Nos últimos meses, o principal tema no noticiário vascaíno é a venda da SAF. Em um ano conturbado administrativamente, mas tranquilo esportivamente, esse assunto é constantemente debatido. Contudo, se depender dos torcedores, em breve chegará ao fim. Afinal, eles já escolheram um favorito para efetuar essa compra. Por quê?
A decepção com a primeira venda da SAF
Em 2022, disputando a Série B pela segunda vez consecutiva e a quinta em sua história, o Vasco viu na nova lei da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) uma luz no fim do túnel. Afundado em dívidas, sem perspectiva de sucesso esportivo e com milhões de torcedores machucados por mais de 20 anos, uma venda se tornou inevitável, porém, uma esperança.
No fim da temporada, na última rodada daquele campeonato, aconteceu a famosa Batalha de Itu. O cruzmaltino venceu o Ituano, em duelo direto, por 1 a 0, com gol de pênalti de Nenê e retornou para a elite do Brasileirão após dois anos. Esse era o cenário do momento.
Em meio a esse caos, 70% das ações do futebol do Club de Regatas Vasco da Gama era vendido para um fundo de investimento americano: a 777 Partners. Logo no começo dessa relação, o proprietário da empresa fez a primeira das promessas que, no futuro, não seriam cumpridas. Em partida contra o Flamengo, Josh Wander afirmou: “essa é a última vez que o Vasco enfrenta seu maior rival com desigualdade financeira”.
Aquela declaração foi uma espécie de combustível na alma de um povo tão maltratado nos últimos anos. Enfim, sua imensa torcida voltaria a ser bem feliz. Entretanto, na realidade não foi bem assim. No início de 2023, a diretoria contratou o técnico Maurício Barbieri para capitanear o projeto. Junto com ele, chegaram o CEO, Luiz Mello, o CFO, Lúcio Barbosa e o diretor de futebol, Paulo Bracks.
Com o suposto investimento estrangeiro, começaram a chegar os reforços para o time. O primeiro deles foi bombástico. O Gigante da Colina venceu a concorrência e anunciou a compra do centroavante Pedro Raul, artilheiro do Brasileirão no ano anterior. Outros jogadores foram contratados e, muitos deles, seguem sendo importantes na equipe, como Léo Jardim, Puma Rodriguez, Léo, Lucas Piton e Jair.
No Campeonato Carioca de 2023, o Vasco foi eliminado na semifinal para o Flamengo, com duas derrotas. Até então, tudo bem. Na Copa do Brasil, veio a primeira crise. A derrota nos pênaltis para o ABC-RN foi um vexame e o Brasileirão não foi diferente. A equipe teve uma sequência de dez derrotas em 11 jogos e terminou o primeiro turno com 9 pontos, na última colocação. Após perder em casa para o Goiás, a torcida se revoltou em São Januário, culminando na demissão de Barbieri e uma interdição do estádio completamente desproporcional.
Apesar de diversas notícias de falta de pagamento de dívidas e acordos com outros clubes, na janela do meio do ano, junto com o técnico Ramón Díaz, vieram reforços de peso, como Vegetti, Paulinho, Payet e Medel. O cruzmaltino escapou de uma nova queda nos minutos finais da última rodada, contra o Bragantino. No dia seguinte, Paulo Bracks foi demitido e, novamente, a esperança de dias melhores.
Esse sentimento se intensificou quando Alexandre Mattos foi anunciado como novo diretor de futebol do clube. Conhecido por fazer grandes contratações e montar elencos vencedores, era o que faltava em São Januário. Contudo, foi mais uma frustração. Eliminado pelo Nova Iguaçu no Estadual e com um time claramente fraco, Mattos divulgou prints de uma conversa com um jornalista e acabou demitido. Na sequência, mais um início ruim de Campeonato Brasileiro, goleada para o Criciúma em casa e uma demissão confusa do treinador argentino.
No meio disso tudo, começavam a chegar notícias do exterior sobre complicações financeiras da 777 e de graves problemas judiciais. Dias antes de um Clássico dos Milhões, o presidente do clube associativo, Pedrinho, entrou com uma liminar tomando o controle do futebol. Na época, as pessoas estranharam, mas logo depois entenderam o motivo. O fundo americano faliu e suas propriedades passaram a ser garantias de pagamentos para credores. Menos o Vasco.
Mesmo com todo esse caos, a equipe chegou à semifinal da Copa do Brasil e não sofreu sustos no Brasileirão. Agora, a torcida só fala uma coisa: “vende para o grego”.
Por que o torcedor “adotou” Evangelos Marinakis?
Com toda a decepção e confusão da primeira venda da SAF, o vascaíno ainda teve que ver o seu vizinho Botafogo sair de uma situação parecida e alcançar o auge. Comprado por John Textor, o Glorioso montou um time forte e venceu, no mesmo ano, o Brasileiro e a Libertadores. A dedicação e a paixão de Textor pelo seu clube fez inveja no torcedor cruzmaltino, que teve um proprietário distante, frio e que parecia não se importar com o desempenho esportivo da equipe.
Como sempre, quando parece tocar no fundo do poço, surge uma nova esperança. Na busca por um novo comprador para controlar o futebol, começaram a surgir possíveis interessados e um deles ganhou o coração da massa vascaína. O estilo do magnata Evangelos Marinakis agrada e é tudo que o torcedor deseja. Dono do Olympiacos, na Grécia, do Nottingham Forest, na Inglaterra e do Rio Ave, em Portugal, o bilionário se envolve com seus clubes, investe de verdade e se preocupa com os resultados dentro de campo. Além disso, a contratação de Edu Gaspar para encabeçar o projeto mostra conhecimento e vontade de vencer.
Independentemente de outros empresários estarem conversando com Pedrinho, o torcedor já definiu sua preferência por Marinakis. A primeira experiência mal sucedida deixou claro para o vascaíno o que um dono do clube precisa ter e o grego demonstra atender todos os requisitos. Em entrevista recente à Sky Sports, ele confirmou o interesse na aquisição do Vasco e a vontade de transformar o Gigante. Questões como investimento em estrutura, pagamento de dívidas e montagem de um time vencedor não parecem ser problemas para o magnata.
Segundo o jornalista Lauro Jardim, do portal O Globo, as duas partes estão na fase de due diligence e, se tudo correr bem, nos próximos dias a negociação pode avançar para uma proposta oficial e discussão do contrato. Novamente, a torcida do Vasco está esperançosa e confiante que, dessa vez, os bons tempos voltarão a ser rotina.