Ceará

Dorival aponta dificuldades de se treinar com o atual calendário e analisa papel do técnico: ‘Mero espectador’

Reprodução/YouTube

No último sábado (4), o Ceará empatou contra o Coritiba dentro de casa, em partida que foi praticamente dominada pelos alvinegros durante os 90 minutos. Mesmo com o resultado negativo, a torcida reconheceu o bom desempenho da equipe e aplaudiu os jogadores após o apito final. Em coletiva pós-jogo, Dorival Junior, técnico da equipe, também reconheceu o bom desempenho do time:

– “É um orgulho você sair de uma semana como essa, uma semana complicadíssima, e nós ainda assim conseguimos fecha-la, ou finaliza-la, com cinco pontos. Lógico que a possibilidade, a perspectiva, era muito maior em razão do que vinha acontecendo dentro da partida, e eu sou muito realista em relação a isso. Momentos em que não atuarmos bem eu vou reconhecer, momentos contrários não, e isso aí tem nos tomado pontos importantes. O próprio torcedor tem reconhecido e visto.” – Destacou.

Dorival também demonstrou frustração por não conseguir os três pontos:

– “Frustrante por aquilo que nós fizemos na partida. Nós tínhamos o jogo sob controle. Logicamente enfrentando um adversário difícil, complicado, e sabendo disso a equipe estava muito bem posicionada, ligada, ganhando a maioria dos duelos, a maioria das jogadas. Infelizmente, em uma delas nós acabamos proporcionando aos adversários uma possibilidade real de gol e acabou saindo. Tivemos 18 oportunidades de gols, contra 6 do adversário. É um número relativo, então mostra o que foi a partida. Talvez pudéssemos ter tido um aproveitamento melhor nesses momentos em que estivemos na frente do gol adversário. Não acontecendo, é natural que acabemos ficando expostos como aconteceu e, em razão disso, acabamos sofrendo o gol de empate” – Afirmou.

O ponto mais interessante da coletiva do técnico, porém, foi os apontamentos sobre as dificuldades para se treinar a equipe com um calendário tão congestionado como o do futebol brasileiro:

– “É aquilo que a gente tenta mostrar ao torcedor, e é importante que vocês também participem de tudo isso. Amanhã você não faz nada, a não ser com aqueles que não atuaram. Na segunda feira, quando você pensa que aconteceu a recuperação, ao contrário, é o pior dia em termos de cansaço de atletas. Acontecia isso na minha época, continua acontecendo isso hoje. Você não pode ter uma carga de trabalho na segunda feira (no segundo dia pós-jogo em geral) de forma nenhuma. E geralmente nesse segundo dia estamos indo para o hotel, para que joguemos no dia seguinte. Então, é pra vocês verem o papel do treinador no futebol brasileiro. É um mero espectador. Nós trabalhamos muito mais com vídeos, com quadro imantado, com amostragem, com treinamentos de 10 contra ninguém, ou 11 contra ninguém, do que propriamente trabalhos táticos, técnicos necessários, que são fundamentais para a manutenção da equipe. Porque em algum momento você acaba perdendo aquela treinabilidade que você possuía, que é pouca. Então as dificuldades são muito grandes pra se fazer tudo isso. E as vezes é fácil quando se fala “ah, o treinador perdeu o vestiário” “não tem padrão de jogo”, eu fico pensando “poxa vida, se conhecessem a fundo e o dia a dia do que é o futebol, as pessoas talvez tivessem a possibilidade de uma avaliação um pouquinho diferente”. Porque a realidade é essa, eu vou conseguir trabalhar um pouquinho com a equipe na terça-feira, sendo que no dia seguinte nós vamos ter que estar em campo.”

É bom lembrar que no atual formato, somando Campeonato Brasileiro, Copa Libertadores (Ou Sul-Americana), Copa do Brasil e Campeonatos Estaduais, os times podem chegar a surreais 75 jogos caso cheguem longe em todas as competições. Esse excesso de jogos faz com que o desgaste em cima dos jogadores seja imenso, aumentando a possibilidade de lesões e causando queda de rendimento.

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Além disso, o calendário inchado atrapalha as convocações de jogadores do campeonato local para as datas FIFA, um assunto bastante controverso nos últimos anos, já que a convocação desses atletas prejudica diretamente seus clubes na disputa dos campeonatos, tendo em vista que não há uma pausa nos jogos para que as partidas de seleção ocorram.

Outro problema é o espaço para a pré-temporada. Com o final do Brasileirão no inicio de dezembro, e os estaduais começando no final de janeiro, resta pouquíssimo tempo para a realização de uma pré-temporada satisfatória, ainda incluídas as férias dos jogadores. Mesmo durante a temporada, há muito pouco tempo disponível para treinar. Com jogos 2x na semana, somado a dias de descanso e de viagem para partidas fora de casa, quando o técnico pode encontrar tempo para de fato treinar taticamente o time?

Todos esses pontos impedem que o futebol brasileiro tenha um futebol de alto nível, que seja atrativo para os torcedores e para o público externo. Uma reforma no calendário esportivo urge a muito tempo, mas devido ao conluio entre a CBF e as federações estaduais, é difícil imaginar que irá acontecer sem uma pressão externa.

Dorival, com toda certeza, está coberto de razão em criticar.

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