A conquista da Taça Libertadores em 1999 pelo Palmeiras guarda muitas histórias particulares. Desde sua estreia na competição, em 1961, o time bateu na trave duas vezes (1961 e 1968) ficando com o vice campeonato e se tornando o primeiro time brasileiro a chegar na final da mais importante competição Sul-Americana. Mas no dia 16 de junho de 1999, a espera pelo título acabou.
O Palmeiras teve pela frente o Deportivo Cali, da Colômbia. A equipe paulista perdeu a primeira partida por 1 a 0 e precisava da vitória no segundo jogo.
Evair, que entrou substituindo Arce, foi autor do primeiro gol da partida. Marcou de pênalti aos 19 minutos do segundo tempo. Zapata empatou para os colombianos, também de pênalti. O resultado consagraria o Deportivo Cali campeão, mas aos 30 minutos, Oséas apareceu para completar o cruzamento de Júnior e balançar a rede.
O jogo caminhava para a disputa de pênaltis, mas a emoção estava longe de ter seu fim. Evair foi expulso aos 49 minutos e a dobradinha Palmeiras e fé se tornou cada vez mais importante no roteiro desta partida.
Evair, que é evangélico, desceu ao vestiário e encontrou Padre Pedro. O sacerdote era grande amigo de Felipão e costumava participar das preleções da equipe. De lá, ambos se juntaram e rezaram em prol do Palmeiras, cada um em sua fé.
No apito final que confirmou as penalidades máximas, o goleiro do Deportivo Cali, Dudamel, comemorou. O que ele não esperava era que aquela era a noite da consagração do outro arqueiro, aquele que ficaria conhecido como São Marcos. Para muitos, o verdadeiro santo que iria ajudar a massa palmeirense estava em campo. Marcos já tinha sido canonizado pelos torcedores nas quartas de finais da competição, após eliminar o rival Corinthians em uma partida de defesas milagrosas, ganhando o apelido de “São Marcos”.
Com o time preparado para as cobranças, e os jogadores escolhidos para a decisão dos pênaltis, o Verdão contou com a ajuda de um grande ídolo, mas que não estava no elenco, e sim pertencia ao passado de glórias do clube.
Oberdan Cattani, apesar de não ter entrado em campo, pode ter dado uma grande contribuição para esta conquista. Considerado, por muitos, o melhor goleiro da história do Alviverde, o ex-arqueiro foi um dos principais personagens na mudança de nome do Palestra Itália para Palmeiras. No auge de seus 80 anos, preferiu acompanhar as cobranças de pênalti de outro lugar.
Cattani, que assistia o jogo da tribuna, caminhou para a parte inferior do antigo Palestra Itália, onde estava localizado os bustos dos ex-colegas de time. Lá, Oberdan, pediu em oração para os companheiros, já falecidos, ajudarem o Verdão no título inédito. E como sabemos, o pedido foi atendido prontamente, mas de uma maneira um tanto quanto emocionante.
Na primeira batida, Zinho acertou uma bomba no travessão, e deixou o Palestra Itália inteiro calado. O filme do vice campeonato estava passando novamente pelos olhos de cada um. Até que, no quarto arremate do Deportivo Cali, Bedoya também bateu na trave, trazendo à tona uma esperança mais verde do que nunca.
Na quinta batida alviverde, Euller marcou e deixou o time da casa em vantagem pela primeira vez. Bastava um erro do time adversário e o Palmeiras se consagraria campeão da Libertadores. O torcedor Valdir Vital, presente no Palestra Itália na ocasião, descreveu a atmosfera de euforia.
“O estádio todo, uma coisa absurda, quem tava lá sabe que estou falando a verdade. Todo mundo gritando FORA, foi um coro de mais de 30 mil vozes (…) eu acredito que aquilo também ajudou a bola a não entrar, graças a Deus”.
Zapata foi para cobrança. Um chute pra fora, do lado oposto a Marcos, tornou a América verde e branca. Com a torcida enlouquecida, o grito preso na garganta de cada torcedor alviverde estava livre! Se foi pela fé ou não, cada um pode tirar sua própria conclusão, mas a partir daí foi criada uma verdade absoluta. Pela primeira vez em sua história, o Palmeiras conquistou a taça Libertadores da América.
Ficha Técnica
Palmeiras (4) 2×1 (3) Deportivo Cali
Data: 16/06/1999
Local: Estádio Palestra Italia, São Paulo-SP
Juiz: Ubaldo Aquino (Paraguai)
Cartões amarelos: Alex (PAL), Betancourt (DCA), Córdoba (DCA), Dudamel (DCA), Hurtado (DCA), Júnior Baiano (DCA), Zapata (DCA) e Zinho (PAL)
Cartão vermelho: Mosquera (34′ do 2º tempo-DCA) e Evair (49′ do 2º tempo-PAL)
Palmeiras: Marcos; Arce (Evair), Júnior Baiano, Roque Júnior e Júnior; César Sampaio, Rogério, Zinho e Alex (Euller); Paulo Nunes e Oséas. Técnico: Luiz Felipe Scolari.
Deportivo Cali: Dudamel; Pérez (Gavíria), Mosquera, Yépez e Bedoya; Zapata, Viveros, Betancourt e Candelo (Hurtado); Córdoba (Valencia) e Bonilla. Técnico: José Hernández.
Gols: Evair (20′ do 2º tempo-PAL), Zapata (25′ do 2º tempo-DCA) e Oséas (31′ do 2º tempo-PAL). Nos penâltis: Dudamel (DCA), Júnior Baiano (PAL), Gavíria (DCA), Roque Júnior (PAL), Yepes (DCA), Rogério (PAL) e Euller (PAL)