Verdão, Macaca, Colorado, Soberano, Timão, etc. Todo time que se preze tem um apelido tão relevante e histórico quanto seu próprio nome, e o Guarani também não podia ficar de fora, o apelido “Bugre” tem tanta história e peso quanto os outros, mas afinal, da onde surgiu esse apelido e o que ele verdadeiramente significa?
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HISTÓRIA
A origem da palavra Bugre possui diversas contradições e imprecisões histórias sobre sua origem etimológica, dentre elas, uma tese amplamente aceita é que a palavra surgiu através de um movimento herético, representando uma força contrária aos preceitos inseridos pela igreja ortodoxa no século IX, na idade média.
O responsável pelo surgimento dessa “seita” teve seu conhecimento na Bulgária sendo batizado originalmente como Bogomilismo, inspirado no nome de seu fundador, padre Bogomil.
O Hereticismo, movimento no qual o Bogomilismo foi inspirado, era tendência na Europa principalmente após as múltiplas religiões derivadas do Cristianismo estarem surgindo. O Hereges, acreditavam principalmente na ideia de negação ao mundo terreno e de tudo que é matéria, pois esta é criação do Diabo, artífice da natureza, que se encontra em todos os homens; nega os rituais da Igreja Católica, os sacramentos, o matrimônio, o batismo, a liturgia, os ornamentos e a cruz. Os adeptos dessa doutrina não comiam carne, confessavam-se e absolviam-se entre si, constituindo uma comunidade fechada em si mesma, autossuficiente e questionadora dos valores morais e religiosos vigentes. Eles não aceitavam nem mesmo a veneração da cruz, porque era de matéria perecível; e tudo aquilo que tem este caráter perecível era também recusado.
Dado esse conceito, o sentido da palavra Bugre vai se “transformando” em algo mais xucro e devasso, pois era o oposto do que era pregado no cristianismo, portanto a palavra era considerada, devassa, pederasta e infiel, representando a parte mais baixa da sociedade da Europa na idade média.
O termo, na América do Sul, foi associado principalmente à classe dos índios, trazendo ainda mais a ideia de falta de puritanismo e falta de classe. Os índios por sua vez, nos conceitos da época, eram “bugres” pois não cobriam suas partes, eram sujos, impuros e sem vergonhas, não ligando para atos que eram “nobres” pela sociedade atual.
Portanto, no conhecimento da igreja da época, os índios eram vistos como contra as ideias da igreja católica e cristã, fazendo assim os indígenas serem conhecido como “bugres”, pois eram, de acordo com a igreja, extremamente similares aos preceitos estabelecidos pela própria sociedade dos Bogomilistas tempos atrás.
A maior problemática exercida sobre os índios da época era o imenso abismo cultural entre os dois povos que nunca haviam convivido juntos, portanto o termo “bugre” era associado erroneamente pela igreja cristã aos povos que somente eram diferentes culturalmente da população europeia.
ATUALMENTE
Os Bugres hoje, principalmente aqui no Brasil, são descendentes de indígenas que outrora eram marginalizados, portanto, para grande parte da população nativa, o termo é sim racista, pois sua origem foi banhada de preconceitos e indiferenças daqueles que um dia foram considerados inferiores. Principalmente no interior do Brasil, o termo é um apelido para preguiçoso, malandro, inferior, arruaceiro…também era automaticamente associado aos nativos do Brasil, criando essa imagem maligna e errônea dos índios aqui da terra tupiniquim. Portanto, até hoje, o termo Bugre é carregado de uma imagem grotesca e errônea.
Antigamente, a palavra “Bugre” também era utilizada como xingamento, assim como a palavra “Crioulo” que acompanhava também esse tom extremamente pejorativo, geralmente utilizado por donos de escravos que utilizavam esses termos com um tom de ordem e comando.
GUARANI
O time do interior de Campinas, carrega esse apelido desde sua fundação em 1911, o nome veio naturalmente graças a origem do time campineiro que é extremamente associada com o povo indígena aqui do Brasil, portando o apelido veio de uma forma quase automática, porém, para muitos nativos esse apelido é extremamente prejudicial e racista para a própria história do clube, e preferem utilizar nomes que não tenham nenhum tipo de bagagem racista em sua origem.
No final das contas, a discussão ainda é muito atual e pertinente, pois o apelido apesar de ser sim racista, é amplamente usado pelos torcedores do clube, que o ostentam como forma de orgulho a raça indígena que foi o responsável por criar a instituição Guarani, mas, ainda sim as pessoas que optam por não utilizá-lo também estão certas, pois uma bagagem racial é extremamente difícil de se livrar, e a etimologia da palavra desde sempre considerou o “Bugre” como um ser inferior e selvagem, o que não tem nada a ver com a maravilhosa história do Guarani e de sua origem.
No final das contas, Bugre ou não, o Guarani ainda sim tem motivos para ostentar o orgulho de suas raízes indígenas e não será uma palavra que quebrará toda a tradição por trás de um dos maiores clubes do Brasil.