Outro lado

Narrador critica Globo por modelo de contratações: “Contrata preto, mulher, homossexual e o talento fica em quarto plano”

Jorge Vinicius narrador
Foto: Reprodução/Facebook Jorge Vinicius

O ex-narrador do Sportv/Premiere, Jorge Vinicius, teceu duras críticas ao jornalismo atual do Grupo Globo, bem como sobre o perfil de contratações e demissões da empresa. As declarações foram dadas ao podcast “Parlando de Palmeiras”, comandado por dois palmeirenses e disponível no Youtube a partir desta quinta-feira (27) à noite.

Foto: Reprodução/Facebook Jorge Vinicius

Jorge ainda continua narrando partidas de futebol pelo Grupo Thathi de Comunicação de Ribeirão Preto, onde atualmente é gerente de esportes e também apresentador. O assunto polêmico veio à tona quando ele começou a falar que há uma decadência no meio jornalístico de TV, atualmente. Criticou o fato de que muitos diretores de emissora são contratados sem experiência na área, mesmo tendo cargos altos.

“Por exemplo, hoje, diretores de emissoras: o que tem de paraquedista que nunca trabalhou, nunca soube o que é rádio, TV, comunicação, e eles hoje comandam. (Estão lá) por cargo político, ou por indicação, ser amigo de amigo. Tudo isso é ruim porque, aos poucos, vai dilacerando ainda mais o nosso meio.”

Questionado se isto estaria acontecendo com o Grupo Globo, concordou e abordou a respeito do perfil de contratações da empresa que, segundo o profissional que trabalhou na empresa até o ano de 2018, deixou o talento em um “quarto plano”.

“Hoje, principalmente a Globo, eles perderam a mão no trabalho de inclusão. Ela contrata preto, mulher e homossexual, e o talento hoje é o quarto plano. Esta é a realidade, eles perderam a mão completamente. Eu sou favorável à inclusão, não sou preconceituoso. Pelo contrário, eu tenho amigos gays, amigas mulheres”, alegou.

Ele aproveita para justificar o uso do termo “preto”, afirmando que, nos dias atuais, o termo correto para se definir a cor da pele de uma pessoa mais escura é “preto”. Caso ele dissesse “negro”, “de cor” ou “moreno escuro”, poderia ser processado.

Na sequência, exemplifica seu posicionamento enaltecendo o trabalho e carreira na Televisão de duas pessoas negras: Glória Maria, falecida em fevereiro deste ano após longa batalha contra o câncer e Heraldo Pereira, um dos apresentadores do “Bom dia Brasil”, telejornal matutino da Globo.

“Quantos pretos nós não tivemos com histórias lindas e maravilhosas? Vou citar dois. Glória Maria, saudosa Glória Maria. O que ela representou pro jornalismo, para a conquista da mulher, para espaço da mulher! Preta, mas, acima de ser mulher e preta, ela tinha talento”, elogia.

“Heraldo Pereira, esse cara é um monstro, um jornalista acima da média, fantástico. Quantas vezes ele não esteve na bancada do principal produto jornalístico da Globo, que é o Jornal Nacional? Preto e talentoso”, comenta.

Apesar das críticas, ele reforça a importância do trabalho de inclusão de grupos de pessoas que, anteriormente, eram escanteados, mas salienta que, hoje, há um exagero e está surgindo um outro preconceito: o etarismo. De acordo com o dicionário Priberam de Língua Portuguesa, etarismo é uma discriminação baseada em critérios de idade, especialmente às pessoas mais velhas.

“O trabalho de inclusão é importante? É. Tínhamos poucos? Sim, concordo. Vamos abrir mais um pouco? Sim, mas não vamos perder o foco! Porque se não, você gera outro preconceito. A Globo perdeu tanto a mão que, agora, existe o etarismo. Será que eles não estão enxergando ou não estão preocupados?” – questiona.

Para elucidar o assunto, ele cita o caso do ex-narrador do Sportv Jota Júnior, demitido neste mês em meio a uma “enxurrada” de cortes na emissora, que vem sendo acusada de etarismo nas redes sociais e também por sindicatos. “Mas por que foi mandado embora? Por causa da idade! Então, a Globo hoje pratica o etarismo. Está dando abertura para gay, mulher, homossexual, mas não se esqueça desses funcionários, que se doaram muito”, afirma o narrador, indignado.

Foto: Reprodução/Facebook Jorge Vinicius

No dia 5 deste mês, a FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas) e Sindicatos dos Jornalistas e dos Radialistas emitiram uma nota repudiando esta onda de demissões que atingiu a área jornalística da emissora, que é líder de audiência no Brasil – foi um dos maiores cortes da história da empresa.

Eles reivindicaram uma reunião em caráter urgente para tratar das demissões e acusaram a TV de privilegiar demissões justamente dos profissionais mais velhos. “Fica evidente também a posição etarista da empresa, com a demissão sumária de profissionais com décadas de experiência”, diz trecho.

O narrador finaliza o assunto comentando a falta que faz Roberto Marinho, que foi presidente do Grupo Globo de 1925 a 2003 e era filho de Irineu Marinho, fundador da empresa. “O Roberto Marinho sempre pontuava: ‘para mim, quem faz a minha emissora é o funcionário talentoso’. E hoje mudou tudo… pelos filhos dele, pelo neto. Aí, ela começou a perder o chamado ‘padrão Globo de qualidade’”.

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Após a morte de Marinho em 2003, a direção foi mudando e, atualmente, o presidente do Grupo Globo é Paulo Roberto Marinho, um dos filhos do ex-presidente que também é presidente do Conselho de Administração. Também filhos do ex-presidente, Roberto Irineu Marinho e José Roberto Marinho fazem parte do Conselho como vice-presidentes.

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Jorge Vinicius

Formado em jornalismo na Puccamp (Pontifícia Universidade Católica de Campinas) em 1993, o profissional foi narrador esportivo do Sportv e Premiere de maio de 2010 até agosto de 2018, quando foi demitido. Depois, a partir de janeiro de 2019, tornou-se gerente de Esportes do Grupo Thathi de Comunicação, em Ribeirão Preto, onde segue. Além disso, atualmente está nas rádios Novabrasil FM e Cultura FM Araçatuba, assim como na Band Litoral e SBT Vale do Paraíba.

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