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Em busca de volta por cima no Corinthians, Luan fala sobre seus dramas e motivações

luan
Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians

Luan ainda não é, nem de longe, o jogador que o Corinthians esperava contratar, no início do ano passado. Depois de receber a camisa 7 alvinegra, impressionar na estreia e levar a expectativa da torcida às alturas, parece que as coisas não andaram para o meia no Timão.

Para entender melhor essa fase e os motivos por trás do baixo desempenho, é importante ir além do jogador Luan e procurar conhecer a pessoa Luan, com tudo que a envolve. Em entrevista ao Globoesporte.com, o atleta, que completou 28 anos no último sábado, permitiu esse contato mais íntimo, falando sobre suas dores e motivações, dentro e fora das quatro linhas.

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Afinal, por que Luan ainda não engrenou no time do coração? Como ele lida esse momento de cobranças? E, por outro lado, o que o Corinthians ainda espera de Luan?

Luan, jogador

Luan em jogo contra o Flamengo, pelo Brasileirão 2020. Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians

No início de 2020, poucos achavam absurdo o valor de R$ 28,95 milhões pago pelo Corinthians para contar com Luan. A expectativa era enorme e, na cabeça do torcedor, tinha tudo pra dar certo. Depois de seis anos de sucesso no Grêmio, em que ergueu a Copa do Brasil de 2016 e a Libertadores de 2017 – coroado como Rei da América –, Luan chegou ao Timão como uma das principais contratações do futebol brasileiro.

O começo foi positivo no time do coração, com dois gols na estreia, pela Florida Cup. Ele ainda se manteve como titular por um tempo, com destaque durante o Paulistão e a Libertadores, mas foi perdendo espaço e, hoje, com Vagner Mancini, amarga o banco de reservas. Em 47 jogos, Luan balançou as redes sete vezes e deu três assistências, sem emplacar grandes sequências ou bons momentos.

“O que eu fiz não foi à toa, sei da minha capacidade. Acredito, sim, que possa voltar a jogar da forma que estive no Grêmio. Estou me dedicando para que isso volte o mais rápido possível”, falou o meia.

Segundo a reportagem, a maior pressão sobre Luan nesse momento vem do próprio jogador, que não está satisfeito com o que foi feito até aqui pelo Corinthians. Até por isso, a pressão externa não é tão importante para o meia.

“Isso não me afeta, não. Acho que eu tenho a minha cobrança, e ela é todos os dias. Claro que recebo as críticas da melhor forma, tento tirar o que é bom, mas não interfere. Sei da minha capacidade. Eu me cobro no dia a dia. O que vem de fora não me atinge”, comentou o camisa 7.

Uma possível explicação para Luan não ter encaixado no Corinthians é o estilo de jogo alvinegro, principalmente o que vem sendo buscado por Mancini, optando por peças de velocidade. No entanto, em seus momentos de destaque, essa não era uma característica de Luan, que se adapta melhor a jogos de associação, aproximação, tabelas e trocas de passe entre as linhas de defesa do adversário.

“Acho que é essa minha característica desde todos os anos como profissional. O Grêmio sempre jogou assim, então me adaptei assim. Jogo de aproximação, porque os meus companheiros eram assim. Foram vários anos jogando essa maneira. Mas, para mudar, não há dificuldade. Com meus companheiros, treinando no dia a dia, a gente já entendeu a maneira de o Mancini de trabalhar. Estou à disposição e vou dar meu melhor para ajudar o Corinthians”

Luan, íntimo

A personalidade de Luan também ajuda a entender como as coisas aconteceram para ele no Timão. O meia não nega seu estilo mais tranquilo, quieto e controlado. “Sou bem mais quieto. Meus amigos são poucos. Procuro preservar meus amigos desde pequeno. Sou um cara mais tímido, mais fechado.”

Seu aspecto introvertido faz com que a abertura para as relações sociais seja restrita, o que resulta em um cara de poucos, mas verdadeiros amigos. “Quando eu pego confiança, aí podem conhecer outro Luan. Só com o tempo mesmo para conhecer. Acho que sou meio assim, não tenho essa de me abrir para as pessoas no primeiro momento. Procuro conhecer mais. Mas tenho certeza que sou um bom amigo.”

