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Campeão mundial em 1970, Paulo Cézar Caju revela amizade e admiração pelo Rei: ‘É um homem anormal, fora do comum’

Foto: Divulgação CBF
DANILLO PEDROSA E LAÍS POLITI

Idolatria, parceria em campo e amizade! A história de Paulo Cézar Caju no futebol, com passagens pelos quatro grandes do Rio e campeão do mundo em 1970, se confunde também com a de Pelé, que completou 80 anos na última sexta-feira (23). Com admiração, o ex-atacante falou com exclusividade ao Esporte News Mundo sobre o Rei do Futebol.

— O Pelé é um homem anormal, fora do comum. Ele tem um carinho e um respeito muito grande por todos. Nós o chamávamos de Rei não era por imposição, era por carinho. E isso se tornou um hábito, tanto que ele ficou mundialmente conhecido assim — elogiou.

As coincidências entre os dois começam pela mãe de Caju, Sebastiana, que também nasceu em Três Corações (MG), cidade natal de Pelé, antes de se mudar para o Rio de Janeiro. Já na infância, na favela Ladeira do Tabajara, em Botafogo, Caju era mais um dos milhões de brasileiros encantados com o futebol do camisa 10 da seleção brasileira e ganhou até apelido em referência ao Rei. 


— Eu e Pelé temos uma afinidade anormal, poucas pessoas sabem disso, mas minha mãe também é de Três Corações, a mesma cidade que ele nasceu. Ela era escrava em Minas, e depois mudou para o Rio. Então eu tenho um pezinho mineiro, apesar de ter nascido no Rio. Minha admiração pelo Pelé começou desde que eu comecei a jogar futebol, aos 10 anos de idade. Mais ou menos nessa época eu passei pra jogar futebol de salão no Flamengo. Comecei a treinar e me destacava, as pessoas me chamavam de ‘Pelezinho’ — contou Caju.

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Destaque nas categorias de base de clubes do Rio, por último o Botafogo, no qual se tornaria ídolo, o ‘Pelezinho’ não demorou para se aproximar do verdadeiro. Aos 17 anos, enfrentou o Rei pela primeira vez, e saiu com um empate muito comemorado contra o Santos, no Pacaembu. Com talento de sobra, as convocações e amizades eram questão de tempo. 

— Minha primeira convocação veio em 1968. Essa foi a primeira vez que eu e ele nos aproximamos de verdade, viramos amigos. Eu contei pra ele da minha mãe, que era uma mulher negra, batalhadora, humilde, que já tinha sido escrava e que era da mesma terra que ele. Então ele foi visitar minha mãe. Desde então, sempre que ele ia no Rio, ele passava lá em casa para visitá-la. Na época os grandes jogos aconteciam sempre no Rio, então era bem frequente — explica o ex-jogador, que, em campo, teve uma parceria de sucesso com Pelé.

Abaixado ao lado direito de Pelé, Caju foi titular na vitória por 3 a 2 sobre a Romênia na Copa do Mundo, no dia 10 de junho de 1970.


COPA DE 1970 – SELEÇÃO BRASILEIRA

— Fomos disputar a Copa e ficamos 40 dias na Cidade do México, que tem 3200m de altitude. Então nós treinamos muito para não sofrer com as condições locais. Nesse período, minha admiração por ele foi crescendo cada vez mais. Ele sempre teve muita disciplina e nos ajudava muito. Aí veio a vitória. Ganhamos a Copa de 70. Foi excepcional por diversos motivos! O Brasil vinha de um fiasco enorme da Copa da Inglaterra e o futebol brasileiro estava taxado como indisciplinado pela bagunça que foi. O Pelé foi fundamental, ele já era o atleta do século, já era campeão do mundo quatro vezes, duas pelo Santos e duas pela Seleção, então ele conseguiu passar um pouco da experiência que tinha pra equipe e foi decisivo no título, né?!


COMEMORAÇÃO PELOS 50 ANOS DO TRI


— Este ano teríamos grandes eventos e homenagens em comemoração aos 50 anos do Tri. Já estava tudo agendado. Infelizmente, a pandemia fez com que essas festividades fossem adiadas, mas elas ainda vão acontecer. Esse marco dessa grande conquista ainda terá comemorações. Vamos aguardar tudo se estabilizar para comemorar em segurança. E prezando sempre pela saúde do Pelé, que está com a imunidade baixa e precisa ser preservado, e do Zagalo também!

Copa do Mundo de 1970 – Pelé e Paulo Cézar Caju comemoraram o tricampeonato juntos

RELAÇÃO COM O REI NOS DIAS ATUAIS

— Eu me casei com uma paulista e mudei pra São Paulo. Então, em 2005, eu tive um reencontro com o Pelé. Fui convidado para trabalhar na empresa dele de Marketing Esportivo como conselheiro. Nesse dia, ele me deu uma camisa autografada: “ao meu meu irmão, um grande abraço”. Ainda somos grandes amigos, mas infelizmente, devido à pandemia, não posso ir visitá-lo, mas ainda temos contato. Ele está muito debilitado da saúde, então o cuidado precisa ser redobrado. Mas recentemente recebi uma boa notícia: a FIFA está produzindo um filme sobre a Copa de 70 e pediu ao Pelé para selecionar cinco peças importantes para dar depoimento pro filme. E eu fui um dos escolhidos. Gravamos na semana passada. Será um filme maravilhoso!

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RECORDAÇÕES MARCANTES

— Eu tenho tanta admiração pelo Pelé que me recordo exatamente de três declarações que ele deu em três grandes momentos da carreira dele. E eu estava presente!  Em 69, no milésimo gol, ele disse ao final da partida “vamos cuidar das crianças pobres E isso teve uma repercussão mundial, foi considerado manifestação política, acredita?! Imagina, em 1968 você dizer isso para a imprensa. Ele foi crucificado. Em seu último jogo pela Seleção, no Maracanã, em 1972, disse que “o Brasil não sabe votar”, Também repercutiu com muita polêmica, mas foi uma crítica necessária e importante. Em 1974, em sua despedida pelo Santos, ele se declarou com apenas três palavras: “love, love, love”, em inglês mesmo. É autoexplicativo. É só a gente comparar com o mundo atual. A declaração dele ainda vale. “O mundo precisa de amor!”.

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