Um jogador sem a pinta de estrela de Hollywood e um estádio sem a pomba de clean ou o adjetivo de novo antes do seu nome, eram outros tempos aqueles de 1980. E mesmo assim não deixou de ser mágico tanto para o João Batista Nunes de Oliveira, ou só Nunes para a nação rubro-negra, quanto para o gigante e imponente Estádio Mario Filho, ou só Maracanã para todos os torcedores.
O Portal Esporte News Mundo abriu a biografia escrita pelo jornalista Marcos Eduardo Neves – Nunes, o Artilheiro das Decisões, lançada em 2018, no intuito de recontar essa trajetória até o seu apogeu para no especial #Maraca70.
Em 27 de janeiro daquele ano, meses antes de Nunes decidir o jogo contra o Atlético MG e dar o primeiro título brasileiro ao Flamengo. O majestoso Maracanã, ainda com 40 anos, recebeu uma grande estrela do cenário pop mundial, o cantor e torcedor do Genoa, da Itália, Frank Sinatra, para um público de 175 mil pessoas de baixo da chuva.
Nunes estréia no Maracanã
Diferente de Sinatra e seus cabelos bem penteados. Nunes e seus 1.80 de altura fez a sua estreia no Maraca com os seus cabelos vastos e avoados mesmo. Não como cantor, como queria ser na infância, mas como atacante. Causou um impacto para 75.712 pagantes no duelo contra a Ponte Preta, no último jogo da primeira fase do Grupo C, do Campeonato Brasileiro, em 30 de março. Ele vinha por empréstimo de seis meses do Monterrey do México para vestir a camisa do clube, que já havia defendido nas categorias de base entre 1969 à 1972.
Logo na estreia, o novo 9 da Gávea conseguiu um bom cartão de vista: a primeira assistência e o primeiro gol, depois de um belo passe de Tita. Nesse período contou com ajudar de Zico na adaptação ao time.
– Procurei me aproximar mais dele, para que se adaptasse o mais rápido possível. Sentimos que ele poderia ser, como realmente foi, muito útil para a equipe. – como o camisa 10, conta no prefácio do livro do seu amigo.
Plano B, de Nunes
Apesar de ter feito o gol na sua estreia a contratação de Nunes não foi a primeira opção que a diretoria do Flamengo tinha em mente para ocupar a facha de centroavante do time e ajudar balançar as redes do Maracanã. O clube queria contar com Roberto Dinamite, ídolo no rival Vasco da Gama, que estava insatisfeito no Barcelona (ESP), mas a negociação não se concretizou e o Plano B, de Nunes foi o que fez história.
Atacante com perfil de sua torcida
Com as entregas demostradas ao longo jogos da temporada, Nunes foi se identificando com a torcida rubro-negra e ela com ele. Como descreveu o radialista Washinton Rodrigues, o “Apolinho”
– O Mengão poucas vezes teve um jogador tão identificado e dedicado às suas cores quanto o sergipano Nunes, o ‘João Danado”.
Já no vestiário do estádio e se preparando para a final, Nunes se colocou deitado como se estivesse querendo entrar em sintonia com a torcida que proporcionou um recorde de público e uma renda histórica para a época.
– No vestiário do Maraca ouvi o sopro da torcida ao fundo, aquele som abafado de algo gigante, então deitei numa espreguiçadeira para relaxar, coloquei uma toalha no rosto e fiquei escutando o barulho da massa.
O surgimento do Artilheiro das Decisões
Na tarde de domingo, do dia 1º de junho de 1980 (um mês e um dia antes do Papa João Paulo II fazer sua primeira visita ao Brasil e ao Maracanã), às 17 horas, 154.355 mil devotos pagaram para assistir o surgimento do “Artilheiro das Decisões”, no segundo jogo da Final do Campeonato Brasileiro entre Flamengo e Atlético-MG.
As equipes haviam conseguido a classificação ao passarem por Coritiba e Internacional, respectivamente. O Galo veio para o Maracanã com a vantagem de ter ganhado por 1 a 0, em casa, no Mineirão, com gol de Reinaldo.
A Profecia do Horta
Você vai fazer dois gols; entre em campo e confiante, que hoje é o seu grande dia.
Na concentração, um fato curioso e profético aconteceu com o camisa 9, a poucos momentos de sair para a decisão, Francisco Horta (ex-presidente do Fluminense) sentou ao seu lado e “trouxe uma energia muito positiva”, como bem relatou Nunes em sua biografia:
– No ônibus, a caminho do estádio, se sentou ao meu lado, bateu na minha perna e disse, sonhei que você vai fazer dois gols; entre em campo e confiante, que hoje é o seu grande dia.
Dito e feito, o Flamengo começou muito bem a partida e aos 7 minutos Zico, que havia se recuperado de lesão do jogo anterior, lançou Nunes em um passe genial e o atacante finalizou para abrir o placar. Mas logo depois, o Atlético com Reinaldo igual a partida. O jogo seguia um ritmo digna de uma final de campeonato. Tanto que após um bate rebate na área a bola caiu nos pés do camisa 10 da Gávea para recolocar o Flamengo com vantagem no placar. Tudo isso no primeiro tempo da partida.
