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Treinadora é acusada de impor punições humilhantes a ginastas na Itália

Treinadora italiana é acusada de impor punições humilhantes, como obrigar ginastas a tirar a roupa por erros.

Foto: Simone Ferraro/CBG
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A ginástica rítmica italiana enfrenta uma nova onda de denúncias envolvendo maus-tratos a atletas. Escutas telefônicas anexadas ao processo contra Emanuela Maccarani, ex-treinadora da seleção italiana, trouxeram à tona o nome de Julieta Cantaluppi, técnica com passagem pela Sociedade de Ginástica Fabriano e pela equipe nacional júnior. Segundo as gravações, Cantaluppi teria submetido ginastas a punições humilhantes, obrigando-as a remover peças de roupa a cada erro durante os treinos.

A revelação, feita pelo jornal La Gazzetta dello Sport, coloca ainda mais pressão sobre o ambiente da modalidade no país. As conversas interceptadas mostram um diálogo entre Olga Tishina, assistente técnica, e Natalia Nesvetova, dirigente da Ginástica Etrúria, no qual Tishina detalha as práticas abusivas da treinadora.

“Com ela, tudo era muito pior. Ela punia as meninas. Se errassem um lançamento, tinham que tirar uma peça de roupa. No final, ficavam apenas de roupa íntima”, afirmou Tishina, conforme registrado nos autos do processo.

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Ainda segundo a auxiliar, os castigos iam além da humilhação pública. Cantaluppi também teria isolado as atletas em um pequeno quarto frio, sem telefone ou qualquer meio de comunicação, como forma de retaliação por desempenhos considerados abaixo do esperado.

Federação sob pressão e novas investigações

A denúncia surge dias após a demissão de Emanuela Maccarani, que esteve à frente da seleção italiana por quase três décadas e agora responde por acusações de abuso psicológico e assédio moral contra suas atletas. O Comitê Olímpico Nacional Italiano (CONI) e a Federação Italiana de Ginástica (FGI) já vinham sendo pressionados por uma resposta firme diante dos relatos de maus-tratos, que começaram a emergir em 2022.

O nome de Cantaluppi, no entanto, não gerou, até o momento, uma nova linha de investigação. Diferentemente de Maccarani, que foi formalmente denunciada por atletas, a ex-treinadora da Fabriano não figura como ré no caso.

“Ela nunca foi acusada diretamente pelas ginastas, o que torna a situação juridicamente diferente da de Maccarani”, explicou um representante da Promotoria de Monza. Ainda assim, a revelação de novos abusos amplia o debate sobre a cultura de treinamento na ginástica rítmica italiana.

Declarações sexistas elevam a crise

Paralelamente às investigações sobre abusos físicos e psicológicos, o escândalo tomou novos contornos com a divulgação de comentários machistas feitos por Andrea Facci, presidente da Federação Italiana de Ginástica, e Gherardo Tecchi, ex-dirigente da entidade. Em uma gravação telefônica obtida pelo Ministério Público, ambos menosprezam a ginasta Ginevra Parrini, que havia apoiado publicamente as atletas denunciantes.

“Ela nunca foi uma verdadeira borboleta (termo usado para ginastas italianas). Fez uns poucos treinos e depois sumiu”, disse Tecchi. O dirigente prosseguiu com insinuações sobre a aparência de Parrini, sugerindo que a atleta teria usado sua imagem para ganhar atenção na mídia. “Na primeira entrevista, estava de calça. Na segunda, de saia. Na terceira, de minissaia, mostrando a alma”, zombou.

A reação foi imediata. O CONI anunciou a abertura de uma investigação disciplinar para avaliar se os comentários violaram o código de ética do esporte. O próprio Facci, após a repercussão, tentou minimizar o caso. “Foi uma conversa privada, num contexto informal. Mas reconheço que errei e já me desculpei com a ginasta”, declarou.

Passado de denúncias e futuro incerto

As primeiras queixas sobre abusos na ginástica italiana surgiram em 2022, quando atletas como Nina Corradini e Anna Basta trouxeram a público os métodos de Maccarani. Outras ginastas, incluindo Ginevra Parrini, reforçaram as denúncias, descrevendo um ambiente de controle extremo sobre os corpos e emoções das atletas.

A nova leva de acusações, agora contra Cantaluppi, expõe um problema estrutural que vai além de nomes individuais. Com a modalidade em crise, a FGI enfrenta o desafio urgente de reconstruir a credibilidade do esporte e garantir um ambiente seguro para suas atletas.

Enquanto isso, Sofia Raffaeli, um dos maiores talentos da ginástica italiana e possível vítima dos abusos, segue treinando para os próximos desafios internacionais. 

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