Nesta terça-feira (20), o ex-gerente de preparação esportiva do Coritiba, Paulo Thomaz de Aquino, concedeu uma entrevista exclusiva para o GE onde ele falou sobre sua passagem pelo Coxa que durou dois anos e meio. No papo, o ex-dirigente falou sobre sua saída do clube, momento do Verdão e chegada da SAF no ambiente do clube.
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Paulo foi demitido do Coritiba no dia 5 de junho, ele foi uma das tantas mudanças que a SAF fez no Coxa desde a sua chegada. Os novos donos realizaram mudanças na área física, nutrição, diretoria e no próprio time.
Paulo Thomaz de Aquino é um dos pilares da campanha ‘Coritiba Ideal’ que assumiu o clube na reta final de 2020. O dirigente até foi parte do G5 antes da formação da chapa do presidente Renato Follador, vítima da COVID-19.
Na sua passagem pelo Coritiba, Paulo atuou por grande parte como responsáveis pelas contratações da equipe, porém a partir de novembro do ano passado ele passou a desempenhar uma função mais próxima da equipe e acompanhou mais o dia a dia do time.
Falando sobre sua saída, Paulo admitiu que não ficou surpreso com a decisão e entende que com a chegada da SAF diversas coisas mudaram dentro do Coritiba.
“Não me pegou de surpresa. Todo processo de mudança tem dois caminhos. Quem chega faz um processo radical de mudança, principalmente nos cargos do futebol. A segunda ele pode se permitir a olhar, avaliar se tem algum profissional que se encaixa dentro do perfil que estão buscando.”
Paulo Thomaz de Aquino, ex-dirigente do Coritiba
— Na minha visão, a opção da SAF foi pela mudança dos cargos-chave no futebol. Com os primeiros movimentos, já davam alguns sinais que as coisas iriam mudar — completou.
Paulo vive o dia a dia do Coritiba desde a eleição na reta final de 2020 e viveu o período todo da morte do ex-presidente Renato Follador, mudanças na diretoria e a chegada da SAF. O ex-dirigente diz que apesar de todos esses fatores ele sai tranquilo.
— Eu saio com a consciência tranquila e convicto que meu ciclo foi concluído. Eu tive a felicidade de ser um dos últimos a permanecer e a concluir o processo. Cheguei a receber convites, mas eu entendia que tinha que concluir esse ciclo. Claro que o torcedor tem muita imagem recente. Mas tudo aquilo que foi proposto no final de 2021, nós conseguimos fazer.
— O primeiro objetivo maior era o acesso em 2022. Tínhamos uma necessidade de uma reestruturação total no futebol. Praticamente contratamos um elenco inteiro. Tivemos a felicidade de ter um acesso até tranquilo. No final houve um relaxamento, mas muito mais depois de conquistar o acesso.
— Tivemos a felicidade de ter um campeonato regional em 2022, as campanhas da Copa do Brasil, chegando na terceira etapa, que há muito tempo não chegava. Tivemos uma infelicidade nos sorteios: Flamengo, Santos e Sport. Mas cumprimos. A permanência em 2022, que era o objetivo maior do ano passado e foi feita. Quando o projeto do clube é não cair, a tendência é de que você fique perto da zona de rebaixamento. Tivemos um ano razoável no meu entender. Procuramos resgatar a base, reestruturar em todas as categorias.
— O Coritiba nesses dois anos e meio teve três presidentes, cinco heads esportivos, cinco gerentes de mercado. Dos cinco gestores do G-5, só dois permaneceram. Foram muitas mudanças. Sem dúvida, isso atrapalhou. Além da morte do presidente Renato Follador ter sido uma tragédia, trouxe consequências. Não estava no planejamento do Juarez ser presidente do clube. Depois o afastamento, a chegada do Glenn. Então, foram muitos desafios nesse período.
Na sua passagem pelo Coritiba, Paulo atuou em duas funções: uma mais responsável pelas contratações da equipe, essa ele desempenhou até a saída do Guto, e outra onde ele convivia mais com o time.
— Eu, como gerente de preparação esportiva, tinha como responsabilidade os elencos, as comissões técnicas, a equipe de análise de desempenho e a supervisão. E eu não podia ser o protagonista, eu tinha que ser um facilitador.
— Junto a isso, nós tínhamos no ano passado, até a saída do Guto Ferreira, um comitê do futebol formado pelas três gerências, o head esportivo – ou o CEO – e o conselho administrativo G5.
— Até a saída do Guto, eu participava ativamente de todas as contratações, reuniões. Se não diretamente, indiretamente. Conversando com atletas, representantes e os clubes.
Paulo comentou que durante novembro do ano passado o ambiente no Coritiba mudou muito com a chegada da SAF e falou que as coisas ficaram diferentes.
— Novembro do ano passado foi um marco para nós. Acabou o comitê de futebol. Existia, perto da janela, também um comitê de contratação, que a gente se reunia diariamente. Essa foi uma decisão interna do clube, dos gestores. Ficou um processo restrito ao G-5 e ao head esportivo. Já era, também, capitaneado pela SAF. Ela já dava suas contribuições em novembro. A partir dali, ficamos a margem desas decisões.
— Meu papel ficou na gestão do elenco, comissão técnica, análise de desempenho e a supervisão. Eu não participei da saída do Guto e nem na chegada do António, mas, sim, da chegada do Guto. Fiz o primeiro contato.
Paulo também confirmou que para ele a chegada da SAF mudou muita coisa no Coritiba e de certa forma afetou diretamente no planejamento do clube.