Nascia o Artilheiro das Decisões
Fui iluminado por Deus. Aquele gol me fez ídolo do Flamengo.
Ainda faltava mais um para o Horta acertar sua profecia, porém, aos 21 do segundo tempo, mesmo machucado na partida, Reinaldo voltava a colocar os atleticanos em vantagens na final.
Assim, Nunes, em uma jogada magistral, driblou a marcação para marcar um gol antológico, aos 37 minutos. 3 a 2.
– Fui iluminado por Deus. Aquele gol me fez ídolo do Flamengo. Falam muito do Reinaldo, mas estava escrito, era dia do Nunes. Se Reinaldo fizesse 3 a 3, eu ia lá e fazia 4 a 3. É como Zico fala comigo: Você fez os gols mais importantes, as pessoas deviam te valorizar mais –
E o Flamengo conquistava o seu primeiro título Brasileiro e o Maracanã era tomado em seu gramado por torcedores e repórteres. E o João Batista Nunes de Oliveira, ali no gramado fora rebatizado e começava a dar lugar para Nunes – Artilheiro das Decisões.
O ENM está com uma série de matérias sobre os 70 anos do Maracanã. Ao longo dos dias o site irá publicar várias matérias especiais.
Todos os Jogos do Nunes, no Maracanã, no Campeonato Brasileiro de 1980
Primeira Fase – 30/03/1980 – Flamengo 2 x 2 Ponte Preta
Público: 75.712 pagantes
Gols: Nunes (18’1T), Serginho (24’1T), Zico (10’2T) e Odirlei (38’2T)
Time: Raul, Carlos Alberto, Rondinelli, Marinho e Júnior; Carpegiani, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Júlio César (Andrade)Téc: Cláudio Coutinho
Segunda Fase – 13/04/1880 – Flamengo 6 x 2 Palmeiras
Público: 70.389 pagantes
Gols: Tita (13’1T), Zico (33’1T), Zico (7’2T), Toninho (16’2T), Tita (26’2T), Baroninho (30’2T), Mococa (36’2T) e Nunes (40’2T)
Time: Raul, Toninho, Rondinelli, Marinho e Júnior; Andrade, Carpegiani e Zico (Reinaldo); Tita, Nunes e Júlio César (Adílio)Téc: Cláudio Coutinho
16/04/1980 – Flamengo 2 x 1 Bangu
Público: 47.118 pagantes
Gols: Zico (17’1T), Nunes (25’2T) e Ademir Vicente (32’2T)
Time: Raul, Carlos Alberto, Rondinelli (Manguito), Marinho e Júnior; Andrade, Carpegiani e Zico; Tita, Nunes e Júlio CésarTéc: Cláudio Coutinho
21/04/1980 – Flamengo 2 x 1 Santa Cruz
Público: 84.039 pagantes
Gols: Andrade (13’1T), Júlio César (12’2T) e Tadeu Macrini (26’2T)
Time: Raul, Toninho, Manguito, Marinho e Júnior; Andrade, Carpegiani e Zico; Tita (Reinaldo), Nunes e Júlio CésarTéc: Cláudio Coutinho
04/05/1980 – Bangu 0 x 3 Flamengo
Público: 107.474 pagantes
Gols: Tita (9’2T), (36’2T) e (42’2T)
Time: Raul, Toninho, Rondinelli (Nélson), Marinho e Júnior; Vítor, Adílio e Tita; Reinaldo, Nunes e Carlos Henrique (Anselmo)Téc: Cláudio Coutinho
Terceira Fase – 10/05/1980 – Flamengo 3 x 0 Desportiva (ES)
Gols: Zico (11’1T), (15’1T) e (44’2T)
Time: Cantareli, Toninho, Rondinelli, Marinho e Júnior; Andrade (Adílio), Carpegiani e Zico; Reinaldo (Carlos Henrique), Nunes e TitaTéc: Cláudio Coutinho
18/05/1980 – Flamengo 2 x 0 Santos
Público: 110.079 pagantes
Gols: Zico (12’1T) e (12’2T)
Time: Raul, Toninho, Rondinelli, Marinho e Júnior; Andrade, Carpegiani (Adílio) e Zico; Tita, Nunes e Júlio CésarTéc: Cláudio Coutinho
25/05/1980 – Flamengo 4 x 3 Coritiba
Público: 87.934 pagantes
Gols: Vilson Tadei (21’1T), Aladim (31’1T), Nunes (34’1T) e (37’1T), Carlos Alberto (39’1T), Anselmo (29’2T) e Caludinho (37’2T)
Time: Raul, Carlos Alberto, Rondinelli, Marinho e Júnior; Andrade, Adílio e Zico (Reinaldo); Tita, Nunes e Júlio César (Anselmo)
Téc: Cláudio Coutinho
Final – 01/06/1980 – Flamengo 3 x 2 Atlético Mineiro
Público: 154.355 pagantes
Gols: Nunes (7’1T), Reinaldo (8’1T), Zico (44’1T), Reinaldo (21’2T) e Nunes (37’2T)
Time: Raul, Toninho, Manguito, Marinho e Júnior; Andrade, Carpegiani (Adílio) e Zico; Tita, Nunes e Júlio César (Carlos Alberto)