Automobilismo

Com Schumacher na reserva, como fica o futuro da Ferrari na Fórmula 1?

Atuais e novos pilotos, um novo carro, uma competição completamente alterada em 2022, colocam altas expectativas na Ferrari do próximo ano.

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Foto: Divulgação / Scuderia Ferrari
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O ano de 2021 foi de renascimento para a Ferrari. Depois de um 2020 medíocre terminando em sexto no Campeonato de Construtores, a lendária escuderia italiana conseguiu uma dupla consistente, um carro em crescimento e uma promessa de voltar melhor no ano seguinte. O ‘sucesso’ na temporada é visto com o título pessoal da equipe, o terceiro lugar à frente da rival McLaren.

Além de esperar um nível maior do time para a próxima temporada, a equipe também anunciou que Mick Schumacher vai dividir a função de piloto reserva nas equipes Ferrari (a própria Ferrari, Alfa Romeo e Haas) com Antonio Giovinazzi, por causa do calendário do italiano na Fórmula E.

Assim, num exercício de futurologia, podemos tentar traçar os próximos passos para a Ferrari, tanto no que poderia esperar para os próximos anos (considerando as recentes atuações, pilotos, o desempenho prometido, etc) e como ficariam os assentos da equipe italiana.

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O novo carro em 2022

SF21 com os pneus aro 18′ que serão utilizados em 2022 (Divulgação / Scuderia Ferrari)

O ponto que a Ferrari mais sofreu na terrível temporada de 2020, agora promete para o ano que vem. Durante a disputa atual, a escuderia italiana disse estar focada no desenvolvimento do próximo carro, apesar da briga pela terceira colocação. Ainda assim, sem estar interessada em grandes melhorias na performance em 2021, a Ferrari teve um pulo de ritmo na segunda metade da temporada, terminando acima dos britânicos da McLaren.

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O chefe da equipe, Mattia Binotto, declarou que terão muitas inovações no sucessor do SF21, carro utilizado neste ano, principalmente na combustão da unidade de potência. Enquanto isso, a parte híbrida não deve mudar tanto, apenas com a adição de mais sensores de monitoramento, algo requisitado pela Federação Internacional do Automobilismo:

— Na unidade de potência, é significativamente diferente da atual, com exceção do híbrido. Nós o introduzimos em 2021, porque antecipamos as regras de 2022. Terão algumas mudanças pedidas pela FIA […] mas o sistema geral é bem parecido com o que temos agora e com o qual corremos no fim da temporada. O resto, especialmente a combustão interna, tenho que dizer que está bem diferente. Temos um novo combustível, com 10% de etanol, algo que mudou bastante a combustão.

Mesmo sabendo que a Ferrari colocou tudo no carro do próximo ano, com tantas mudanças de regulamento, aerodinâmica e na unidade de potência, e confiando no bom trabalho da escuderia, Binotto não tem altas expectativas, até o momento, de brigar pelo título em 2022. Sua justificativa (talvez para evitar frustrações) é de que a equipe não tem referência do trabalho dos rivais, além de dizer que a distância para os líderes ainda é muito grande:

— Não posso ser confiante. A razão é que, se olharmos o intervalo hoje em dia, é ainda evidente que os outros times [Mercedes e Red Bull] são muito fortes. O fato que colocamos muita dedicação em 2022 e o fizemos uma prioridade era uma necessidade para nós, porque sabíamos que se não tivéssemos feito isso, seria uma dificuldade ter um carro competitivo em 2022. Isso nos dá confiança total? Não, não podemos ser confiantes. Não temos referências dos outros. O que sabemos é que colocamos nossa dedicação, e vejo que o que tivermos será o melhor resultado do trabalho em equipe, o que é o mais importante para nós.

