Os atletas da World Surf League (WSL) vivem um período de férias depois de uma temporada que contou com as disputas do título mundial de surfe e das Olimpíadas Paris 2024. Olhando para o ano que vem, o Brasil tem grandes chances de sucesso, tanto na categoria feminina, como na masculina. A “Brazilian Storm” tem 12 competidores garantidos para a elite de 2025 e tem tudo para recuperar o topo do ranking ao término do Finals em Fiji. Pensando nisso, o ENM preparou uma análise de cada brasileiro que vai vestir as laycras de competição.
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Gabriel Medina:
O tricampeão mundial da WSL chega à nova temporada depois de ter conquistado a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos e ter ficado fora das finais da liga mundial na Califórnia. Um começo de temporada atípico prejudicou Medina na briga do Championship Tour de 2024. Agora, ele tem tudo para iniciar a corrida pelo tetra com o pé na porta.
Abrindo a temporada em Pipeline, na piscina de ondas de Abu Dhabi e em Portugal, o paulista é o grande favorito para liderar o ranking após as três primeiras etapas de 2025. Gabriel tem ótimos resultados nos tubos do Havaí, inclusive com dois títulos no currículo. Em ondas artificiais, é considerado como um dos melhores surfistas e favorito a vitórias. Chegando a Peniche, se sente confortável com os poderosos tubos europeus e já mostrou que é capaz de dominar as baterias do pico.
A partir daí, Medina será desafiado a quebrar algumas barreiras. A WSL chega a El Salvador e depois passa um longo período na Austrália. O estilo de ondas de Punta Roca não é o mais favorável ao brasileiro. Mesmo assim, a terceira colocação na temporada passada mostra que Gabriel consegue se adaptar a qualquer condição de mar. Na perna australiana Medina tem um histórico irregular. Desde 2014, ele tem apenas duas vitórias nas etapas de Bells Beach, Snapper Rocks (Gold Coast) e Margaret River.
Fechando a temporada, a WSL tem na agenda as etapas de Trestles, Saquarema, África do Sul e Taiti. A onda californiana foi palco da conquista do terceiro título mundial de Gabriel Medina em 2021. Quando fazia parte do calendário da temporada regular, San Clemente foi um local de altos e baixos e nenhum título de etapa do brasileiro. Por falar em picos de pouco sucesso, Medina sofre para levantar o troféu do evento carioca. A única vitória do paulista no Rio de Janeiro foi em uma etapa da divisão de acesso em que atuou como convidado em 2022. Uma das grandes novidades do ano que vem está guardada para a penúltima competição da fase qualificatória. Jeffrey’s Bay retorna ao calendário pós-pandemia e é um pico que Gabriel já venceu a etapa em 2019. Medina tem um currículo invejável em Teahupo’o e sempre brilha nos tubos do Taiti. Depois de uma dura eliminação na semifinal das Olimpíadas em uma bateria que não teve uma formação de ondas condizente com a importância do momento, o brasileiro teve que se contentar com a medalha de bronze.
Com isso, a expectativa é que Gabriel Medina lute mais uma vez pelo título mundial. O surfista chega com sangue nos olhos para se recuperar das temporadas recentes em que nem sequer se classificou para o Finals. O novo calendário e local da decisão da WSL é uma combinação de fatores que anima os fãs e, sem sobra de dúvidas, o próprio atleta.
Italo Ferreira:
Depois de bater na trave em 2024, Italo recuperou a confiança na briga pelo título mundial. O potiguar correu sérios riscos de cair no corte da temporada passada, mas superou o drama e foi o melhor surfista da segunda metade do ano. No finals eliminou três adversários até ser superado pelo campeão mundial John John Florence. Ferreira volta ao surfe competitivo almejando alcançar a bateria decisiva da WSL pelo quarto ano em sua carreira. Em 2019, venceu a etapa de Pipeline, garantiu o título e ainda influenciou a liga a mudar o formato da competição.
A nova temporada é também uma nova oportunidade para Italo manter o bom momento no Finals. Com três participações e dois vice-campeonatos, já mostrou que não se incomoda em largar na primeira bateria e pode ser perigoso em qualquer fase da competição. O grande desafio do campeão olímpico é ser mais acertivo na primeira parte da temporada da WSL. Assim, não sofreria amaças pela queda no corte e poderia focar inteiramente na briga pelo topo.
O calendário é animador na óptica do campeão mundial de 2019. Italo tem grandes resultados na perna australiana e pode aproveitar a experiência para se consolidar no ranking de 2024. A nova temporada vai contar com a clássica trinca de etapas em Bells Beach, Gold Coast e Margaret River. As provas decidem os sobreviventes do corte da WSL por conta da época em que estão agendadas. A eliminação dos atletas vai ocorrer após a conclusão dá sétima parada, exatamente na última da Austrália. Ferreira tem uma ótima oportunidade de sair da Oceania extremamente vivo na briga pelo topo da tabela do surfe profissional.
