Por Erickson Nogueira e Heitor Olímpio
A Polícia Civil da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) concluiu as investigações e indiciou, na última quinta-feira (4), por injúria racial, o jogador colombiano Juan Pablo Ramírez, do Bahia, no ‘caso Gerson’, em partida realizada entre as equipes no último dia 20 de dezembro de 2020, válida pelo Campeonato Brasileiro.
A equipe de reportagem do Esporte News Mundo ouviu o advogado Milton Jordão, que atua em defesa de Juan Pablo Ramírez Velasquéz neste caso, a respeito do indiciamento no inquérito policial, que tramita na Polícia Civil do Rio de Janeiro e como o Ramirez recebeu o indiciamento da Decradi.
-Ao nosso ver, ao nosso sentir, a posição da Polícia Civil ela diverge das provas produzidas, ela se distancia demasiadamente do que foi colhido, dos depoimentos que estão nos autos, a única e simplesmente se fundamentar na palavra daquele que se diz vítima. Entendemos que seriam precisos outros elementos, que seriam precisas mais provas contundentes, para se falar que Ramírez teria praticado qualquer espécie de crime.
Para a Decradi, as investigações comprovaram a versão que o volante Gerson relatou ao término do jogo, e para à polícia civil “desde o momento em que disse ter sofrido a agressão injuriosa por preconceito até seu comportamento após o término da partida.”
Contudo, para a reportagem do Esporte News Mundo, em defesa do seu cliente, Milton Jordão disse que a polícia despreza uma série de provas ao conduzir da investigação e afirmou que “a defesa irá, naturalmente, adotar as medidas jurídicas”.
-É lamentável ao nosso sentir esta interpretação, esta adoção deste lado, dessa postura por parte da presada delegada de polícia, porque despreza uma série de provas que foram coletadas desde que esse inquérito se instaurou.
-A defesa irá, naturalmente, adotar as medidas jurídicas cabíveis ao caso, estamos atentos, e insatisfeitos, naturalmente, com esta conclusão, que ela privilegia apenas um lado, ela não parte da premissa da valorização, do melhor balizamento de todas as provas que foram produzidas. Estamos, naturalmente, insatisfeitos, não concordamos com o que se produziu ao final, e serão adotadas medidas previstas na Legislação brasileira em relação a isso.
E concluiu afirmado a inocência de Índio Ramírez, que busca pela justiça e a verdade.
-Ramírez está concentrado no momento, o clube tem partida válida pelo Brasileirão no próximo final de semana, mas ele está muito tranquilo. Ramírez está muito consciente de tudo que se passa, tranquilidade total porque ele tem ciência na inocência. Então, não é uma injustiça dessa natureza que vá abalar Ramírez, tirá-lo do prumo. Eu falo aqui por ele, com tranquilidade, esse é o espelho do sentimento que ele nutre, que é o sentimento de quem quer, efetivamente, a busca pela justiça, a busca da verdade. A verdade plena. Não uma parcialidade.
Logo após a decisão do indiciamento por parte da polícia civil, o Bahia, clube no qual atua Índio Ramírez, publicou uma nota oficial em seu site para manifestar o posicionamento do clube à cerca deste novo desdobramento do caso. O clube afirmou que seguirá mantendo o apoio ao seu jogador e espera a apresentação de fatos novos no decorrer do caso.
-Sem a apresentação de fatos novos, conforme aguardamos por mais de um mês, a diretoria tricolor seguirá apoiando Ramírez e tem convicção de que será feita Justiça, ao tempo em que reafirma a sua posição de clube expoente da luta antirracista no futebol brasileiro.
(Trecho da nota oficial divulgada pelo Bahia)
Confira, na íntegra, abaixo, o texto da nota oficial divulgada pelo Bahia sobre o caso:
O Esporte Clube Bahia vem a público lamentar o indiciamento do meia-atacante colombiano Índio Ramírez pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, muito embora a notícia não cause surpresa, tendo em vista as manifestações públicas preliminares da delegada do caso à imprensa especializada.