Ferrari não conquista uma vitória desde Singapura em 2019, com Sebastian Vettel (Divulgação / Scuderia Ferrari)

O projeto da Fórmula 1 é que os novos kits de aerodinâmica facilitem ultrapassagens, com carros mais lentos e pneus maiores. A ideia é que a turbulência no vácuo diminua e a interferência na perseguição seja menor. Com um carro sem desenvolvimento mas com algumas atualizações prevendo 2022, a Ferrari conseguiu duas poles com Charles Leclerc, quatro pódios com Carlos Sainz e outro top 3 com o monegasco.

Os atuais e futuros pilotos

Charles Leclerc e Carlos Sainz não somaram pontos em apenas seis corridas (Divulgação / Scuderia Ferrari)

Se, por algum motivo, os planos da Ferrari e da Fórmula 1 de diminuir a diferença da Mercedes e da Red Bull para o resto do pelotão falharem, a expectativa da equipe italiana e da tifosi deverá recair novamente sobre seus pilotos. Carlos Sainz em sua primeira temporada com os italianos já se provou em alto nível, conquistando quatro pódios; enquanto Leclerc conseguiu um segundo lugar apenas, mas pontuou em 19 das 22 corridas. Para Mattia Binotto, o monegasco ainda teve muito azar mesmo terminando em sétimo no Campeonato de Pilotos, e perdeu ‘pelo menos 40 pontos’ no ano.

Azar esse que custou a largada no seu país natal, Monaco, após ter conquistado a pole position, ou ser atingido por Lance Stroll na primeira volta na Hungria. De qualquer forma, a dupla recém formada, com Sainz tendo chegado da McLaren em 2021, se mostrou consistente, concluindo o ano da Fórmula 1 sendo a equipe que mais terminou em zona de pontuação, com apenas seis ocasiões de alguns dos pilotos fora do top 10.

Ambos os pilotos vêm tendo um ritmo parecido, com o número 16 do grid tendo um desempenho mais forte nas sessões de classificação, enquanto o espanhol aparenta demonstrar suas cartas no ritmo de corrida. Contudo, a diferença entre Sainz e Leclerc nos resultados é minúscula, com isso resultando numa estratégia da Ferrari em não definir o ‘piloto número um’, que teria prioridade nas chamadas, ainda que Leclerc seja um projeto de longo prazo da marca, enquanto Sainz seja uma adição recente.

Sainz conquistou quatro dos cinco pódios da escuderia em seu primeiro ano (Divulgação / Scuderia Ferrari)

Mesmo antes de definir a renovação para 2022 de Carlos Sainz, Binotto declarou que os dois tinham andado muito bem durante o ano, que descarta a chance de definir prioridades antes da temporada começar, e que vai deixar a pista falar quem deve receber o privilégio:

— Quem será nosso primeiro ou segundo piloto será decidido na pista. Nossa prioridade é o time, se um pode competir por uma posição importante, a pista falará para nós. E não vai depender somente do talento ou habilidades dos pilotos, isso sempre pode ser afetado por azar, com acidentes ou problemas no carro. Mas não teremos a política de primeiro e segundo piloto.

Além de pensar no futuro próximo, toda equipe precisa imaginar o longo prazo, como a própria Ferrari ‘promovendo’ Leclerc após apenas um ano na Sauber e substituindo Kimi Raikkonen. A atual dupla tem Sainz com 27 anos e Charles com 24, uma média razoavelmente baixa pra categoria e que, mantendo-se em alto nível, pode durar por muito tempo.

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Mesmo assim, há segundas opções. Uma delas foi anunciada no último dia 21 de dezembro, com Mick Schumacher sendo escalado como reserva na Ferrari e na Alfa Romeo. O filho do heptacampeão mundial chegou à Haas após o título da Fórmula 2 pela Prema, numa temporada sem muitas vitórias (apenas duas em 24 corridas), mas sendo figurinha carimbada nos pódios, marcando outras oito chegadas no top 3, excluindo as vitórias.

