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Opinião: Muito pragmático e pouco “romântico”, Abel armou mal o time e leu mal Beccacece

O Palmeiras perdeu o título da Recopa no campo. Não na arbitragem, mas no campo. Claro, os erros do juiz contribuíram, assim como os pênaltis perdidos por Gómez no tempo normal, e por Luiz Adriano e Weverton nas penalidades máximas. Mas o fundamental da derrota do Palmeiras mora nas escolhas táticas de Abel Ferreira. 

Abel reconheceu o ponto forte do adversário em sua coletiva. Mas no campo de jogo, não armou o time para essa característica. “Do outro lado, havia uma equipe de muita qualidade individual e coletiva, muito intensa, uma equipe argentina.”

O treinador português que já tem Libertadores e Copa do Brasil no currículo pelo Verdão, e muitos acertos, tem também seus erros. E por mais curiosos que sejam, os da noite desta quarta (14) contra o Defensa y Justicia da Argentina, foram similares a alguns dos cometidos na partida de volta contra o River Plate da Argentina.

Tanto River quanto o Defensa y Justicia de Beccacece são equipes que buscam controlar o meio-campo em busca dos espaços para jogadas verticais, mas sabendo reter a bola para criar espaços de infiltração pelos lados do campo.

O Palmeiras de Abel encontrou seus melhores jogos armando saídas em velocidades fruto de roubadas de bola e a aceleração que conta com Rony e Wesley, além dos passes e chegada muito boa de Raphael Veiga, principal jogador do time.

Mas para um jogo assim, é importante não entregar totalmente o meio campo para o adversário. Contra o Flamengo os momentos de mais dificuldades do Palmeiras foram os que o Flamengo dominou a intermediária ofensiva, rodando passes, com Arrascaeta, Everton Ribeiro e Gerson, trabalhando para a chegada dos laterais. O mesmo contra o River na derrota por 2×0. O River assumiu o controle do jogo na região que deveria ser de controle de Danilo e Zé Rafael, assim como hoje o Defensa assumiu a região de Danilo e Patrick de Paula.

Vale pensar também que, no 3×0 contra o River na Argentina, Gabriel Menino jogou mais pelos lados, mas recompunha por dentro nos momentos defensivos, para fortalecer o espaço mais forte do River. Hoje, contra o Defensa, Breno Lopes foi o secretário de Marcos Rocha (e fez bem esse papel), mas Patrick de Paula e Danilo não deram conta de uma equipe que sabe rodar a bola e quebrar as linhas entre volantes e zagueiros pelos lados do campo com tabelas. Foi assim o primeiro gol dos argentinos, nas costas de Viña e no atraso de Gustavo Gómez para recompor o erro. Mayke no lugar de Wesley também não colaborou para ter um Palmeiras desarmando mais para sair com a bola.

A escolha de apostar na capacidade de Raphael Veiga na armação e na capacidade de Rony em jogar com espaços abertos para contra-ataque teria de vir junto com a clareza de que isso significa atrair uma equipe que gosta de ter o campo para jogar. 

E o meio campo do Palmeiras nada vez para dificultar o jogo ao gosto do Defensa y Justicia, que é de Beccacece, mas ainda com muitos traços de Crespo, atual treinador do São Paulo. O Defensa sabe o momento de ser vertical e infiltrar, mas precisa do meio campo sob seu controle para isso. E Abel Ferreira escolheu ceder este terreno. Custou caro, com gol nos acréscimos. 

Abel não deve ser condenado. Seu trabalho não é ruim. Mas ainda está longe de ter o “romantismo” que ele disse ter em seu retorno das férias. O melhor do Palmeiras ainda está no pragmatismo de saber se armar para contra-atacar, sem que isso signifique se recolher completamente.

Ele terá mais dois jogos contra o modesto, mas desafiador Defensa y Justicia na Libertadores para provar sua capacidade de variar esquemas.

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