Michel Daryl Araújo Villar. Mais conhecido por seu nome reduzido, Michel Araújo é um dos grandes destaques do Fluminense hoje. Contratado pelo clube carioca no início do ano junto ao pequeno Racing-URU, o jogador, que chegou com status de aposta e desconhecido, é atualmente um dos preferidos da torcida e um dos mais importantes atletas da equipe.
Quem vê o frequente sorriso no rosto de Michel, que completou apenas 24 anos ontem (28), não imagina a dificuldade que foi para o garoto chegar onde chegou. Hoje, o Esporte News Mundo traz a história da promessa tricolor, contada pela primeira vez no blog Que la cuenten como quieran.
A INFÂNCIA NO URUGUAI
Originário do bairro El Real em Colônia do Sacramento, no Uruguai, Michel vem de família muito humilde. Tendo 7 irmãos e dificuldades para quase todos os mantimentos básicos, o jovem, quando tinha apenas 12 anos, viu sua casa ser demolida. O pai, que morou a vida toda no local, a construiu em um terreno que não era de sua propriedade e, com a chegada de novos donos, foi expulso junto da família:
“Meu pai morou lá a vida toda, em frente à praia, mas aí apareceram novos donos do local e nos expulsaram. Eles quebraram a casa e tivemos que ir embora. Eu não esqueço disso. Eu tinha 12 anos. Isso foi muito difícil. Chorei muito.”
Depois do ocorrido, seu pai foi morar com o filho mais novo em um local onde tinham quarto, banheiro e cozinha. Michel, por sua vez, saía com sua irmã Micaela.
Hoje jogador do Flu, o uruguaio conta como eram as dificuldades para estudar e, principalmente, se alimentar, diante de todas as necessidades:
“Era uma luta constante, ir para o ensino médio sem tomar café, sem almoçar. Foi muito difícil para mim”.
Os pais não tinham emprego fixo. Os dois trabalhavam no que pudesse trazer alguma renda para a família. O pai pescava e cuidava de cavalos de corrida. A mãe, por sua vez, em meio a várias tarefas que não traziam recursos suficientes, terminou cozinhando em uma escola.
“A certa altura, meu pai foi pescar e a única coisa que comíamos era peixe o dia todo. Foi uma coisa terrível”.
Araújo contou também sobre as dificuldades até para se vestir:
“Eu ia para a escola com chuteiras porque era a única coisa que eu tinha que usar. E às vezes eu faltava aula porque não tinha sapatos. Usei roupas doadas pelos meus amigos, ou comprei na feira por 5 ou 10 pesos ”.
CAMINHADA NO FUTEBOL URUGUAIO E APOIO DA ESPOSA
Michel começou a jogar no Real de San Carlos, tendo despontado e ido para o Juventud de Colônia. Em dado momento, Michel soube da possibilidade de fazer um teste em Montevidéu.
Enquanto planejava sua viagem, o jovem descobriu que sua namorada estava grávida. Aos 17 anos, Michel pensou em desistir de tudo e virar pedreiro. Entretanto, a família de sua namorada, Margarita Pérez, foi fundamental para que ele não desistisse de seu sonho.
Michel foi até a capital uruguaia, fez o teste e foi aprovado no Racing. Não tendo onde morar, viu seu cunhado pagar uma residência estudantil para que ele pudesse seguir em Montevidéu:
“O irmão da minha mulher pagou para mim uma residência estudantil, onde fui morar. Tudo era compartilhado ali. O quarto, a cozinha, a sala”.
Ainda com sua parceira grávida, Michel terminava seus jogos e pegava um ônibus para ver sua namorada, em Colônia, todos os fins de semana.
ILUSÃO NA ESPANHA
Michel recebeu oportunidade de fazer um teste em uma academia de futebol na Espanha. O jovem uruguaio viajou, ficou 2 meses e foi reprovado.
“Foi difícil. Tive que voltar ao Racing, sem contrato, para lutar novamente. Eu não queria mais jogar futebol. Não queria voltar para Montevidéu. Eu ia ficar em Colônia para trabalhar. Eu não sabia em que, mas trabalharia no que quer que seja, estava de mãos abanando”.
VOLTA AO URUGUAI
Depois de 1 ano jogando pelo Racing, Araújo foi promovido ao time principal e teve seu primeiro contrato assinado. Nesta altura, seu filho Lautaro já havia nascido e ele pediu a esposa que viesse para Montevidéu, pois ele alugaria um apartamento para a família. Seu primeiro contrato foi de 18 mil pesos, onde 10 mil eram destinados ao pagamento do aluguel.
“Não foi fácil. Sofri uma necessidade ou outra porque no Racing chegamos a ficar dois ou três meses sem salário e eu estava atrasado no pagamento do aluguel. E a cabeça pesa, ainda mais com um filho. Mas minha esposa conseguiu um emprego e com a ajuda do meu representante Dardo Ingold seguimos em frente”.
Em 2016, o Racing emprestou Michel ao Vila Teresa, onde se destacou e o fez retornar ao seu clube de origem em 2017.
Após jogar e se destacar pelo Racing na primeira divisão uruguaia em 2019, mesmo com o clube sendo rebaixado, Araújo despertou interesse do Fluminense. No fim do mesmo ano, seu empresário o comunicou da possibilidade, vista pelo atleta como uma “chance incrível”.
O Tricolor carioca adquiriu 50% dos direitos junto ao clube uruguaio pelo valor de 750 mil dólares.
Michel Araújo tem apenas 1 gol em jogos oficiais pelo Fluminense, marcado na vitória de ontem (28) sobre o Coritiba por 4 a 0. O jogador, apesar da atual badalação, não foi o estrangeiro que chegou com mais status ao Flu neste ano. Diferentemente do peruano Fernando Pacheco, Michel chegou desconhecido ao Tricolor e demorou a ter chances na equipe. Foi se firmar apenas após a volta do futebol depois da paralisação devido ao novo coronavírus.
Mesmo com esse número modesto, o uruguaio ganhou o carinho e atenção da torcida pela entrega e pelo bom futebol em campo. Hoje, o jovem é peça fundamental na equipe de Odair Hellmann.