O Internacional volta a campo neste sábado (08), às 21h30 (de Brasília), contra o Delfín, pela Sul-Americana, no estádio Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul. Três dias antes, a equipe colorada estava em Tarija, na Bolívia, onde venceu o Real Tamayapo, no estádio IV Centenário, por 2 a 0. O pega diante dos bolivianos foi o terceiro dos seis jogos pendentes que os gaúchos precisam cumprir em um período de 20 dias, após o adiantamento das partidas causado pelas catástrofes que assolaram o Rio Grande do Sul.
Os principais desafios enfrentados pelos atletas são o curto período de descanso entre os jogos e viagens longas e significativas – para se ter uma ideia, o Colorado já rodou mais de 3.800 km para poder realizar as partidas.
A recente maratona ilustra um desafio comum em muitos esportes profissionais, incluindo o basquete. No entanto, existem diferenças significativas na forma como essas sequências são abordadas em cada um dos esportes. Especialmente na NBA, os times enfrentam uma temporada regular longa, com 82 jogos, frequentemente viajando de uma cidade para outra para disputar partidas consecutivas em diferentes quadras. Embora haja semelhança no processo encarado pelos jogadores das modalidades, a NBA possui recursos que permitem uma gestão mais eficaz do desgaste físico e das viagens.
Segundo Flávia Magalhães, médica do esporte, especialista em gestão de saúde e performance de atletas, os dois esportes possuem diferenças físicas que explicam o motivo dos jogadores da NBA disputarem uma longa sequência de partidas em uma temporada, jogando de três a quatro vezes por semana, diferentemente dos jogadores de futebol que, costumeiramente, tem um calendário com um menor número de jogos e costumam necessitar, em média, de no mínimo um período de 72h de recuperação entre um duelo e outro.
— Inicialmente começamos pelo tamanho da quadra. As dimensões da quadra de basquete oficial são de 28 metros por 15 de largura. Além disso, temos o tempo de partida. Os jogos são de 4 tempos de 12 minutos, com intervalos de 2 minutos entre o primeiro e terceiro tempo e de 15 minutos entre o segundo e terceiro tempo. Além disso, a NBA permite substituições a qualquer momento da partida, de forma indeterminada, sendo cinco jogadores em quadra e sete no banco de reservas. Estas características permitem maior descanso dos jogadores, ajustes, com reposição de carboidratos, além de recuperação completa após um sprint, por exemplo, por meio da substituição — explicou.
— A realidade do futebol é diferente, desde o tipo de piso até a temperatura, com exposição solar, tempo de jogo, distância percorrida, força, número de substituições e paralisações ao longo da partida. Isto torna o futebol um jogo com maior desgaste físico, o que impacta na performance quando se tem intervalos menores entre as partidas — acrescentou.
Com o cenário apoteótico no Rio Grande do Sul devido às chuvas na região, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) chegou a suspender as atividades dos times gaúchos, assim como a Conmebol que também adiou as partidas dos clubes gaúchos em competições internacionais.
O Beira-Rio, estádio do Internacional, e a Arena do Grêmio, local onde atua o Tricolor gaúcho, assim como seus respectivos CTs, sofreram danos estruturais que impedem que eles possam treinar e mandar suas partidas. Assim, a retomada das atividades apresentou um novo desafio: um calendário ainda mais denso e exigente com a obrigação de jogar em locais diferentes, devido à impossibilidade de utilizar seus estádios, longas viagens e a falta de ritmo de jogo.
Guinter Pritsch, fisioterapeuta esportivo do Juventude e membro da Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva e Atividade Física (Sonafe), destaca a importância de estratégias eficazes de recuperação para enfrentar a maratona, após um longo período sem atividades e levando em consideração a intensidade do esporte e a necessidade de uma reabilitação rápida.
— É importante ter estratégias de recuperação dos atletas. Aqui no Brasil, isso já está bem implementado, tanto no pré-treino quanto no pós, o que acelera o processo de reabilitação”, observou. “Realizar trabalhos em academia e em terrenos de campo sintético, assim como estar em sintonia com os fisioterapeutas, favorece a parte tática e física da equipe, contribuindo para que seja possível suportar a maratona de jogos, mesmo após o tempo parado — completou o especialista, que vê uma situação mais tranquila para o Juventude em relação ao drama enfrentado pela dupla Gre-Nal. Isso porque a equipe de Caxias do Sul seguirá atuando na sua cidade e possui apenas o pega contra o Inter, atrasado no Campeonato Brasileiro.
O Inter, por sua vez, voltou a campo no dia 28 de maio após mais de um mês sem disputar uma partida oficial. Pela Sul-Americana, o Colorado recebeu o Belgrano, na Arena Barueri, em Itu, e perdeu por 2 a 1. O time disputou ainda mais dois confrontos com triunfos sobre o Cuiabá por 1 a 0 e Real Tomayapo por 2 a 0. Depois de visitar a Bolívia, o clube optou por prolongar a estadia em Itu e viajará a Caxias do Sul para encarar o Delfín. O curioso é que o clube percorreu até o momento 3.821 km e não atingiu ainda nem a metade do que terá de percorrer. Serão ainda mais 12.193 km para encerrar a jornada de 16.022 km.
O Grêmio também enfrenta uma maratona de seis jogos fora de casa. No entanto, diferente do rival, que optou por atuar em estádios diferentes, terá uma logística mais favorável, com três partidas no Couto Pereira. Duas delas já aconteceram – vitória contra o The Strongest por 4 a 0 e derrota para o Bragantino por 2 a 0. Agora, viajará para o Chile para enfrentar o Huachipato e depois retorna a Curitiba para jogar contra o Estudiantes. A equipe terá um breve descanso em Porto Alegre e seguirá ao Rio onde enfrenta o Flamengo. A sequência desgastante termina em Caxias do Sul, contra o Botafogo.
Na visão de Magalhães, as maratonas encaradas pelos rivais gaúchos ajudam a tornar os eventos menos atrativos: “o maior vilão da performance esportiva e o aumento do número de lesões é a fadiga. Estudos científicos corroboram com dados significativos sobre a influência do acúmulo de jogos em um intervalo curto de tempo neste cenário. O jogo é o momento de maior intensidade do jogador, em que ele deve empenhar alta performance, sem se poupar, em busca da vitória. E neste momento, além da tensão competitiva, há interferências físicas. O tempo de recuperação, muitas vezes insuficiente, influencia em toda a cascata da performance, englobando as partes esportiva, física, mental, psicológica e metabólica. É uma situação que reduz a performance, aumenta o risco de lesões, faz a equipe ficar fadigada e torna os jogos menos atrativos”.