não teremos um ano de luta para não cair, neste ano nem premiação para isso tinha. Permanência sempre é uma conquista, mas não é o propósito. O propósito é classificar para competição internacional”. Essas foram as palavras de Robinson de Castro, presidente do Ceará, sobre quais seriam as metas para o clube na temporada 2022. Pois bem, olhando em retrospectiva, é possível perceber que as coisas deram muito errado nos lados de Porangabuçu.
Mas o que aconteceu no Ceará para que essas metas tenham ficado tão aquém do esperado? Saindo da expectativa de uma campanha tranquila para o descenso a Série B, é hora de relembrar a trajetória do Vozão na Série A 2022:
Um bom começo
O Ceará iniciou a primeira rodada do Campeonato Brasileiro com um técnico diferente daquele com o qual iniciou o ano. Após a eliminação para o CRB na Copa do Nordeste, Tiago Nunes foi demitido do comando técnico, com Dorival Junior sendo contratado para ser o novo comandante da equipe.
Longe da área técnica desde uma rápida passagem pelo Athletico-PR em 2020, Dorival rapidamente transformaria o Vozão em uma equipe competitiva. Tendo vencido o Independiente dentro da Arena Castelão em sua primeira partida, pela Copa Sul-Americana, o novo comandante teria uma pedreira pela frente em seu primeiro jogo pelo Brasileirão: Enfrentar o Palmeiras, atual bicampeão da América, dentro do Allianz Parque.
Visto por muitos como azarão, os alvinegros conquistaram logo na primeira rodada, aquela que seria a mais emblemática de suas vitórias na competição nacional: Pelo placar de 3×2, o Vozão bateu o Alviverde fora de casa, e começou o campeonato com o pé direito, criando a expectativa em seus torcedores de que uma grande temporada estaria por vir.
Após a vitória, o time embalou uma sequencia ruim de três derrotas consecutivas para Botafogo, RB Bragantino e Athletico PR. A pressão só não aumentou devido a boa campanha intercalada que vinha sendo feita na Copa Sul-Americana, que dava indícios de que a equipe poderia entregar mais do que vinha entregando.
O empate contra o Flamengo, na quinta rodada, demonstrou que o time tinha o potencia de ser competitivo. Dorival, inclusive, foi enfático na coletiva pós-jogo ao apontar que a equipe melhoraria o rendimento com ajustes e o retorno de jogadores lesionados: “É uma questão de tempo para que possamos ajustar algumas peças e recuperar outras, aí sim teremos uma equipe ainda mais forte. Acredito que o trabalho esteja apenas no início.“
A partir do empate contra os rubro-negros, o Ceará não perdeu novamente, ainda que tenha demonstrado uma dificuldade imensa para vencer. Foram três empates e duas vitórias – uma delas contra o maior rival, o Fortaleza -, com o time se encontrando na 12ª posição, somente a dois pontos da zona de classificação a Libertadores.
Tudo parecia correr bem, até que um golpe inesperado aconteceu: Dorival Junior entregou o cargo de treinador, e se transferiu para o Flamengo. A mudança no comando técnico era inesperada para a direção, que foi pega de surpresa, e gerou magoa em relação ao treinador. Dorival, inclusive, havia dito que não era de deixar trabalhos em andamento, o que fez com que muitos passassem a enxergar o treinador como “sem palavra”.
Dorival deixou a equipe com 68,51% de aproveitamento em todas as competições, tendo conquistado três vitórias, quatro empates e três derrotas no Campeonato Brasileiro. Seria o começo do fim.
Uma escolha contestada
Com a saída de Dorival Junior, Pedro Sotero assumiu o comando técnico interino durante o empate contra o Goiás, enquanto a diretoria escolhia um novo treinador. A opção acabou sendo Marquinhos Santos, que havia conseguido a classificação para a Libertadores da América com o América MG no ano anterior.
Mesmo dividindo opiniões, com muitos vendo a contratação do técnico como equivocada, Marquinhos demonstrou ambição logo em sua apresentação: “Falei para o presidente: está na hora de o Ceará bater Libertadores. Chegou o momento. E fico feliz com essa oportunidade e confiança do presidente, do grupo de jogadores e em especial do torcedor.”