“Nosso jogador”. Assim ela se referiu ao volante Gerson, do Flamengo, responsável pela acusação – e que não compareceu ao depoimento perante a Justiça Desportiva -, indicando espectro de notória parcialidade.
O clube teve acesso à integralidade dos depoimentos colhidos no inquérito e pode afiançar à sociedade e à torcida tricolor que a decisão foi absolutamente despida de qualquer fundamentação probatória.
Em todos os momentos do episódio, o Bahia se comportou em busca da verdade dos fatos, sem desmerecer a palavra de Gerson, mas também considerando a presunção de inocência do seu atleta e a necessidade de se produzir prova robusta e incontestável.
Sem a apresentação de fatos novos, conforme aguardamos por mais de um mês, a diretoria tricolor seguirá apoiando Ramírez e tem convicção de que será feita Justiça, ao tempo em que reafirma a sua posição de clube expoente da luta antirracista no futebol brasileiro.
A acusação foi feita pelo próprio Gerson, do Flamengo, logo após o apito final. Na ocasião, ele afirmou que Ramirez disse “ cala boca, negro”, durante uma discussão que aconteceu no segundo tempo do duelo.
No dia seguinte, a polícia começou a apuração dos fatos ouvindo testemunhas, consultando a súmula do jogo e imagens da partida foram analisadas, e as conclusão foi que comprovam a indignação imediata de Gerson ao ouvir a ofensa racial.
Ainda segundo a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, Ramírez, em depoimento, negou a injúria racial e garantiu que disse apenas “joga rápido, irmão“.
No Ministério Público onde o processo foi encaminhado pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) do Rio), o Procurador decidirá se denuncia Ramírez à Justiça, arquiva o caso ou pede mais investigações.
Além da esfera criminal, o caso também corre no Supremo Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), no qual, na última quarta-feira (3), Gerson, Bruno Henrique e Natan, jogadores do Flamengo, seriam ouvidos. Mas eles não compareceram e as investigações vão seguir sem tais participações.
Veja nota da Polícia Civil:
“Policiais civis da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) indiciaram, nesta quinta-feira (04/02), o jogador Ramirez, do time de futebol do Bahia, pelo crime de injúria racial contra Gerson, do Flamengo. No dia 20 de dezembro de 2020, durante uma partida de futebol entre os dois clubes, o atleta do rubro-negro alegou ter sido chamado de negro pelo jogador da equipe baiana.
O fato aconteceu logo após o gol do Bahia. Bruno Henrique, atleta do Flamengo, fingiu dar um chute na bola e Ramirez reclamou. Gerson teria dito algo após a saída de bola. Neste instante, o jogador da equipe baiana passou correndo ao seu lado e teria dito: “Cala a boca, negro”. Tal frase motivou a imediata indignação de Gerson pela ofensa racista, que reclamou com o árbitro do jogo e com o treinador do Bahia.
O inquérito para investigar o ato foi instaurado do dia seguinte ao duelo. De acordo com a Decradi, testemunhas foram ouvidas, a súmula do jogo e imagens da partida foram analisadas e comprovam a indignação imediata de Gerson ao ouvir a ofensa racial. Além disso, em depoimento, seus companheiros de equipe acrescentaram que o jogador ficou muito abalado com a agressão, cabisbaixo e apresentou comportamento diferente do normal no vestiário e se recusou a encontrar parte do elenco após o jogo, pois estava triste com o fato ocorrido. Em depoimento, declarou que ficou tão indignado que após o encerramento da partida, ainda no gramado, precisou desabafar a indignação durante uma entrevista. Ramirez, no entanto, negou a injúria racial e afirmou que apenas disse “joga rápido, irmão”.
Segundo a Decradi, as investigações comprovam a dinâmica do fato e a versão da vítima, desde o momento em que disse ter sofrido a agressão injuriosa por preconceito até seu comportamento após o término da partida”.
A reportagem do Esporte News Mundo tentou entrar em contato com o empresário do Gerson ( que é seu pai, Marcão) e com o Rodrigo Dunshee de Abranches, VP Geral e da Procuradoria Geral do Flamengo, mas até a publicação desta matéria não obteve resposta.