— Eu não tenho dúvida. Esse processo, como o próprio Glenn já disse, não nasceu no ano passado, e, sim, há muito tempo. No final do ano passado, ele precisou ser acelerado. E isso traz, sim, consequências. Não estava assinado, mas, ao mesmo tempo, já estava conduzindo para o processo ser concretizado. São várias pessoas dando opiniões, acaba gerando um desgaste, divergências, acredito eu. E isso trouxe algumas consequências.
— As definições acabam não acontecendo da forma que deveriam, na janela do começo do ano. A gente precisava ter feito a montagem do grupo de trabalho para esse ano, e a janela era importante. Até porque, no ano interior, a gente tinha sofrido muito. E tivemos que trabalhar na janela do meio de ano para realinhar o percurso. Então, entendamos que tínhamos que fazer uma boa janela para não ter as dificuldades do ano passado. Acredito que deixamos a desejar na montagem do elenco.
Durante seus últimos meses no Coritiba, Paulo conviveu com o trabalho do técnico António Oliveira que foi demitido em abril. O ex-dirigente elogiou bastante o treinador, mas reconhece que o clima estava desgastado.
— O António Oliveira é um dos profissionais que eu conheci que mais trabalha, ele tem uma equipe fantástica. Não tenho nenhum tipo de observação em relação ao trabalho. Dois pontos acabaram gerando transtorno para a comissão: desgastes e os resultados. Os desgastes ocorreram internamente, com a imprensa e com o torcedor.
— Hoje, no futebol, acredito que estamos empoderando demais o treinador. Para mim, isso é um erro muito grande. O treinador tem muitas responsabilidades. Ele não pode se envolver com o gramado, com a logística, a iluminação. Ele também não pode se envolver com a montagem do elenco. Todos querem. Eu não estou dizendo que ele não tem que ser envolvido, mas tem que ser em um momento específico. Ao mesmo tempo, a decisão precisar ser institucional. Não é um privilégio só do Coritiba, mas no geral.
— Nós construímos um caderno metodológico para o Coritiba, que joga com um meia. E, de repente, se contrata treinadores que não jogam com um meia. Aí você acaba tendo consequências. Se desde o sub-11 você está fazendo um processo de formação, pensando você vai ter um treinador que goste de trabalhar com um meia.
Um dos fatores que deixou o clima desgastado foram as decisões de como o time jogava com António Oliveira, para Paulo os meias do Coritiba foram os mais afetados, principalmente Marcelino Moreno, que para o dirigente foi “a principal contratação”.
— Eu não tenho dúvida que ele é nossa principal contratação. Nós temos ótimos meias, Marcelino e Boschilia, mas não são utilizados como meia. Aí você tinha um Régis que acabava jogando pelo lado. O grande mérito do treinador é tirar o que o atleta tem de melhor. O problema do António não era o Marcelino, mas o conceito do jogo dele, ele gostava de jogar com os médios. São conceitos. Não estou dizendo se está certo ou errado. Mas, pelo tipo de atletas que tínhamos à disposição, tivemos dificuldades com o António.
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Paulo também comentou sobre o fato do Coritiba ter optado em manter António Oliveira durante o mês de intertemporada que o clube teve após a eliminação precoce no Paranaense.
— Você já respondeu para mim. É claro que, se fosse para acontecer a troca, tinha que ser anterior. Você teria um prazo para o treinador chegar e trabalhar. Mas nós acreditávamos que seria possível uma retomada. As pessoas que definiram isso acreditavam nisso. É sempre muito difícil definir o momento de chegada e saída de um treinador.
Na reta final da primeira janela do ano, o Coritiba realizou um pacotão de reforços com o trio do Maringá (Marcos Vinicius, Vilar e Matheus Bianqui) e a dupla do Grêmio (Gabriel Silva e Wesley). Paulo comentou que não teve relação nessas contratações e achou elas sem sentido, para ele seria melhor ter utilizado a base.
— Eu não tive participação. Mas, na minha avaliação, era muito mais de compor o elenco para começar o Brasileiro e pelas dificuldades que o mercado estava mostrando. Eu, particularmente, sou sempre favorável à formação, tanto que o planejamento com o Guto, no estadual, era que a gente entrasse com os mais jovens. Com o António, teve uma mudança. Mas vamos lá: o Gabriel Silva é 2002. Se você tem o Biel, por que você vai trazer? Wesley Pombo, porque trazer se tenho Ronier e o Assis? Foram decisões. Não existe certo ou errado.
Atualmente, o Coritiba vive sua pior seca de vitórias da história, são 16 jogos em vencer e a equipe ocupa a lanterna da competição. Paulo falou que o elenco está realmente muito chateado, mas afirma que ainda não é momento para largar a toalha.
— O ambiente era de um grupo emocionalmente abalado, que sentiu muito esse começo de temporada. Agora, vou dizer com muita tranquilidade. É muito cedo para falar em qualquer consequência. Qual é o principal objetivo do Coritiba neste ano? Permanecer na Série A. Eu sei que é difícil o torcedor entender isso. Mas não existe, menor possibilidade, do Coritiba chegar no estágio de estar entre os 10 melhores da Série A sem buscar queimar etapas. Mesmo você tendo alto investimento, não é garantia. Não é uma ciência exata.
Apesar de discordar de algumas decisões da SAF, Paulo compreende que a SAF era algo necessário para o futuro do Coritiba.
— Fundamental, não teria outro caminho. Todos os clubes, de uma forma geral, estão se profissionalizando. Cada um vai ter seu modelo, mas ele passa a ser fundamental. Existe a necessidade de alto investimento. O Coritiba tem na sua essência ser formador, mas não é vendedor. Só que temos, sim, esse DNA formador. Se você tem um Centro de Treinamento de excelência, te dá a possibilidade.