São Paulo
Análise: Racing vive boa fase e é desafio para o São Paulo na Libertadores
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O torcedor são-paulino que está vidrado na Libertadores já percebeu, a manchete das oitavas de final é totalmente oposta à manchete da primeira fase da competição, embora o time seja o mesmo. A verdade é que o Racing que enfrentou o São Paulo há cerca de um mês, já não é mais o mesmo Racing que chega na fase decisiva.
Há um mês: Torcida irritada, atuações ruins e treinador quase demitido
No início do mês passado, o Racing era um time muito pressionado, em especial o treinador Juan Pizzi. A imprensa argentina e até os dirigentes do clube contestavam as atuações da equipe e colocavam boa parte da culpa sobre o técnico, que após a primeira partida contra o tricolor, chegou a dizer que acreditava em uma campanha contra ele.
“Se está questionando nosso trabalho em apenas três meses e meio, acreditamos que houve uma campanha descarada e desrespeitosa contra o nosso trabalho”, disse Pizzi, após empatar em 0 a 0 com o tricolor no El Cilindro.
Na época, o Racing vinha de uma grande instabilidade. Logo antes do jogo contra o São Paulo, o time argentino havia desperdiçado uma grande chance de se classificar antecipadamente para a fase final do Copa de La Liga, ao perder para o Central Córdoba, também tinha empatado com o Rentistas, em casa, pela Libertadores e oscilava muito, com dois empates e três derrotas nos seus dez jogos antes de enfrentar o tricolor.
A atuação contra o Central Córdoba, que antecedeu o jogo contra o São Paulo, colocou o trabalho de Pizzi na berlinda. Classificada como extremamente sonolenta pelos noticíarios argentinos, ela aumentou o volume das críticas ao treinador e deixou mais fortes os rumores sobre a sua demissão. Uma derrota para o time brasileiro poderia siginficar o fim da sua jornada no Racing, embora ainda pudessem segurá-lo, devido ao clássico decisivo contra o San Lorenzo, que aconteceu na semana seguinte.
O jogo terminou empatado em 0 a 0, com uma atuação até elogiada contra do tricolor, Pizzi ficou e a manutenção deu certo.
Hoje: Finalista na Argentina, Chancalay em grande fase e Arias salvador
O Racing empatou com o São Paulo em 0 a 0 e para quem guardou na memória somente a segunda partida, no Morumbi, em que ambos os times entraram com escalações alternativas, é bom lembrar que esse jogo no El Cilindro foi de muito sofrimento para o torcedor são-paulino.
Passado o empate com o tricolor, o Racing engrenou e não perdeu mais. Considerando as vitórias nas penalidades na Copa de La Liga, o time engatou uma sequência positiva de seis jogos, com destaque para Chancalay, que marcou seis gols e para o goleiro Gabriel Arias, que foi decisivo, não só na disputa de pênaltis contra o Vélez, mas com grandes atuações no tempo regulamentar. Atualmente o Racing não perde e nem leva gols há sete jogos.
Seguinte ao confronto na Libertadores, o Racing teve o clássico decisivo contra o San Lorenzo, que definiria qual dos dois times avançaria no campeonato. A equipe vinha pressionada, pois poderia ter garantido a vaga se vencesse o Central Córdoba na rodada anterior e com a derrota, ficou em desvantagem em relação ao adversário. A equipe lidou bem com isso e venceu por 2 a 0, com uma grande atuação de Chancalay, que marcou logo no início do 1º e também do 2º tempo.
Depois vem a vitória por 2 a 0, na Libertadores, contra o Sporting Cristal, em que o time soube sofrer, contou com a sorte e uma grande participação do goleiro Gabriel Arias, para poder decidir o placar nos 15 minutos finais. Até por essa atuação, em que o Cristal teve as melhores chances do jogo e o torcedor do Racing sofreu muito, ainda nesse momento, a torcida e a imprensa argentina não acreditavam que La Academia poderia eliminar o Vélez Sarsfield, líder da 1ª fase na Argentina.
O Racing conseguiu segurar o empate contra o Vélez, em uma partida que faltou pontaria para ambos os lados, mas não fosse uma defesa milagrosa de Arias, em uma cabeçada quase dentro da pequena área, o cenário seria bem diferente. Ele fez outras três grandes defesas em chutes de dentro da área, mas essa definitivamente foi a mais marcante. O goleiro ainda pegou um dos pênaltis cobrados pelo adversário e classificou o time para a semifinal.
Era o que a equipe precisava, uma classificação que deu um pouco de paz ao treinador, que pôde então, assim como o São Paulo, escalar uma formação alternativa para o confronto entre as duas equipes. Com outra grande atuação de Arias, os argentinos bateram o tricolor, em pleno Morumbi, por 1 a 0. Foi a confirmação de que os ares mudaram em Avellanada. O Racing ainda encarou o Rentistas e mesmo com um a menos desde os 17′, venceu por 3 a 0, com hattrick de Chancalay e Gabriel Arias defendendo uma penalidade.
Ontem (31/05) o Racing deu mais um passo na sua boa fase, mesmo desfalcado de Gabriel Arías e Eugenio Mena, convocados para a Seleção do Chile, derrotou o Boca Juniors e chegou na final da Copa de La Liga. Em um jogo muito travado, em que Pizzi se preocupou muito mais em neutralizar as ações do Boca, do que em realmente criar uma chance de vencer, a classificação novamente veio nos pênaltis. Tévez bateu no travessão e Chilla Gómez, goleiro formado na base do Racing, defendeu uma cobrança para garantir a vaga na final.
