O grego Hipócrates, um dos grandes expoentes do florescimento intelectual na Grécia antiga, é considerado um dos pais da medicina. É dele, por exemplo, o juramento feito por médicos quando estes se formam. A figura histórica é também inspiração para Marcio Guerreiro, ex-volante do Flamengo, em meio à dura realidade enfrentada em seu primeiros passos na nova profissão:
“Pensei que meu início na medicina seria totalmente diferente. Este cenário está muito triste. Mas tem uma frase de Hipócrates que eu gosto muito: ‘Curar quando é possível, aliviar quando necessário, consolar sempre'”.
Há três semanas, o Esporte News Mundo contou a história do agora Dr. Marcio Luís Marques Guimarães, que aos 39 anos, traçou uma rara trajetória, de jogador profissional a médico. Ele faz parte da leva de alunos de medicina que tiveram sua formatura adiantada para ajudar no enfrentamento da pandemia de coronavírus no Brasil.
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O número do CRM (Conselho Regional de Medicina), necessário para a prática médica, saiu no dia 22 de abril. Mas o ex-jogador, que esperava atuar na linha de frente contra a Covid-19, ou no hospital geral de Nova Iguaçu, ou na estrutura de campanha montada no município da baixada fluminense, teve seus planos mudados pela pandemia. Márcio tem atendido em sua própria clínica, inaugurada no ano passado, por causa da grande baixa de funcionários infectados pelo novo coronavírus.
“Como tenho a clínica e alguns médicos entraram em quarentena porque foram diagnosticados com Covid-19, tive uma baixa de profissionais. Por isso, tive que começar a atender na clínica”, conta Marcio, sócio do empreendimento no bairro de Comendador Gomes, em Nova Iguaçu.
A capa do “O Globo”, do último do domingo, destaca as histórias por trás das mais de 10 mil mortes, até então, por Covid-19 registradas no Brasil. O ex-atleta aponta para a carga emocional sentida por profissionais de saúde ao longo de uma crise sem precedentes neste século, e assim como o jornal, lembra que as vítimas vão muito além das estatísticas.
“A responsabilidade é muito grande. Sinto o peso dela diariamente, pois um diagnóstico mal feito pode refletir de maneira trágica numa família. Para o noticiário são apenas números, mas esse número pode ser um rosto conhecido, um familiar querido”, diz o médico, que ressalta o apoio da esposa Nicole neste momento de enorme pressão para o recém-formado:
“Graças a Deus tenho com quem dividir os casos e ter mais segurança nas prescrições. Minha esposa já é formada há 10 anos e é uma excelente médica.”
O carioca de 36 anos, além da rotina de atendimentos na clínica em Nova Iguaçu, tem se disponibilizado para consultas virtuais aos mais próximos. A atitude, além de aliviar o temor daqueles que diariamente são impactados pelos números alarmantes da pandemia, ajuda a liberar os hospitais para os casos que realmente precisam:
“Os dias tem sido muito corridos, além dos atendimentos presenciais, tenho disponibilizado meu contato telefônico para amigos e conhecidos, o que tem tomado grande parte do meu tempo. Muitos deles têm medo de ir até a clínica, com medo de se contaminarem. Acredito que esse contato ajuda a triar casos leves, que podem ficar em casa, e casos moderados a graves, que precisam de exames complementares e algumas vezes até internação”.
ALERTA PARA SUBNOTIFICAÇÃO DE CASOS
Márcio mostra preocupação com o avanço da pandemia no Brasil e a capacidade do país em lidar com a crise. O ex-atleta aponta para o número limitado de testes e a decorrente subnotificação da quantidade de casos da doença.
“Nessa última semana percebi um aumento exponencial do número de casos suspeitos, infelizmente não temos testes disponíveis para todos e temos que tratar pela história clínica, o que acaba deixando nossos dados epidemiológicos furados”, explica.
De acordo com o mais recente balanço do Ministério da Saúde, divulgado neste domingo, o Brasil chegou a 11.123 mortes e 162.699 casos de coronavírus. Foram 496 mortes e 6.760 novos casos nas últimas 24 horas. No entanto, segundo a estimativa do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS), formado por pesquisadores da USP, PUC, UFRJ e Fiocruz e outras instituições, a incidência de casos no país pode ser até 12 vezes maior.