Estreando com um empate contra o Atlético-MG, foi contestado durante a maior parte de seu tempo como treinador do clube. Mesmo conseguindo alguns resultados interessantes, como a vitória por 3×1 contra o Corinthians, sua equipe nunca chegou a convencer os torcedores em relação ao desempenho. Para piorar, amargou eliminações em outras competições, perdendo para o São Paulo na Copa Sul-Americana e para o Fortaleza na Copa do Brasil.
Essa soma de situações adversas fizeram com que a pressão em torno do treinador, que já era grande no momento da sua contratação, só aumentasse. E após uma nova derrota para o Fortaleza, dessa vez pela 22ª rodada do Campeonato Nacional, Marquinhos Santos foi demitido do comando técnico da equipe.
Marquinhos deixava o time com 39,2% de aproveitamento em todas as competições, somando somente duas vitórias, cinco empates e quatro derrotas pelo Campeonato Brasileiro.
A aposta que veio no momento errado
Com a saída de Marquinhos Santos, o Ceará se encontrava na 14ª colocação do campeonato, com 25 pontos conquistados. Somente dois pontos separavam a equipe da zona de rebaixamento, mas a chance de rebaixamento ainda não chegava a assustar. Com um plantel qualificado, a noção geral era de que com o time fazendo o “feijão com arroz”, seria possível se manter na Série A sem dificuldades.
Enquanto a diretoria definia quem seria o novo treinador, Juca Antonello assumiu interinamente o comando da equipe nos empates contra RB Bragantino e Athletico-PR. O nome escolhido acabou surpreendendo: Lucho González, ex-jogador do Athletico-PR e da Seleção Argentina, seria o novo técnico do Vozão para o restante da temporada.
Mesmo cercado de incertezas, Lucho estreou bem no comando do Vozão, empatando com o Flamengo dentro do Maracanã por 1×1, em uma partida bastante competitiva. Logo na sequencia, venceu o Santos dentro da Arena Castelão, e começava a dar expectativas para o torcedor em relação ao seu período como treinador da equipe.
Mas, como todos sabemos, as coisas não se desenrolaram bem a partir daí. Mesmo entregando uma relativa competitividade, o Ceará de Lucho não venceu uma única partida após o triunfo contra o Santos, somando somente três pontos em oito jogos disputados. Para piorar, a equipe ainda teve que lidar com as consequências de uma irresponsável invasão de campo da torcida durante o jogo contra o Cuiabá.
O cenário era melancólico, e a demissão, que já era esperada pelas circunstâncias, veio após o jogo contra o Internacional, quando o Vozão perdeu por 2×1 e o argentino acabou sendo desligado do cargo de técnico pela diretoria.
Lucho deixou o Ceará com o pior aproveitamento entre os três treinadores que comandaram a equipe na primeira divisão: 25,9%. Foram cinco derrotas, quatro empates e somente uma vitória.
O fim
A demissão de Lucho apresentava um Ceará extremamente perdido na temporada e seriamente ameaçado de rebaixamento, em uma situação que não era esperada devido ao elenco que possuía. Juca Antonello foi definido como treinador interino para os últimos quatro jogos do campeonato.
Mesmo na zona de rebaixamento, os alvinegros tinham boas chances de escapar. Com 34 pontos e na 17ª colocação, o Vozão tinha o mesmo numero de pontos do Cuiabá, primeiro time fora da zona, e estava a um ponto do Coritiba, 15º colocado. Uma reta final positiva poderia manter o time na primeira divisão, mas infelizmente, não foi o que aconteceu.
Dos quatro jogos restantes para evitar o rebaixamento, o Ceará perdeu três. Foi derrotado por Fluminense, Corinthians e Avaí. Só venceu o Juventude, na última rodada, quando já estava rebaixado e entrava com um XI inicial repleto de garotos. Um fim de temporada amargo, para um 2022 que começou promissor.