Isso se reflete externamente, seja observando uma entrevista ou seu comportamento no elenco, ou até na pouca presença em redes sociais.

Entender essas características ajudam a mensurar o tamanho da dor que sentiu quando, em dezembro do ano passado, Luan viu seu melhor amigo, a quem chamava de irmão, ser baleado e morto por dois homens em uma moto. Um dos maiores golpes sofridos pelo jogador. Dias depois, faleceu sua avó, com quem conviveu durante a infância, Meses antes, já tinha perdido um amigo em um acidente de carro.

Ou seja, uma sequência de golpes da vida. Um pouco de empatia é suficiente para, ao menos, entender o sofrimento do jogador nesse momento. “Procurei me apegar a Deus, o único que pode nos dar força, ficar mais próximo da família. Superar não tem como, mas tem como se conformar um pouco mais”, conta.

Segundo pessoas próximas, esse comportamento discreto só aumentou quando chegou ao Corinthians. Inclusive sem as noitadas, que o marcaram por certo tempo no Grêmio. O funkeiro MC Hariel, amigo próximo do jogador, falou sobre essa mudança: “A questão do Luan é algo pessoal mesmo, coisa dele com ele mesmo. Ele quer ajudar, tem vontade, você vê que ele era um cara muito festeiro no Grêmio. Toda vez que eu ia cantar em Porto Alegre, ele já me chamava. Hoje em dia, já nem dá mais um salve. Focado mesmo em trabalhar. Esses dias ele me ligou, eu disse que estava com a minha namorada, ele disse para eu ir, que ele estava com a dele. Dá para ver que ele está focado, quer melhorar”.

Luan, corintiano

Luan em treino do Corinthians. Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians

Moleque criado na Vila São Jorge, na periferia de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, Luan poderia ter ido para outros caminhos, mais perigosos, longe da bola. “Eu tive tudo para ir para a vida errada, moleque que não tinha nada. Tive vários convites. Mas sempre pensei na minha mãe, na minha família, em dar orgulho para ela. Independentemente se fosse jogando bola”, conta o jogador.

Seu corintianismo foi flagrado pela primeira vez em 2012, quando foi visto, na rua, comemorando o título do Mundial do Clubes, com a camisa do Timão. Mesmo que ainda não tenha dado certo no time do coração, existe expectativa, de ambos os lados.

Duílio Monteiro Alves, atual presidente do Corinthians, foi um dos principais nomes envolvidos na contratação de Luan, ainda quando diretor de futebol. Hoje, continua convicto de que o camisa 7 não desaprendeu a jogar bola. “É um jogador que acredito muito, que admiro muito. Não desisti dele”, disse o presidente ao Globoesporte.com.

“Já conversei com ele 50, 100, 200 vezes. Como com qualquer outro jogador. Até por eu ter certa experiência em falar a língua deles, estar nesse meio há muito tempo. Sempre tento entender como ele pode melhorar. Ele tem um perfil muito fechado, tímido, na dele. Até isso acho que atrapalha um pouco a adaptação. Sabe como funciona o clube. Ele não tem uma determinada característica, talvez de velocidade, mas pode ajudar de outra formas e sabe que vai ter que dar tudo em campo. Tentamos passar isso a ele. Com rede social, fica mais difícil. Hoje, tudo chega muito fácil aos olhos do jogador. É um desgaste grande afeta qualquer um, mas ele não é mais menino”.

O presidente também disse que não há intenção de negociar o jogador no momento, relevando o baixo desempenho no ano passado. “Não pensamos em negociá-lo, mesmo sabendo que para jogador nenhum está fora de cogitação por depender sempre do que for apresentado. Mas não é nossa intenção. Acredito nele. Não creio em decepção. Ano passado, ninguém se destacou. Quem se destacou? Até o Cássio foi questionado. Com o time indo bem, aparece qualidade individual”.

Essa retomada, porém, precisa acontecer. A volta por cima tem prazo até dezembro de 2023, quando acaba o contrato do jogador com o Corinthians. Recuperar o futebol dos tempos de Grêmio depende dele, mas não é como se Luan já não tivesse superado desafios maiores em sua vida.

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