Depois de duas décadas com Tom Brady e Bill Belichick brincando de dinastia em New England, a Conferência Americana da NFL (AFC) em 2021 dá sinais de que entendeu o recado e que não vai facilitar o surgimento de uma nova dinastia com os Chiefs de Patrick Mahomes, como muitos temiam e apontavam os “sucessores” dos Patriots.
Quarterbacks promissores, priorização de pass rushers para a defesa e investimentos nas secundárias são alguns dos fatores que explicam o equilíbrio e a indefinição de favoritos passado o “primeiro turno” desta temporada regular. Após 9 semanas, 11 dos 16 times da AFC possuem campanha positiva, e todos indicam que vão brigar por playoffs pelas próximas 9 semanas, cada um em sua devida prateleira. Confira o panorama de cada um:
Favoritos em alerta – Chiefs e Bills podem mais do que já apresentaram
Atuais finalistas da Conferência Americana, os dois times vêm mostrando irregularidades e baixo desempenho de seus quarterbacks, que já correm por fora na briga pelo MVP da temporada. Mahomes, dos Chiefs, tem 10 interceptações em 2021 e não vem sendo protegido pela linha ofensiva (reformulada pós vexame no Super Bowl LV contra os Buccaneers) e, muito menos, ajudado pela sua defesa, a 6ª pior da liga em pontos cedidos.
Já em Buffalo, a defesa é a melhor da NFL na temporada, tendo, inclusive, dois jogos sem tomar pontos. A dificuldade dos Bills é justamente a inconsistência de Josh Allen, que vem evoluindo desde que foi draftado (2018), mas as atuações nas últimas três partidas custaram duas derrotas e a exposição na AFC East, que agora tem os Patriots na cola com o mesmo número de vitórias (5).
Apesar do princípio de crise nas duas potências da AFC, o favoritismo continua muito por conta do que os quarterbacks podem entregar e já entregaram em suas carreiras. Apoio de duas das torcidas mais enlouquecidas da liga não vai faltar, resta agora a genialidade de Mahomes e de Allen aparecer nessa metade final da temporada, para, quem sabe, se reencontrarem na decisão da AFC.
Titans, Ravens e Chargers já são gratas surpresas da temporada
Os Titans chegaram como quem não queriam nada e atualmente possuem a melhor campanha da AFC. Vitórias contra Chiefs, Bills, Rams, Colts duas vezes: qual o limite do Tennessee Titans? A ausência de Derrick Henry. O principal jogador da equipe se lesionou na semana 8 e, provavelmente, só retorna aos playoffs. O treinador Mike Vrabel tem tempo e condições de pensar em formas para driblar a “Henrydependência” dos últimos três anos, afinal, um ataque de apenas uma peça é facilmente neutralizado, como os Ravens fizeram na última Rodada de Wild Card.
Essa vitória de Baltimore foi a primeira das sinas que o quarterback Lamar Jackson quebrou: vitória em playoffs. Em 2021, Lamar também venceu os Chiefs – sua antiga kriptonita na liga – e mostrou-se corajoso e resiliente o bastante para virar partidas. Além das melhoras psicológicas, o quarterback dos Ravens melhorou sua precisão em passes, fundamento em que foi tão criticado em 2020 (mesmo tendo sido, unanimamente, o MVP de 2019 e liderando a liga em passes completos). Injustiçado e dando a volta por cima semana pós semana, Lamar Jackson anima o torcedor dos Ravens para o futuro – que pode muito bem ser já, nesta temporada.
A última grata surpresa é o Los Angeles Chargers de Brandon Staley, que é um dos favoritos ao prêmio de treinador do ano, e do quarterback Justin Herbert, em seu segundo ano como profissional e já está na conversa para MVP. Líderes da AFC West, defesa consertada, linha ofensiva reforçada: os Bolts ameaçam o domínio dos Chiefs na divisão (já conquistaram uma importante vitória em Kansas City nesta temporada, inclusive) e estão a poucos ajustes – entre eles a efetividade do ataque, que não houve nas partidas contra Baltimore e New England – de sonharem com o Super Bowl em casa, no SoFi Stadium.
Prateleira “Browns” – prontos para playoffs
O Cleveland Browns merece uma prateleira isolada para si. Por enquanto, não dá para coloca-los como plenos favoritos, nem como grata surpresa (pois já são realidade) e nem em categorias inferiores, então Browns permanecem na categoria “Browns”. Um time que vence fazendo 14 pontos, mas perde anotando 42. A entrega nas partidas-chave (contra os Chiefs, por exemplo) e o sentimento de “a gente ganha quando quiser” em partidas como contra Minnesota e Denver. Os Browns são imprevisíveis, mas aparentemente é o que eles querem ser e não tem nada de errado nisso.
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Depois de anos de frustrações e tristezas na posição de quarterback, Baker Mayfield consolida-se como o personagem principal desse time. Não era o melhor quarterback de sua classe (2018), não é o melhor atualmente, mas é o que os Browns precisam: coração. Em 2020, confirmaram vaga nos playoffs após 19 anos com uma vitória contra o campeão da AFC North Pittsburgh Steelers, eliminaram os mesmos Steelers em Pittsburgh e ficaram a um touchback de eliminar os Chiefs em Kansas City. Todos os jogos decisivos tiveram coração e liderança de Mayfield, um quarterback que nem toda semana empolga e entrega vitórias elásticas, mas que vai vender caro todas as derrotas e eliminações (se é que os Browns serão eliminados nos próximos playoffs…)
Qual o limite para o subestimados Bengals e Raiders?
