Pan-Americano

Estreante no Pan-Americano, Rebeca Andrade compartilha trajetória e revela que já pensou em desistir

Melhor ginástica brasileira atualmente, Rebeca Andrade falou um pouco com o Time Brasil e contou sobre a sua carreira e resumiu sua preparação para Paris

Foto: Rafael Bello/COB

Rebeca Andrade vem fazendo história na ginástica brasileira. Na sua estreia nos jogos Pan-Americanos 2023, no Chile, a brasileira já chegou conquistando medalha de prata na ginástica por equipes. Rebeca ainda vai disputar outras quatro medalhas em Santiago.

Aproveitando o dia sem competição, Rebeca Andrade falou com a equipe do Time Brasil que está presente nos jogos Pan-Americanos. Na conversa, a ginástica contou tudo sobre sua carreira e projetou os jogos de Paris 2024. Veja todas as respostas da atleta brasileira campeã mundial.

DIFERENÇA ENTRE AS COMPETIÇÕES

Por já ter vivido as experiências de estar em olimpiada e também em um mundial eu acho que a maior diferença é que me sinto muito mais preparada hoje. Eu tenho uma cabeça muito mais madura do que.. se tivesse acontecido nos anos passados e fico muito feliz com isso porque eu consigo chegar nas competições e já ter um foco muito bom para conseguir competir. É muito bom ver vários atletas de várias modalidades de ter esse contato – Inicia Rebeca Andrade

Me perguntaram no momento que a gente estava saindo do refeitório agente encontrou a Raissa e a Pamela a gente conversou e no dia da competição delas a gente conseguiu assistir um pouquinho porque era bem pertinho do nosso ginazio e era um dia de treino nosso. Então é bem legal que a gente tem com outras delegações também. Sensacional! – Completou Rebeca Andrade

PREPARAÇÃO FÍSICA

Para nós é muito importante esse cuidado de ter com o corpo, né? Todo mundo sabe que eu sou um atleta que já teve muitas lesões; foram três de ligamento cruzado, mas eu tenho cinco cirurgias no joelho direito, uma no outro, joelho e uma cirurgia em cada pé. Então a gente precisa muito fazer um bom planejamento para eu conseguir estar pronta em todas as competições, que para gente é importante. Então, ter esse cuidado, chegar no ginásio, poder sentar e conversar com toda a equipe técnica, com o meu médico, equipe multidisciplinar e eles entenderem que é importante para mim é de chegar e falar, eu não posso fazer isso agora porque eu estou me sentindo de tal jeito e respeitarem essa decisão também e eles por me conhecerem já por trabalharem comigo durante anos, é saberem o que é bom para o meu corpo, sabe? – Responde Rebeca Andrade

Então eu chego numa competição pronta e extremamente preparada para fazer três aparelhos, para ajudar a minha equipe, para tirar as minhas melhores notas possíveis, para fazer boas apresentações e a gente conseguiu isso, sabe? Então. É algo, é algo que me orgulha demais saber que eu posso contar com eles, tipo, independente do que aconteça, com erros ou com acertos.

SALTO INCRÍVEL

Nossa gente, foi um salto muito bom, acho em competição, deve ter sido o meu melhor salto do ano. Eu fiz várias vezes lá no mundial, mas esse de ontem (22), gente, foi muito bom. Eu falei “que isso, o que tá acontecendo, garota?” – Desabafa Rebeca Andrade

PARADA PARA DESCANSO E PARIS 2024

Eu vou descansar agora em novembro, porque o Chico (Fernando Porath) já quer que a gente esteja treinando em dezembro, né? Porque é um ano que é muito importante para a gente e eu acho que é isso, assim, continuar cuidando da saúde, claro, do nosso corpo, da nossa mente, justamente por ser um ano muito importante. E não vai ser isso só comigo, porque eu sozinha não faço uma equipe, sabe? Então eu preciso das outras meninas bem também, assim como elas precisam que eu esteja bem, então todo mundo tendo isso em mente e querendo a mesma coisa, eu acho que já faz toda a diferença. O futuro a Deus pertence, a gente não sabe o que vai acontecer, mas tá todo mundo lutando pelo nosso melhor resultado aí.

