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Sevilla x Betis reabre La Liga nesta quinta-feira; conheça a história do “Grande Dérbi”

Foto: Facebook/Sevilla FC

Um clube que nasceu da ruptura do rival. Diversas brigas de identidade. Duas torcidas apaixonadas. Assim pode ser descrito o “Grande Dérbi”, como é conhecido o confronto entre Sevilla e Real Betis e considerado por muitos o maior clássico local da Espanha.

Ele foi o escolhido para abrir da 28ª rodada da La Liga, que marca o retorno da torneio após quase três meses de paralisação. Às 17h (horário de Brasília) dessa quinta-feira, os dois maiores clubes da Andaluzia entram em campo, no Estádio Ramón Sánchez-Pizjuán, e começam a escrever mais um capítulo dessa incrível e centenária rivalidade.

HISTÓRICO DA RIVALIDADE

Para entender a origem dessa rivalidade, é preciso voltar à época das fundações dos clubes.

O Sevilla Football Club foi fundado em 1890 por imigrantes ingleses, que se juntaram a espanhóis locais para criar um time para a cidade. Apenas em 1905, foi registrado oficialmente e mudou de nome para Sevilla Fútbol Club.

Em 1909, insatisfeitos com a impossibilidade de contratar jogadores da classe operária, dois dirigentes do Sevilla romperam com o clube e decidiram fundar outro: o Betis Football Club. Em 1914, fundiram com o Sevilla Balompié, que passava por uma crise financeira, e assim surgiu o Real Betis Balompié.

Enquanto que o Sevilla tinha raízes internacionais, a proposta era criar um clube verdadeiramente da região. O nome “Betis” vem do latim e está relacionado ao rio Guadalquivir, que corta a cidade. “Balompíe” seria a tradução literal de “football” para o espanhol. Já as cores verde e branco são as mesmas da bandeira da Andaluzia.

Já no primeiro confronto entre eles, uma amostra do que estava por vir. Em 8 de fevereiro de 1915, o Sevilla venceu o Betis por 4 a 3, em uma partida que não terminou. As altas tensões na arquibancada fizeram com que a torcida invadisse o gramado e obrigasse o árbitro a abandonar o jogo.

Desde então, a rivalidade dividiu a cidade e ficou marcada pelo dualismo entre rico x pobre. Os béticos seriam a classe trabalhadora e humilde de Triana, bairro cigano da cidade. Já os sevillistas seriam a elite conservadora, do bairro nobre de Nervión.

Até hoje, essa narrativa é defendida pelos torcedores do Betis, que também se orgulham de terem sido o primeiro clube da cidade a disputar a primeira divisão do Campeonato Espanhol (1932) e a ganhá-lo, em 1935. O Sevilla chegou à elite logo depois (1934) e foi campeão somente em 1946. Esses são, até hoje, os únicos títulos de primeira divisão dos clubes.

CASOS DE VIOLÊNCIA

Os clássicos costumam pegar fogo (Foto: Reprodução/Marca)

Com o passar dos anos, ambos se estabeleceram como clubes tradicionais na Espanha e a rixa só aumentou. O clima dentro e fora de campo tornou-se cada vez mais acirrado e episódios lamentáveis simbolizaram a antipatia entre as torcidas.

Na temporada 2002/03, durante um dérbi da La Liga, um torcedor do Sevilla invadiu o campo e tentou agredir o goleiro e ídolo do Betis, Toni Prats. Por sorte o golpe não pegou em cheio e o torcedor foi neutralizado por jogadores e seguranças.

Já em fevereiro de 2007, no confronto válido pelas quartas de final da Copa do Rei, o técnico do Sevilla, Juande Ramos, foi atingido na cabeça por uma garrafa lançada pela torcida do Betis. O treinador ficou desacordado e teve que ser retirado do gramado por uma ambulância. Os jogadores do Sevilla se recusaram a voltar pra partida, que precisou ser suspensa e concluída três semanas depois, com os portões fechados.

DOMÍNIO DO SEVILLA NO SÉCULO XXI

Após ser rebaixado na temporada de 1999/00, o Sevilla voltou à primeira divisão no ano seguinte e nunca mais saiu. Por meio de uma gestão profissional, o clube passou a brigar constantemente no topo da tabela e a se classificar para os torneios continentais.

Sevilla conquistou cinco Ligas da Europa em 10 anos (Foto: Twitter/UEFA)

Entre 2005-2007, o clube viveu sua primeira época de ouro, sob o comando de Juande Ramos. Com nomes como Daniel Alves, Jesús Navas e Luís Fabiano na equipe, o Sevilla venceu a Copa UEFA (antiga Liga Europa) em 2006, colocando fim em uma seca de 59 anos sem títulos de expressão. Em seguida, se sagrou campeão da Supercopa da Europa, ao bater o poderoso Barcelona por 3 a 0.

No ano seguinte, mais títulos. Primeiro a Copa do Rei, acabando com a hegemonia de Real Madrid e Barcelona em território nacional. Não satisfeita, a equipe repetiu a dose do ano anterior e foi bicampeã da Copa da UEFA. Para coroar a ano praticamente perfeito, um 6-3 no agregado contra o Real Madrid, garantindo o título da Supercopa da Espanha.

Com o fim dessa geração de ouro, o clube passou por uma natural entressafra. Foram alguns anos de boas campanhas, mas apenas um título: a Copa do Rei, em 2009/10, vencendo o Atlético de Madrid na final.