No início da temporada, previa-se que esses dois times ficariam para trás em suas divisões, devido aos reforços e drafts que seus respectivos rivais realizaram. Porém, quem acompanhou a primeira metade da temporada certamente se surpreendeu com o Cincinnati Bengals e o Las Vegas Raiders, que podem estar perto do limite – respondendo à pergunta do intertítulo – mas merecem destaque e respeito pelo que já foi apresentado.
Os Bengals de Zac Taylor, que enfim vem mostrando resultados como treinador principal, começaram a temporada com importantes e surpreendentes vitórias, entre elas contra os rivais Steelers e Ravens fora de casa. O dilema “Sewell ou Chase?” do Draft também já foi respondido e acertado, pois Joe Burrow não tem sofrido tanto com a linha ofensiva como em 2020, e o wide receiver Ja’Marr Chase é o principal candidato para calouro ofensivo do ano. A sequência de duas derrotas dos Bengals pode ter indicado limite para 2021, mas a dupla Burrow-Chase promete, em um futuro próximo, ser tão empolgante como foi em 2019 no College.
Para os Raiders, o teto de produção é projetado por conta das polêmicas extracampo do time. Os e-mails do treinador Jon Gruden, o acidente com vítima fatal provocado pelo wide receiver Henry Ruggs, as ameaças com armas do cornerback Damon Arnette nas redes sociais: tudo isso, embora os envolvidos já tenham sido dispensados, precisa ser bem administrado para que não sinta em campo. O quarterback e líder do time Derek Carr, um dos melhores passadores desta temporada, tem papel fundamental nesse período turbulento dos Raiders, que podem perder um ano de trabalho devido a distrações que eram evitáveis.
A briga por fora – não pensam em Draft, mas se vier playoffs é lucro
Os Patriots até ameaçam momentaneamente os Bills na liderança da divisão, mas a prioridade em New England é reconstruir e preparar o quarterback calouro Mac Jones para o futuro. Das 5 vitórias até agora, 4 foram contra adversários fracos (e os Patriots não tem culpa disso, que fique claro) e ainda tem duelos diretos contra Buffalo. Em se tratando de Bill Belichick, não dá para subestimar, mas a realidade e a prioridade não é voltar ao topo, como estiveram em um passado recente.
Os Steelers vêm de 4 vitórias consecutivas e são os atuais campeões da AFC North, mas a competitividade que está por vir não está ao alcance físico e técnico do quarterback Ben Roethlisberger, que deve estar fazendo sua última temporada antes da aposentadoria (e por isso, precisam pensar no futuro para a posição). Dois confrontos contra os Ravens, Bengals em Cincinnati, Titans, Chargers, Chiefs… talvez nem a ótima defesa comandada por T.J. Watt dê conta do modo “all-in” imposto por Mike Tomlin, treinador desde 2007 e que nunca teve campanha negativa em Pittsburgh.
Os Broncos retomaram a campanha positiva após a vitória sólida contra os Cowboys, mas atuações como esta precisam ser regra e não exceção, e pelo elenco que têm há totais condições de repetir o nível mostrado em Dallas. O calendário fácil permite que Denver sonhe em pós-temporada, de fato, mas para isso precisa vencer dentro da AFC West – especialmente contra Mahomes, que nunca perdeu para os Broncos na carreira. Além das expectativas, há a pressão no treinador Vic Fangio para acabarem com a seca em Denver, que não vão aos playoffs desde a aposentadoria de Peyton Manning pós Super Bowl 50.
Por fim, os Colts são a única equipe com campanha negativa na lista, mas que têm elenco para sonhar com a pós-temporada (ainda que novamente no limite, como foram em 2020 com a última vaga da AFC). O que é incerto em Indianapolis é o quarterback Carson Wentz, que ainda não renasceu com Frank Reich, treinador que fez Wentz brilhar em 2017 na vitoriosa temporada dos Eagles. Além da dependência da melhor versão de seu quarterback, o início 0-3 foi péssimo (três jogos na NFL é muita coisa!) e as duas derrotas para os Titans colocam os Colts como uma decepção, porém não pode ser totalmente descartada na conferência tão competitiva que vem sendo e promete continuar sendo a AFC em 2021.
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A briga pelo troféu Lamar Hunt promete ser mais aberta do que nos últimos 20 anos, período que apenas 6 quarterbacks conquistaram o passaporte para a final da NFL. Nesta metade final da temporada regular, as disputas pela folga na Rodada de Wild Card, pela conquista de divisão e o direito de jogar ao menos um jogo eliminatório como mandante, por uma das três vagas como não-campeão de divisão e para “não bater na trave” prometem, mas apenas um vai sobreviver e enfrentar o campeão da Conferência Nacional (NFC) no dia 13 de fevereiro de 2022, data do Super Bowl LVI.
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