Há sete anos, o 24 de julho de 2013, mais conhecido como o dia mais importante para mais de cinco milhões de corações alvinegros. Nesta data, empurrado pelo lema “Eu acredito!”, entoado por sua massa de torcedores, o Atlético-MG conquistou a Libertadores da América. Um título vencido na base da raça, da fé e de um elenco em plena sintonia com a sua volta.
A trajetória do Atlético na Libertadores teve pontos altos que marcaram e mudaram a história do clube. A defesa do pênalti por Victor contra o Tijuana, com o pé esquerdo, no último minuto de jogo, evitando a eliminação. O lance de Ferreyra, do Olímpia, na final do campeonato, que com o gol aberto, escorregou de repente.
E neste dia especial, outras narrativas paralelas uniram ainda mais o Atlético e seu torcedor. Stephano Leme, por exemplo, tinha somente 13 anos quando o clube de coração conquistou a América, mas foi protagonista de uma história que, para muitos, pode ser vendida como um sonho.
Stephano e seu pai, Rodrigo, não sabiam aonde iriam assistir o jogo e decidiram ir para um restaurante próximo ao Mineirão, junto com um amigo do pai, Branco e o filho dele. Todos queriam sentir a atmosfera do estádio ao lado. Mas quando é para ser, é.
– Quando eu estava no banho, me arrumando pra sair, de um amigo, que é dono de uma empresa que trabalha com geradores. E nas fases anteriores da Libertadores, tinha acabado a luz no Independência, o que, para muita gente, foi o Kalil que mandou apagar. Mas foi realmente acidente, e o Atlético resolveu contratar essa empresa de geradores, para não ter o mesmo problema. E esse amigo ganhou cinco ingressos e iria dar para o irmão, a esposa e os sobrinhos, mas eles não puderam ir. Então, o amigo ofereceu os ingressos que estavam sobrando para irmos no jogo com ele. Nos arrumamos rápido e fomos ao Mineirão. Chegamos lá umas 19h, e aí começou o melhor dia da minha vida. A partir do momento que saí do carro e senti aquela atmosfera fora do campo, todo mundo fantasiado, todo mundo cantando – lembra Stephano.
A partir daí, a mágica começou para o atleticano. Ao chegarem, preferiram esperar e sentir a energia dos arredores ao entrar logo de cara. Esperaram o ônibus da equipe e participaram da festa, munida por fumaças e fogos. O entusiasmo e a paixão do então pequeno Stephano chamaram atenção da equipe da FoxSports. E aí, o garoto teve seu dia de estrela.
Já dentro estádio, Stephano, pai e amigos ficaram próximos do campo, sentindo de perto o clima de tensão que só foi aliviado com a cabeçada de Leonardo Silva, já no fim do jogo.
– No início do segundo tempo, ficamos vendo pela televisão e quando eu consegui pegar minha comida, que era pipoca, o goleiro do Olímpia não pegou a bola e o Jô marcou o gol, ficamos tão felizes que minha pipoca inteira voou, acabou, e meu refrigerante me molhou todo. Enfim, perdi minha pipoca, perdi meu refrigerante, ainda estava morrendo de fome, mas isso me anestesiou muito, porque eu abracei todo mundo. Fiquei muito feliz, e todo aquele clima tenso que estava no estádio, sumiu – brinca Stephano.
O gol de Leonardo Silva também ficou na memória do torcedor. Stephano relembra com detalhes a cena do zagueiro correndo em sua direção para comemorar, abrindo os braços e beijando o escudo.
– Foi uma euforia que eu nunca vi antes. Nunca mais vi uma euforia tão grande no Mineirão como aquela logo depois do gol de Leonardo Silva – ressalta o torcedor.
Com a prorrogação, mais minutos de sofrimento até a disputa de pênaltis, que terminaria com Victor mais uma vez herói e o Atlético campeão da América. Mas até a consolidação do sonho, o sentimento foi de pura apreensão.
-Eu estava muito perto do campo, umas três fileiras acima do limite, e todo mundo que estava na minha frente virou de costas quando começaram as cobranças para não ver os pênaltis. Eles se ajoelharam e começaram a orar. Tinha mais gente virado de costas do que vendo os pênaltis. Uma senhora que estava perto da gente virou e falou: ‘Em nome de Jesus o Galo vai ser campeão’ – conta Stephano.
Quando o jogador do Olímpia errou o último pênalti, a massa foi à loucura. Para muitos, esse foi o momento mais feliz e emocionante que viveram. Stephano lembra das comemorações sinceras, com muito choro e gratidão.
Por fim, o dia do torcedor teve um desfecho inesperado e inesquecível. Seu pai, Rodrigo, acreditou que o crachá que vestiam daria acesso a dentro de campo e conseguiu os levar. Eles entraram dentro de campo, tiraram foto com quase todos os jogadores e Stephano segurou a medalha de Josué. Seu pai tentou conseguir uma camisa, mas todas estavam prometidas pra outras pessoas ou seriam guardadas de recordação, mas, por fim, conseguiu o meião do zagueiro Réver.
– Me lembro que nem ficava com meu pai, eu saia correndo atrás dos jogadores e meu pai viu o Kalil e saiu correndo atrás dele, pra dar um abraço nele, e o Kalil estava sozinho no canto do campo, chorando muito e meu pai estava atrás dele quando a Globo chegou pra entrevistar o Kalil, meu pai apareceu de novo na TV. Meu pai estava gritando “Eu te amo Kalil”, e as amigas da minha mãe filmaram achando que era uma declaração de amor pra ela, gritando “Eu te amo Karina”, mas era “Eu te amo Kalil” – finaliza Stephano, contando um episódio engraçado do dia.