Até que em 2014, o Sevilla voltou aos tempos de glória. Sob a liderança do técnico Unai Emery e de jogadores como Rakitic, Banega e Bacca, o clube realizou um feito impressionante e inédito. Foram três títulos da Liga Europa conquistados de forma consecutiva – 2013/14, 2014/15 e 2015/16 -, batendo equipes como Liverpool, Benfica e, até mesmo, o rival Betis.

Com certeza, essa é a melhor fase da história do Sevilla. O clube ganhou prestígio internacional e se tornou o maior campeão da Liga Europa, a segunda competição de clubes mais importante no Velho Continente. É verdade que não foi capaz de acabar com a hegemonia de Real Madrid e Barcelona na La Liga, mas nem se compara com o que ocorria no lado verde e branco da cidade.

“MANQUE PIERDA”

Torcida do Betis é uma das maiores da Espanha (Foto: Twitter/Betis)

Enquanto via o rival empilhar taças, o Betis viveu altos e baixos nas últimas duas décadas. O clube não chegou perto do sucesso internacional do Sevilla e ainda acumulou péssimas campanhas na La Liga.

Títulos nesse período, somente um: a Copa do Rei, em 2004/05, acabando com o jejum de 28 anos. Curiosamente, na equipe havia uma legião de jogadores brasileiros, como Marcos Assunção, Denílson e Ricardo Oliveira.

Além disso, os béticos tiveram pouco o que comemorar. Em 2005/06, o Betis se tornou o primeiro clube da Andaluzia a participar da Champions League, mas acabou eliminado na fase de grupos. Para a Liga Europa, foram duas classificações (2013/14 e 2018/19), atingindo no máximo as oitavas de final, quando foi eliminado justamente para o maior rival.

De resto, a torcida sofreu e ainda viu o clube disputar a segunda divisão nas temporadas de 2009/10, 2010/11 e 2014/15.

Apesar disso, os torcedores não se deixaram afetar e continuaram enchendo as arquibancadas do Estádio Benito Villamarín. Dessa forma, a torcida bética passou a ser reconhecida como uma das mais fanáticas da Europa.

O lema do Betis, inclusive, reflete esse sentimento de paixão incondicional e virou uma filosofia de vida. “Manque Pierda” significa “mesmo se perdermos” e é estampado com orgulho em camisas, lojas e redes sociais do clube.

NÚMEROS E CURIOSIDADES

  • No total, foram disputadas 125 partidas oficiais entre as equipes. 57 vitórias do Sevilla, 30 vitórias do Betis e 38 empates.
  • De acordo com pesquisa do Centro Andaluz de Prospecção, 40% da população da cidade torce para o Betis e 33,9% torce para o Sevilla.
  • Os estádios Benito Villamarín (Betis) e Ramón Sánchez-Pizjuán (Sevilla) são separados por apenas 3,3 quilômetros.
  • A maior goleada do clássico foi um 22 a 0 do Sevilla, em 1918. Na ocasião, dois jogadores do Betis (Artola e Canda) foram impedidos de jogar por servirem ao exército, e como resposta, o clube foi a campo apenas com jogadores juniores.
  • O clássico de amanhã será o segundo com portões fechados em toda a história. O primeiro foi em 2007, após o triste episódio com o técnico Juande Ramos, e acabou em 0 a 0.

COMO AS EQUIPES CHEGAM?

No primeiro turno, vitória do Sevilla por 2 a 1, fora de casa (Foto: Fernando Ruso)

Como de costume nos últimos anos, Sevilla e Betis mais uma vez brigam em partes diferentes da tabela, mas o jogo é igualmente importante para ambos os clubes.

O Sevilla está na 3ª colocação da La Liga e busca abrir vantagem na luta pela vaga na Champions League. Com 47 pontos, o clube tem Real Sociedad (46), Getafe (46) e Atlético de Madrid (45) na cola e pode cair para a 6ª posição, dependendo dos resultados da rodada.

Time provável do Sevilla: Vaclík; Navas, Koundé Diego Carlos, Reguilón; Joan Jordán, Vázquez, Banega, Suso; Luuk de Jong e En-Nesyri.

Já o Betis está em 12º na tabela e quer acabar com qualquer chance de rebaixamento. Com 33 pontos, o clube está a apenas oito do Mallorca, o primeiro no Z3. Aos torcedores mais otimistas, uma vitória no clássico pode significar a entrada na briga pela vaga na Liga Europa. No entanto, com 11 rodadas a serem disputadas e 12 pontos de diferença para o 6º colocado Atlético de Madrid, essa briga parece ser, no mínimo, improvável.

Time provável do Betis: Joel; Alex Moreno, Sidnei, Bartra, Emerson; Joaquín, Guardado, Aleñá, Canales, Fekir e Borja Iglesias.

Fora das quatro linhas, a prefeitura de Sevilla e os clubes fizeram um apelo para que todos os torcedores fiquem em casa durante a partida, que será realizada com portões fechados. Mesmo assim, mais de 600 policiais vão trabalhar nas ruas da cidade para evitar aglomerações e conflitos entre as torcidas.

Além de toda a história por trás do dérbi sevillano, a partida ganha importância por se tratar do retorno dos times após três meses parados. Quem sair vitorioso ganhará moral em dobro para a reta final da temporada. E aí? Para quem será a sua torcida?

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