Morreu nesta quinta-feira, 29, Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, aos 82 anos, de falência múltipla de órgãos após complicações causadas por um câncer de cólon. O ex-jogador estava internado há um mês no hospital Albert Einstein, em São Paulo, no qual recebia apenas tratamento paliativo após a ineficácia das sessões de quimioterapia.
Desde sua internação no dia 29 de novembro, Pelé recebeu inúmeras homenagens do mundo do futebol que torciam por sua recuperação, mesmo com a opção pelo tratamento paliativo. Nomes fortes do futebol atual e contemporâneo de Pelé demonstraram um profundo pesar com a passagem do ex-atleta.
Algumas horas após a confirmação da morte de Pelé por parte da família do Rei, o atual senador pelo Rio de Janeiro e ex-jogador de futebol, Romário, surpreendeu a todos mais uma vez ao dedicar um tempo em seu perfil oficial no twitter para prestar condolências a família de Pelé. A atitude que veio dias após o ‘baixinho’ desejar melhoras ao Rei, repercutiu rapidamente na internet.
“Pelé calado é um poeta”
A relação conturbada entre Pelé e Romário começou a ter ruídos barulhentos após uma série de críticas feitas pelo Rei a carreira do baixinho, que nunca soube lidar com críticas vindas de outros nomes do futebol. Em 2005, quando Romário ainda estava em atividade, o Rei resolveu dar um ‘conselho’ ao tetracampeão mundial e recomendou que o jogador encerrasse a carreira.
“Pelé calado é um poeta”, foi com essa frase, que acompanhou o Rei pelo resto da vida, que Romário rebateu as críticas feitas por Edson Arantes do Nascimento. A partir daí, a relação entre os dois não mais existiu. Romário criticava sempre que tinha a oportunidade, no que Pelé raramente rebatia as argumentações do baixinho.
Em 2011, o auge da ‘guerra fria’ foi quando Romário, então deputado federal pelo Rio de Janeiro, ameaçou iniciar uma CPI contra a CBF após alguns escândalos de corrupção começarem a pipocar sobre os estádios para Copa do Mundo de 2014 e o valor dos ingressos para o Mundial. O baixinho sentiu-se menosprezado quando soube que Pelé rebateu as críticas dele a entidade máxima do futebol brasileiro, na época, presidida por Ricardo Teixeira.
“Vou contar a verdade: eu tinha prometido nunca mais falar nada do Pelé. Mas ele diz tanta m…, que não dá para evitar. Repito que o Pelé, calado, é um poeta. Ele não sabe de estatuto, de lei, de p… nenhuma do que acontece. Deveria se candidatar a alguma coisa para entender direito. O Pelé tem que calar a boca, p…!” Esbravejou Romário a jornalistas durante um evento beneficiente promovido por Neymar.
A resposta de Pelé veio a cavalo, o Rei saiu em defesa da CBF e classificou que as falas de Romário eram “uma briga pessoal” entre o baixinho e Ricardo Teixeira. Para encerrar a discussão, Pelé ironizou as queixas apresentadas por Romário e as críticas feitas a ele, resumindo toda a rebeldia do então deputado em “birra”.
Capítulo final reservado para a Paz
Romário prometeu em 2011 não citar mais Pelé, e cumpriu, foram raríssimas as vezes que o baixinho citou o nome do Rei desde as alfinetadas por causa da CBF. Edson também fingiu não ter mais assuntos sobre 1994, e em especial, Romário passou a figurar na ‘geladeira’ da corte do ídolo santista.
Tudo mudou quando Pelé foi diagnosticado com um tumor no cólon em 2021. Romário deu algumas entrevistas em um tom diferente do que usualmente tinha quando o assunto envolvia o tricampeão mundial. Passou a dizer que “como jogador ele definitivamente foi o maior” e evitou fazer comentários de cunho pessoal.
Nesta fatídica semana, quis o destino que o capítulo final dessa novela entre dois opostos do futebol brasileiro tivesse o seu capítulo mais bonito. Romário aproveitou a transmissão do Sportv de um evento beneficiente no qual participou em Uberlândia para direcionar uma mensagem a Pelé.
“Rei, melhoras. Muita fé. O mundo todo está olhando e rezando por você. Melhoras! Beijo no seu coração”, o mais reverenciado dos badboys brasileiros tirou a armadura e mostrou sua torcida por Pelé, como fã, brasileiro mas também alguém que deseja o melhor ao próximo. Romário colocava ali, em tempo, um ponto final para mais de uma década de desavenças.
Pelé não respondeu, e não há a informação de que a mensagem de Romário tenha chegado ao seu conhecimento, a situação de Pelé desde a quinta-feira passada vinha agravando a cada dia, cuja as visitas médicas passaram a ser diárias e repetitivas, sendo 3 ou 4 vezes. Mas, para a posteridade, o baixinho quis a trégua com o Rei para se ver livre de qualquer mágoa ou rancor.
Hoje, 29 de dezembro, o Rei deixou o plano terreno para eternidade e Romário foi um dos primeiros ídolos do futebol brasileiro a escrever algo sobre o legado dele. Pelé e Romário não eram amigos, não compartilhavam de quase nenhuma opinião, e brigaram a maior parte do tempo após a aposentadoria do ídolo do tetra, e mesmo com as alfinetadas e ironias, o respeito e a admiração pelo legado um do outro era presente.
Quis o roteirista do universo permitir que Romário pudesse escrever o último capítulo dessa história, e que tivesse tido o tempo necessário para por uma trégua nessa guerra fria e desejar o bem ao seu próximo. Pelé se foi, mas seu legado continuará presente e será lembrado pelas gerações posteriores, na qual Romário contribuirá para isso.
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