Primeira vitória de Mick Schumacher pela Prema, em 2019 (Divulgação / Scuderia Ferrari)

A primeira temporada de Mick na Fórmula 1 é incomparável com a de Leclerc, e não poderia ser diferente. A Haas chegou em 2021 sabendo que focaria totalmente no ano seguinte, e isso resultou num carro incontrolável, ainda mais para um estreante. O foco do alemão deve ser, assim como o da sua equipe, no próximo ano — considerando uma melhora na escuderia americana — para conquistar seus primeiros pontos na categoria. Contra seu companheiro de equipe, foi completamente dominante e ainda conseguiu classificar sua equipe duas vezes para o Q2.

Outras opções menos ‘óbvias’ que o alemão que já está no grid da Fórmula 1 seria planejar o futuro de Robert Shwartzman e Callum Illot. O russo em suas duas temporadas na Fórmula 2 lutou pelo título com a Prema, conquistando seis vitórias nos dois anos e outros quatro pódios. Já Illot teve uma temporada em uma equipe de ponta na F2, em 2020, e foi segundo colocado no Campeonato de Pilotos (inclusive à frente de Shwartzman). No entanto, o britânico não manteve a vaga para o último ano, e se dividiu entre competições de turismo e a IndyCar, categoria que focará em 2022.

Carlos Sainz tem contrato com a Ferrari até 2022 (com planos de renovação no primeiro trimestre do próximo ano), enquanto Leclerc está com um acordo até 2024, porém com cláusula de rescisão considerando o desempenho da equipe nos próximos anos. Alternativas mais ‘desesperadas’ da escuderia poderiam ser Guanyu Zhou, mas ainda há de se esperar para ver o desempenho do chinês na sua estreia pela parceira da Ferrari, a Alfa Romeo; ou Óscar Piastri, campeão em sequência da F3 e da F2, e agora piloto reserva da Alpine; além claro de uma volta inesperada de Antonio Giovinazzi, que já disse no passado que ficou decepcionado por não receber uma chance na escuderia.

A Ferrari e a competição em 2022

Com carro mais competitivo, pressão na estratégia da equipe deve aumentar (Divulgação / Scuderia Ferrari)

Por fim, a Ferrari terá também que melhorar (ainda mais) como equipe. Os últimos anos foram marcados por decisões e estratégias duvidosas, algo que com um carro de desempenho mais próximo dos líderes não poderá acontecer. Inclusive, na temporada 2021, a estratégia foi um dos fatores mais decisivos para o título do Campeonato de Pilotos.

Estratégias que muitas vezes dependem de um desempenho sem falhas da equipe de pit stop, algo que mudou drasticamente de 2020 para 2021. No primeiro, a Ferrari foi a oitava equipe do grid no ‘Campeonato de Pit Stops Mais Rápidos’, algo que não afeta em grande parte na pontuação dos carros (no mesmo ano, a Williams era a segunda equipe mais rápida nos pits, mas terminou o campeonato com zero pontos).

No entanto, em 2021, a equipe italiana voltou a ser a terceira mais rápida (como em 2019), com uma distância considerável para a rival direta, McLaren. Apesar de não mudar o Campeonato de Construtores ativamente, na pista cada décimo de segundo parado faz completa diferença numa competição tão acirrada.

Ferrari fez o pit stop mais rápido da equipe no GP do Brasil, com 2s21 (Divulgação / Scuderia Ferrari)

De qualquer modo, as expectativas para uma atuação à altura do nome Ferrari já foram criadas pela reverberação de seus trabalhos em Maranello. Contudo, terá trabalho para atendê-las já que outras equipes de meio de pelotão (principalmente McLaren e Alpine) tentarão aproveitar a chance que as mudanças de regulamento prometem dar ao resto. Como praticamente todo exercício de futurologia é falho, fica apenas a esperança de vermos uma temporada de alta qualidade e muita competição novamente em 2022.

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