Filipe Toledo:
O aguardado retorno do bicampeão mundial está próximo de acontecer. Afastado da temporada 2024 para lidar com a saúde mental, Filipe Toledo entra em cena com uma WSL bem diferente daquela que acompanhou um show de surfe do atleta representando Ubatuba. Depois de ter vencido o finals em duas temporadas consecutivas, o brasileiro volta às competições em meio a muitos questionamentos. A falta de ritmo pode comprometer, mas a pausa na carreira deve se mostrar fundamental.
Toledo tem tudo para retomar a vaga na briga pelo título mundial, mas a mudança de local da etapa final levanta dúvidas da capacidade do paulista em defender as vitórias em Trestles. Filipe não tem o melhor aproveitamento em ondas tubulares, como é o caso de Fiji. Ainda assim, pode aproveitar a segunda parte da temporada para embalar uma sequência de resultados positivos. Trestles, Saquarema e J-Bay são três picos adorados por Filipinho. Ele tem diversos títulos de etapas nestas ondas, ou seja, deve conquistar os melhores resultados de 2024 justamente no período decisivo que finaliza a temporada. Marcadas para acontecer entre junho e julho, as provas citadas ganham um caráter fundamental na briga pelo top5. Como a última parada da campanha regular da WSL é no Taiti, local de pouco sucesso para Toledo, o surfista precisa aproveitar as etapas pós-corte para alcançar o topo do ranking.
Yago Dora:
Chegando ao brasileiro mais próximo de quebrar a barreira do título mundial, Yago Dora é o grande nome da geração que ainda não alcançou a liderança da WSL. Na temporada passada o catarinense teve o melhor desempenho da carreira e ficou a uma bateria de conquistar a vaga ao Finals. Mais experiente e confiante, Dora é visto como uma realidade do surfe mundial, mas ainda peca no quesito resultados conquistados. Com um dos estilos mais bonitos do tour, ele chega a 2025 para demonstrar que está pronto para brigar de frente com os atletas do topo da liga.
A melhor arma de Yago é o aéreo. Sua manobra voadora é uma das mais limpas da WSL, e Dora já mostrou isso em algumas oportunidades na etapa do Rio de Janeiro. Inclusive, Saquarema é a onda em que o atleta tem mais se encaixado nos últimos anos. Ele vem de um vice-campeonato em 2024 e um título impecável na temporada anterior. Uma prova com um estilo parecido é a de El Salvador. A onda de Punta Roca tem menos de cinco pés e costuma proporcionar boas rampas para os voos dos surfistas. Além disso, a adição da etapa na piscina de ondas de Abu Dhabi pode favorecer o brasileiro na briga pelo título.
A diversidade de estilos de onda do calendário é um importante fator, e Yago Dora é forte candidato a sucesso na próxima temporada. Dentro do grupo de favoritos em diferentes etapas ao longo do ano, ele deve se destacar depois de muitas campanhas sem brilho. Dora parece finalmente ter alcançado um nível de competição que o credencia a uma posição alta na lista de destaques no início do ano.
João Chianca:
Um nome que chama atenção é o de João Chianca, o Chumbinho. O jovem atleta natural de Saquarema perdeu grande parte temporada 2024 por conta de uma grave lesão na cabeça sofrida ainda na fase de treinamentos prévia ao início da etapa de Pipeline. Ainda assim, participou das Olimpíadas e recebeu um convite de Wild Card para participar da campanha completa do ano que vem. A memória competitiva deixada por Chianca em 2023 foi sensacional. Em sua segunda temporada como atleta profissional, chegou ao WSL Finals, eliminou Jack Robinson e terminou o ano como quarto colocado do ranking.
Agora, volta ao Championship Tour para tentar repetir o estilo tranquilo e eficiente que impressionou o mundo do surfe. A expectativa é que Chumbinho entre nas baterias com a mesma qualidade, mesmo com a grave lesão que o obrigou a competir utilizando um capacete de proteção. O estilo de destaque de Chianca é a onda tubular. Sabendo disso, a abertura da temporada em Pipeline e a oportunidade de chegar ao Finals de Fiji com a prova derradeira dos pontos corridos em Teahupo’o animam. Fora isso, João consegue se adaptar a ondas grandes que não proporcionam tubos. Margaret River e Jeffrey’s Bay são duas etapas que podem ser vencidas pelo carioca.
Samuel Pupo:
Chegamos aos surfistas que se classificaram com os resultados do Challenger Series 2024. Samuel Pupo foi o campeão da divisão de acesso e retorna à elite da WSL depois de um rebaixamento sofrido ainda na metade da atual temporada. Recuperado da eliminação diante do corte na etapa de Margaret, Samuca abriu a campanha do CS como líder do ranking após as duas primeiras provas na Austrália. Depois, administrou os resultados para confirmar a vaga.
Um fato curioso da carreira de Samuel é não consolidação na elite. Nas duas temporadas em que participou do CT, Pupo apresentou um ótimo nível de surfe, no entanto, não conseguiu conquistar resultados significativos e foi rebaixado em ambas as campanhas. Assim como os próximos brasileiros da lista, o primeiros objetivo de Samuca é somar pontos que o confirmem na segunda metade da elite. Tal missão tem sido um desafio até aqui, porém, a experiência adquirida deve ser suficiente para que ele tenha sucesso e possa competir na fase decisiva em busca do Finals.