A final da Copa de La Liga será contra o Colón e acontece na sexta-feira, 4 de junho. Os torcedores estão confiantes, já que as equipes se enfrentaram no final de abril, com vitória do Racing por 2 a 1, no que foi considerada a melhor atuação dos comandados de Juan Pizzi durante o momento conturbado.
O que esperar desse confronto? A pausa pode ajudar o São Paulo?
A disputa entre Racing e São Paulo só começa na segunda semana de julho, pausa de mais de um mês, que pode até ser boa para o tricolor, pois pode tirar o time argentino, que decide um título nesta sexta-feira (04), dessa grande fase e acabar com essa empolgação.
Nos dois jogos entre as equipes na Libertadores, se viu um São Paulo com certa dificuldade de criar. O duelo no El Cilindro, em que ambos os times atuaram completos, diz bem mais sobre esse confronto do que o jogo no Morumbi, em que os dois pouparam, pensando no calendário e nos jogos que teríam por seus torneios locais.
Apesar de o São Paulo ter criado a primeira grande chance do jogo, em chute de Luciano, dentro da área, bem defendido por Arias, o Racing acabou sendo melhor na partida, em especial no segundo tempo. Ainda na 1ª etapa, a melhor chance foi dos argentinos, que em um cruzamento, no qual a bola foi de um lado para o outro da pequena área, conseguiram uma finalização quase dentro do gol, a bola bateu no travessão, na linha da baliza e ficou com Volpi.
No 2º tempo o Racing cresceu na partida, o São Paulo ainda perdeu Luciano e Dani Alves por lesão, com menos de 15 minutos da etapa complementar, Benítez também saiu aos 15′ do 2º tempo, dando lugar ao atacante Éder. Com isso, o tricolor praticamente não conseguiu mais chegar ao gol adversário. Os argentinos criaram um pouco mais e tiveram um gol anulado em um impedimento de difícil marcação, mas muito bem assinalado. Com a expulsão de William, quase nos acréscimos, o Racing pressionou muito nos minutos finais, tendo uma grande chance salva por Volpi no último lance do jogo.
A partida disputada entre os times alternativos, no estádio do Morumbi, já teve um desenho mais a favor do São Paulo, apesar da derrota. O tricolor teve o maior controle e criou algumas boas chances, as melhores foram desperdiçadas por Igor Gomes, Vitor Bueno e Luciano. O Racing encontrou seu gol em uma oportunidade quase solitária.
Porém, mesmo com a grande oportunidade perdida por Luciano no 2º tempo, a equipe argentina soube travar o jogo do São Paulo, assim como travou o do Boca Juniors na semifinal da Copa de La Liga.
A formação tática e o desafio de Crespo
Juan Pizzi tem visto seu 4-3-3 funcionar quando o assunto é jogar o torneio argentino, mas não abriu mão de ter uma linha de meio de campo com cinco jogadores ou uma linha de defesa com cinco atletas quando o assunto é Libertadores. Decisão que se mostrou acertada, já que no torneio continental o time fez 14 pontos, foi melhor argentino da 1ª fase e a 3ª melhor campanha geral da competição.
No primeiro jogo contra o São Paulo, Pizzi apostou no 3-4-2-1, formação que permitiu o time alternar entre o 3-6-1, o 3-4-3 e o 5-4-1, dependendo da necessidade da partida. No Morumbi, Pizzi entrou com cinco na linha defensiva, iniciando o jogo em um 5-3-2, que também foi capaz de variar, em especial com as subidas de Domínguez e Galván pelos lados do campo, enquanto Segovia, Orbán e Novillo, autor do gol, ficaram mais fixos na linha de defesa.
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Esse tem sido o maior problema de Hernán Crespo no tricolor. Campeão paulista, adorado pela torcida e sem perder clássicos na temporada, o treinador ainda não desvendou o segredo para manter o nível de criatividade, quando a marcação é fortalecida no meio de campo ou as linhas defensivas adversárias impedem a subida dos alas. Justamente por isso, encontrou muita dificuldade contra as formações utilizadas por Pizzi na Libertadores, que de certa forma, também foram repetidas por Palmeiras, Corinthians e Rentistas, por exemplo.
O São Paulo é um time essencialmente de criação pelos lados do campo, não por acaso, os líderes de assistências na temporada são os alas: Igor Vinicius (5), Dani Alves e Reinaldo (4) e em passes que geram finalização por partida, onde Welington, reserva da lateral-esquerda, também aparece no top 5, eles mais uma vez dominam pelo tricolor. Dani, Igor Vinicius e Reinaldo também lideram o time em grandes chances criadas: somente no Paulistão, os três dividem o 1º lugar no quesito com cinco cada. Dos 47 gols marcados pelo São Paulo de Crespo, mais de 60% deles saíram em jogadas construídas pelos lados do campo, sendo seis em cobranças de escanteio.
O encontro com o Racing vai ser difícil. Embora o São Paulo tenha mais elenco e também venha em um grande momento, encara um time que sabe se adequar as situações e aos adversários, passou pelos temidos Vélez Sarsfield e Boca Juniors na Argentina e encontrou seu melhor momento com o atual treinador.
Teste pesado para Hernán Crespo, mas muita coisa pode mudar em quase 45 dias, aguardemos.