PERFORMANCE

Eu fiquei bem feliz com a minha série, foi uma das minhas melhores séries também em questão de postura, de técnica. Eu fiquei bem orgulhosa, gente. Foi uma competição que para mim, pessoal. Logo, Foi muito boa para minha cabeça, para o meu corpo. Eu estava bem feliz de poder conseguir me apresentar mesmo depois de uma competição tão longa que foi o mundial, mas de chegar aqui, conseguir fazer os meus treinamentos dentro do ginásio e conseguir chegar na competição e fazer boas Apresentações. Sabe? Todas as minhas notas entrando para a equipe, ajudando a equipe, a gente voltando para casa com esse segundo lugar, já com essa medalha que ninguém vai me tirar, porque eu já tenho, sabe? Então é muito bom.

DIFICULDADE DE SÉRIES

Eu mantive as minhas séries tanto no salto como na paralela e na trave, mas se eu tivesse que fazer um solo, provavelmente eu faria um solo mais simples também. Assim como a Fla (Flávia Saraiva) fez, porque a gente veio de uma competição longa, que foi mundial, então a gente precisa se sentir segura para fazer, mas eu acho que na ginástica tudo pode acontecer. Gente, eu acho que qualquer equipe pode vencer, independente de sendo a melhor ou sendo a pior qualquer. Em qualquer competição, qualquer momento, outra equipe pode vencer, porque na ginástica tudo.

Tudo é muito doido, realmente tudo pode acontecer mesmo. Você pode fazer a melhor competição da sua vida como pode também cair muito e isso deixa a gente muito triste, pois a gente treina pra caramba, mas que também faz parte. O erro também faz parte e a gente aprende muito com ele. Então a gente precisa passar por momentos bons e ruins, mas espero que a gente já tenha passado por todos os momentos ruins e que venham só os bons agora.

CONVÍVIO COM OUTRAS BRASILEIRAS

Eu acho que a questão da experiência das meninas mais velhas e ter a Flávia e todas as meninas que me acompanharam na minha geração, também extremamente talentosas. A gente foi crescendo ali junto, todo mundo desenvolvendo o teu melhor lado e fazendo as suas melhores coisas. E a gente vai acompanhando. Então ter esse crescimento pra gente é muito bom. As meninas são a minha segunda família, então é extremamente importante que elas estejam ali comigo.

Eu senti muita falta delas em Tóquio, porque a gente não teve a nossa equipe. Então, poder competir por equipe e tá tendo esses resultados é algo que me orgulha demais. A Jade não tem nem o que fala. Pessoa extremamente experiente, sempre ajudando a gente com o que precisa, ajudando as meninas mais novas também. A Dai (Daiane dos Santos) foi a maior referência que eu tive dentro do esporte.Ela ia lá no ginásio, no CT, conversando com a gente. Eu conheci ela lá em Guarulhos, mas ela fez bastante visitas pra gente lá no CT, não só nesses últimos anos.

Então é muito legal, elas dividrem as experiências delas, poder conversar com a gente e a gente está sempre muito atenta aos detalhes. Quando elas contam alguma história ou alguma vivência que elas já tiveram. Mas hoje também posso ajudar as meninas mais novas, as da geração mais nova. Eu me sinto uma pessoa nova e aí chega a ser engraçado quando a pessoa chegar e fala “você tem muita experiência e tal”. É muito louco assim de chegar e conversar e falar, “olha, hoje eu já passei por isso, eu sei que é difícil, mas acredita, você consegue ou tá do lado e tá torcendo”. É muito bom.

