Quando iniciei minha caminhada como amante de futebol, lá em 2007, um clube me chamou atenção: o Santa Cruz. Suas cores tricolores, o estádio raiz e a torcida apaixonada abalavam não só a mim, mas todos os fãs deste esporte bretão. Mas, ao passar dos anos, o encanto, o apresso, se tornaram angústia e tristeza. O mundão era (e é) enorme e cheio de vida, mas o coma parece ser interminável.
Ironicamente, o ano de 2007 foi o start para um ciclo de altos e baixos de um clube que fala com orgulho do seu passado, mas esqueceu de olhar para o presente e comprometeu o seu futuro. Tudo bem que em meio ao lamaçal, houve momentos de glória, como o tricampeonato pernambucano de 2011-13, o acesso à série A em 2015 e o título da Copa do Nordeste de 2016. Porém, foram apenas momentos de anestesia para um torcedor que respira por aparelhos.
E quem diria que, pós esses momentos, o buraco seria maior e mais fundo. Quedas para séries B, C e D (novamente), campanhas pífias em estaduais, patrimônios em mal estado e por aí vai. Poderia citar tantos outros momentos que mancharam a história centenária do Santa Cruz nesses últimos anos, mas o 2023 guardava um capítulo ainda mais frio e doloroso.
O dia 28 de março ficará marcado na história da Cobra Coral. Em uma noite estranha em Pernambuco, o pior time do mundo passou o seu posto para o clube querido da multidão, da forma mais dolorosa possível. A derrota para o Íbis, além de praticamente sacramentar ao Santa a não ter calendário em 2024, trouxe a maior e mais devastadora tragédia no Arruda: o fim da esperança torcedor, que vê de forma impotente o clube se definhar.
Além da precária estrutura do Arruda, do CT Ninho das Cobras largado as traças, os comandantes do Santa Cruz deixaram de tratar o que realmente faz o clube ser reconhecido, sua torcida. A arquibancada erguia o gigante, o caldeirão impunha respeito e a mesma em nenhum momento foi respeitada. Pelo contrário, ela sempre foi abusada, maltratada e pouco valorizada.
Ouso dizer que sem ela, o Santa Cruz, famoso e glorioso, jamais teria existido. Porém, a grandeza que em que todos os adeptos corais estão destinados esbarram no desequilíbrio de administrações arcaicas que nunca permitiram que o todo o potencial desse imenso clube se aflorasse.
Agora, o torcedor, que sofre, que acompanha, padece com a incerteza de saber se o amanhã chegará. E o pior, em grande parte, tão calejada, vive a incerteza de participar de mais um processo de reconstrução.
Por hora, o coma permanece, o clube se afunda em uma doença já crônica e a expectativa é que as coisas fiquem ainda mais complicadas. Mas, embora pareça clichê, a grandeza necessita de equilíbrio e que a instituição acompanhe e reanime o que a faz realmente gigante: seu torcedor.