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Árbitro brasileiro é o primeiro do quadro da Fifa a se declarar gay: ‘finalmente eu mesmo’

Foto: Friedemann Vogel/Getty Images

O árbitro de futebol Igor Benevenuto, de 41 anos, se declarou homossexual em entrevista ao podcast do “Nos Armários dos Vestiários”, do site Ge. A série que teve a entrevista do ex-jogador e comentarista Richarlyson na últimas semanas, desta vez ouviu o arbitro que é o primeiro juiz do quadro da Fifa a manifestar a homossexualidade publicamente. “Sem filtro e finalmente eu mesmo”, foi a declaração do árbitro, que resume em poucas palavras, o alívio de Benevenuto.

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Nascido em Minas Gerais e árbitro da federação mineira, Igor Benevenuto contou em entrevista que descobriu a preferência sexual muito jovem e que, para seguir dentro do ambiente do futebol, escolheu disfarçar e montar um personagem. 

– O futebol é um esporte que eu cresci odiando profundamente. Não suportava o ambiente, o machismo e o preconceito disfarçado de piada. Para sobreviver na rodinha de moleques que viviam no terrão jogando bola, montei um personagem, uma versão engessada de mim. Futebol era coisa de ‘homem’, e desde cedo eu já sabia que era gay. Não havia lugar mais perfeito para esconder a minha sexualidade. Mas jogar não era uma opção duradoura, então fui para o único caminho possível: me tornei árbitro.

O árbitro que já está há 23 anos no ramo contou como foi a escolha dele por essa profissão. Ele explicou que seu primeiro contato maior com a possibilidade de ser juiz foi na Copa do Mundo de 1994. Ele afirmou que foi assistir alguns jogos por “obrigação” e que acabou se interessando pela figura do árbitro. Tanto pelos uniformes com cores diferentes, como pelo fato de ser uma figura de autoridade dentro do campo.

– A Copa do Mundo de 1994 foi um estalo para mim. Foi o primeiro campeonato que parei para assistir, por obrigação, é claro. Brasil x Rússia, estreia do Brasil. Olhei a televisão e me interessei imediatamente e exclusivamente pela figura diferente que estava em campo: o árbitro. Foi justamente naquele ano que a Fifa aprovou a mudança dos uniformes dos juízes para o Mundial dos Estados Unidos. O preto deu lugar a cores vibrantes — camisas prateadas, amarelas e rosa. Fiquei enfeitiçado pelo combo — as cores e o cara que controlava tudo. No dia seguinte, na pelada com os meninos, avisei que não iria mais jogar. Queria comandar a partida, e foi assim que comecei a apitar e ressignificar minha relação com o futebol.

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Igor Benevenuto reveleu que entre alguns colegas árbitros, não era segredo que ele é gay, mas frisou que sempre foi tratado com muito respeito. Mas por existir esse boato, ele contou que já sofreu com atos homofóbicos. Entretanto, ele explixou que isso nunca ocorreu por parte de atletas e treinadores, mas sim por dirigentes e torcedores. O árbitro afirmou que toda vez que isso aconteceu, ele relatou na súmula.

– No meio da arbitragem não é segredo que sou gay. E sou bastante respeitado. O pessoal brinca, chama de ‘Sindicato’. ‘Oh, esse aí é do Sindicato’, ‘esse ai sindicalizou’. E por existir esse ‘boato’ em campo, já sofri com atos homofóbicos. O cara fica puto com o resultado de um jogo e desabafa com ofensas contra minha orientação sexual. ‘Sua bichinha, seu veadinho. Eu sei por que você não marcou aquele pênalti. Você deve estar dando o rabo para alguém ali’. Jogadores e técnicos jamais me ofenderam. Isso partiu todas as vezes de dirigente e torcida. E toda vez que isso acontece eu relato na súmula. Uma luta, mas não desisto.

Para finalizar, Igor Benevenuto afirma que não quer ser mais um personagem criado, seja dentro de campo, seja no dia a dia. Ele quer apenas ser ele mesmo, sem nenhuma mascara ou filtro.

– Meu nome é Igor Junio Benevenuto de Oliveira. Sou árbitro de futebol. A partir de hoje, não serei mais as versões de Igor que eu criei. Não serei o Igor personagem árbitro, personagem para os amigos, personagem para a família, personagem dos vizinhos, personagem para a sociedade hétero. Serei somente o Igor, homem, gay, que respeita as pessoas e suas escolhas. Sem máscaras. Somente o Igor. Sem filtro e finalmente eu mesmo.

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