PASSAGEM DE COROA DE SIMONE BILLES PARA REBECA

Para mim foi muito especial, foi uma experiência muito maneira de estar do lado da Simone e competir com ela, de poder conversar e ver o quanto ela estava bem, o quanto ela estava feliz e leve fazendo as apresentações dela. E o mesmo comigo, eu estava extremamente feliz de estar no mundial, de poder, competir, de estar bem, de estar confiante. Foi sensacional e esse momento também foi muito, muito legal dela passar a coroa. Mas eu acho que a coroa vai ser sempre dela, ela é excepcional. – Comentou Rebeca Andrade

A gente estava conversando ali. Ela acabou perguntando para mim se eu continuaria na ginástica depois de Paris, eu falei que eu não sabia, pois ia depender muito do meu corpo e tal. E ela logo falou que depois de Paris não dava mais para ela e que ela precisaria descansar. Daí eu falei “não, não faz isso, a gente precisa de você”, porque a ginástica precisa dela e ela é de outro mundo. É um talento absurdo e não só a ginástica, mas o esporte também, com todo com toda a história dela. Com todo o talento que ela tem, ela é um orgulho, uma referência para muitos de nós. Logo, ela foi, pegou e passou a coroa assim.

PENSOU EM ABADONAR A CARREIRA

Sim, das três vezes que eu rompi o ligamento, eu falei “eu não quero mais essa vida não é pra mim, mãe!!, vem me buscar”. Na última vez eu falei, para ela ligar pro meu tio Betinho e ele trazer o caminhão que eu iria voltar para casa. Mas, eu acho que faz parte. Quando um atleta de alto rendimento machuca assim e sabe o tanto de tempo que ele vai precisar ficar fora do ginásio ou do do lugar onde você treina, pra gente é muito complicado e a ginástica é um esporte que tem muito impacto, então gera dúvidas em todas as vezes eu não sabia. Logo, o meu medo era de voltar a fazer ginástica e não ser tão boa quanto eu era antes, porque eu, assim como as pessoas falavam, eu também sabia de todo meu potencial.

Mas, não adianta nada você ter talento e você não trabalhar no teu talento e eu precisava trabalhar isso. Então, quando eu machuquei, eu falava, “meu Deus, não vou conseguir voltar” em 2015, que foi a minha primeira cirurgia. Eu lembro que eu estava triste, em casa, porque as meninas tinham ido, acho que para o pan e eu não pude estar junto e eu queria muito estar lá e eu chorava porque eu falava para minha mãe que eu queria estar junto com elas e tudo mais.

Assim, um dia antes de eu voltar pro meu primeiro dia de treino, eu fui pra minha mãe que eu não queria mais que eu queria ir embora, queria voltar pra casa, que a ginástica não era mais pra minha vida. E ela perguntou, por que que eu tava falando aquilo? Mas ela já sabia e eu falei que eu só queria voltar. Ela falou que não ia me deixar desistir porque eu estava com medo de tentar e foi a melhor coisa que ela poderia ter falado pra mim ao invés de passar a mão na minha cabeça, ela mostrou que eu tinha força suficiente pra voltar e continuar realizando todos os meus sonhos e correndo atrás de meus objetivos e logo depois eu voltei ainda melhor.

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Eu machuquei em 2017, 2018 eu voltei melhor, depois eu machuquei em 2019, 2020 eu estava excepcional e foi brilhante. Assim, foi uma trajetória que foi muito difícil, mas eu vejo ela como algo muito positivo para a minha vida, para minha carreira, e eu me orgulho demais por tudo o que eu precisei passar. E por mesmo tendo pensado em desistir, não ter desistido, eu lembro que 2019 também quando eu eu liguei para o Chico e falei, “eu não quero mais, eu vou voltar para para casa”

Nessa mesma noite algo eu estava dividindo o quarto com a Lorraine, e eu estava chorando muito porque eu estava sentindo saudades da minha mãe, eu só queria um abraço e tudo mais, porque eu estava muito chateada. Eu falava em pensamento, “eu só queria um abraço, eu só queria um abraço” e orando falando e com Deus e tudo mais. A Lorrane abriu os olhos, ela deitou na minha cama e me deu um abraço.. Foi ali que eu senti que não estava na hora de desistir, ainda que eu tinha uma equipe que eu tinha força, que eu tinha uma família, que eu tinha os meus amigos e estava todo mundo torcendo por mim, não torcendo para que eu fosse a melhor ginasta do mundo, mas para que eu acreditasse que eu era capaz de fazer o que eu quisesse dentro do esporte, que eu pratico.

