Ary Borges viveu um dia dos sonhos. Aliás, nem ela poderia imaginar uma estreia tão perfeita. Em sua primeira partida de Copa do Mundo, a jogadora marcou três gols e deu uma assistência na vitória do Brasil por 4 a 0 sobre o Panamá, em Adelaide, na Austrália. A meia se tornou artilheira do Mundial, mas antes de chegar na Seleção, contou com a bênção da avó para investir no futebol.
— E a minha avó, sábia pra caramba, deu a bênção dela: ‘Na vida, as coisas acontecem quando têm que acontecer. Os seus pais já viveram tempo demais longe de você. Tá na hora de ir ficar com eles e correr atrás de seus sonhos lá. Eles vão te ajudar e eu vou ficar bem, não se preocupa’. Pô, rodeada de gente sensacional assim… O que mais eu podia desejar? — disse Ary Borges em entrevista ao site ‘The Players Tribune’.
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Ary Borges foi criada pela avó dos 3 aos 10 anos. Ela deixou São Luís, no Maranhão, sua cidade natal, para apostar na vida em São Paulo, ao lado de seus pais. E foi na capital paulista que ela desenvolveu o amor pelo futebol ao lado de Dino Borges, pai da jogadora e torcedor do Tricolor do Morumbi.
— Chegando em São Paulo eu comecei a me conectar com meu pai por meio do futebol. São-paulino doente, ele queria que eu torcesse pro time do coração dele, aquela coisa bem de pai pra filha. Então a gente passava um tempão juntos falando de futebol, assistindo futebol, respirando futebol. Eu, que já gostava pouco do assunto, né? (risos), fiquei ainda mais hipnotizada e encantada com o futebol. Comecei a perceber que aquilo era mais forte do que uma brincadeira de criança, que mais cedo ou mais tarde ia se tornar a minha razão de viver — disse a meio-campista.
O pai viu que Ary levava jeito no futebol e um dia, voltando do trabalho, ele viu a filha na rua jogando bola. Dino Borges decidiu procurar uma escolinha para ela e achou a sede dos Meninos da Vila, escolinha do Santos, que na época, ainda não tinha um departamento específico para o futebol feminino.
— Em São Paulo eu continuei indo pra escola de manhã e, à tarde, jogava bola numa quadra com os meninos do colégio. Só tinha eu de menina. Um dia meu pai, voltando do trabalho, passou na quadra e me viu jogar pela primeira vez. Mais tarde, na mesa do jantar, ele comentou que tinha me visto e ficou impressionado. ‘Acho que tá na hora de buscar algo mais sério pra você’. E foi assim que eu entrei numa escolinha do Santos, a Meninos da Vila — declarou Ary.
Dino Borges sabia que a filha tinha potencial. Tanto que pouco depois, o pai levou Ary para o Centro Olímpico, clube focado no futebol feminino e que formou a jogadora. Ela entrou no sub-15 aos 11 anos e depois dali não parou mais.
— O Centro Olímpico foi determinante. Eu tinha 11 anos e treinava em dois horários, na minha categoria e depois com a categoria acima, das meninas mais velhas. Três vezes por semana. Ali, embora fosse uma criança ainda, eu passei a ter uma rotina de atleta. Se era aquilo mesmo que eu queria pra minha vida, teria que seguir alguns padrões mais sérios, tipo: alimentação, sono, compromisso, tudo mais — afirmou a artilheira.
Ary Borges se transferiu para o Sport e despontou no futebol profissional. Dois anos depois, a meio-campista realizou o sonho do pai e jogou no São Paulo, onde ajudou o time a conquistar o Brasileirão A2. A jogadora ainda passou pelo Palmeiras, quando foi campeã da Libertadores, e depois foi para o Racing Louisville, dos EUA.
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Hoje, aos 24 anos, Ary Borges estreou em uma Copa do Mundo e bateu inúmeros recordes. A filha do seu Dino Borges se juntou a Pretinha, Sissi e Cristiane como as brasileiras que fizeram um hat-trick no primeiro jogo de um Mundial. E com a bênção da avó, ela ajudou a Seleção a começar a caminhada pela primeira estrela com o pé direito.
A Seleção volta a campo na manhã do próximo sábado, às 07h (horário de Brasília), contra a França, no Brisbane Stadium, pela segunda rodada do grupo F da Copa do Mundo Feminina. O Brasil lidera a chave com três pontos.