A perna australiana é fundamental para Samuel. O paulista precisa alcançar bons resultados na trinca de etapas na Oceania, caso contrário, pode sofrer o mesmo destino dos últimos anos. Um cenário animador para Pupo é que ele tem um histórico positivo no país dos cangurus. Ele tem uma vice-colocação e um quinto lugar no Challenger Series 2024, além de uma nona posição e um quinto lugar no Championship Tour 2024. Em 2023 Samuca foi campeão da etapa da Gold Coast na divisão de acesso da WSL.
Ian Gouveia:
Depois uma intensa e frustrante batalha contra as lesões, além de oito longos anos afastado da elite, Ian Gouveia dominou o Challenger Series 2024 e está garantido no CT 2025. Confirmando a vaga ainda na quarta etapa, Ian preferiu se poupar do restante da temporada e administrou o corpo fora do cenário competitivo. De volta à elite com mais experiência nas costas, Gouveia tem a oportunidade de se destacar nas etapas, agora, longe das contusões. O estilo controlador das baterias é importante na WSL, e o pernambucano tem como característica justamente a forma como tenta tomar as rédeas nos primeiros minutos do confronto.
A tarefa de Ian em 2025, assim como a de Samuel, parece ser um nível acima dos demais brasileiros que chegam do CS. Os dois atletas tiveram um ótimo desempenho em 2024 e podem surpreender na elite. Caso consiga se garantir segunda metade da temporada, algo que parece ser muito possível, Gouveia tem tudo para lutar pelo top15 do ranking e talvez o top10. Existe uma grande expectativa pelo que Ian pode apresentar no Championship Tour. Já que foi rebaixado ainda em 2018, Ian nunca disputou o formato de corte de classificados durante a temporada, e muito menos o Finals. Como está retornando agora, a luta pelo título mundial deve ficar para campanhas futuras. A ambição de Gouveia na elite precisa ser a recuperação do melhor nível de surfe e, com isso, a manutenção para 2026.
Como etapas de destaque, Ian Gouveia deve somar a maior quantidade de pontos em provas tubulares. Ou seja, o surfista da WSL pode aproveitar o início da campanha em Pipeline para abrir uma vantagem contra os concorrentes.
Alejo Muniz, Deivid Silva e Miguel Pupo:
O trio acima chega ao CT em uma situação parecida. O objetivo de Alejo Muniz, Deivid Silva e Miguel Pupo é escapar do corte da WSL 2025. Com experiência de sobra na carreira, os três atletas têm boas possibilidades para se consolidar na elite do surfe. Eles não entram com muita pressão dos fãs, e isso pode ajudá-los a alcançar a pontuação necessária para que se mantenham na primeira divisão. Um fator que conta a favor é a mudança na época do corte. Na próxima temporada os surfistas definem a vida na liga mundial após a sétima etapa do calendário. Com isso, Muniz, Silva e Pupo têm tempo para se adaptar e conquistar pontos durante a parte inicial da jornada.
Edgard Groggia:
O estreante do time brasileiro no Championship Tour foi um dos últimos a confirmar a vaga para a elite da WSL. Edgard Groggia encontra um novo mundo em 2025 e vai experimentar a sensação de ser um surfista da primeira divisão do surfe competitivo pela primeira vez na vida. No entanto, a missão não será nada fácil. Ed precisa encontrar maneiras de controlar as emoções e mergulhar de cabeça no CT. Para não que sofrer com o corte, Groggia tem que estar muito focado a cada bateria, já que, por conta de sua posição no ranking do Challenger Series, será sempre escalado contra os primeiros colocados da elite. Mesmo assim, tem qualidade para ter uma performance de alto nível e se manter vivo na briga pela permanência.
Tatiana Weston-Webb:
Encerrando a lista com a rainha do Brasil, a única representante feminina da “Brazilian Storm” no CT da WSL é Tatiana Weston-Webb. Atual medalhista de prata nos Jogos Olímpicos e terceira colocada no Finals, Tati brilhou em 2024 e conquistou os melhores resultados da carreira. Com um surfe cada vez mais atrativo, Webb se destaca pela cadência e estilo polido nas manobras. Sempre calma, a atleta está pronta para quebrar uma barreira que esteve extremamente próxima de ser rompida na temporada passada. O título mundial da categoria feminina é uma grande possibilidade para Tatiana, que, caso consiga cumprir o objetivo, se tornará a primeira brasileira a vencer o ranking do surfe profissional.
Assim como foi dito (em uma linguagem um tanto informal) pela campeã mundial de 2024 Caitlin Simmers, Pipeline se torna um pico cada vez mais feminino. Tati Weston-Webb tem ótimos resultados em ondas tubulares e já revelou que gosta das etapas com ondas mais pesadas. Depois de uma traumática conclusão do Challenger Series em Saquarema, caiu sobre Tatiana a responsabilidade solitária de liderar o Brasil na elite da WSL. Ninguém melhor do que ela para suprir as ausências e levar o país ao sucesso no CT.