Rebeca Andrade com a medalha de prata dos jogos Pan-Americano – Rafael Bello/COB

Então, foi essa sensação que eu senti na hora assim, e eu falei, “não, eu vou continuar, eu vou voltar”, aí eu liguei pro Chico e falei, “eu vou voltar e vai dar certo”. Não digo dar certo de conseguir uma medalha, mas vai dar certo isso que eu vou conseguir voltar e tipo, eu vou voltar bem. E poder falar isso e olhar para trás e ver que valeu a pena eu ter acreditado em mim e todas as pessoas que trabalharam por mim acreditaram também. Eu não tenho palavras, eu sou uma pessoa muito abençoada, gente muito, muito mesmo

Eu acho que além do Chico ter o acesso a parte da equipe multidisciplinar, com médicos, psicólogos, pessoal da preparação física, eu acho que isso é essencial pra gente, porque um cuida da nossa mente, outros cuidam dos nossos corpos para que a gente possa chegar confiante e fazer todos os dias um bom treino dentro do ginásio. Então ter todo esse suporte, ter toda essa ajuda do Comité dos nossos clubes, da CBGE isso para a gente é é algo que significa muito.

APOIO

Porque são essas pessoas acreditando na gente para que a gente tenha sucesso, e se não fosse por isso, a gente não estaria aqui hoje, não teria feito a história que a gente fez nesse mundial, não teria alcançado as minhas medalhas. Eu não estaria aqui, talvez nesses jogos para não estaria vivenciando essa experiência maravilhosa para minha vida e eu acho que é isso, ter todo ter toda essa galera aí acreditando os fãs também, esse carinho, esse calor que eles levam em cada apresentação, os gritos, a alegria, os choros, faz faz a gente pensar e acreditar que tudo está valendo a pena e é sensacional – Finaliza Rebeca Andrade

AS LESÕES DEIXAM MAIS FORTE?

Eu não sei se elas ficam menores, mas eu acho que são coisas diferentes quando a gente está fora do ginásio, é triste porque você vê todo mundo evoluindo e você fica estagnado no mesmo lugar, porque você só pode fazer fisioterapia. Mas a partir do momento que você entende que aquela fisioterapia é o que vai, é o que vai te preparar para que você chegue no ginásio e evolua também no teu momento, a cabeça já tá tipo em outro lugar, sabe? E na competição é mais uma briga interna com você mesmo, de conseguir manter o seu corpo tranquilo, manter a sua mente concentrada.
E não se distrair com algumas coisas, então eu acho que é a briga é meio diferente.

REFERÊNCIA BRASILEIRA

Com certeza é, eu espero que eles tenham a oportunidade e que saibam aproveitar também essa oportunidade, porque é eu sei que que é muito difícil a gente ter apoio nos esportes às vezes, né? No Brasil, como eu falei, eu me sinto muito privilegiada por ter tido isso. Então é acreditarem na base e acreditarem nos sonhos das crianças e os adolescentes e que eles consigam e que eles sigam trabalhando firme para alcançar os seus sonhos também, porque ninguém chega a lugar nenhum sozinho. – Respondeu Rebeca Andrade

Mas não adianta nada, é alguém querer mais do que eu. Se o Chico quisesse mais do que eu ser um campeão olímpico ou ser um medalhista olímpico não aconteceria, sabe que é um trabalho em equipe. São muitas pessoas trabalhando, trabalhando junto com o mesmo pensamento e querendo as mesmas coisas. Então quando isso acontecer, que eles batalhem muito medo para alcançar. Eu não estou dizendo que vai ser fácil, talvez seja até mais difícil do que foi para mim, ou talvez seja um pouco mais fácil do que foi para mim, mas é acreditar e continuar correndo atrás, sabe? Tendo pessoas que se importam com você, que querem o teu sucesso tanto quanto você e que você não desista. Independente de qualquer coisa, não desista. – Terminou Rebeca Andrade

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