Ex-técnico do Tricolor escolhe Maicon como mais injustiçado, analisa momento de Hernanes e Pato e destaca conduta de líderes Kaká e Daniel Alves
A esperança de ver Muricy Ramalho novamente com as cores do São Paulo é uma constante no coração de boa parte dos torcedores do Tricolor. Tricampeão brasileiro pelo clube paulista entre 2006 e 2008, o hoje comentarista do Esporte da Globo é frequentemente ligado a um possível retorno ao Morumbi.
Ao projetar a próxima eleição para a presidência do Tricolor, o jornalista Arnaldo Ribeiro prevê interesse de candidatos em ter Muricy como trunfo eleitoreiro. Em entrevista ao canal “Arnaldo e Tirone”, do Youtube, o ídolo disse que voltaria ao São Paulo na condição de coordenador técnico, mas descartou qualquer intenção em ‘cavar’ um espaço no clube atualmente.
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“Se eu der alguma declaração quanto a isso, vão dizer lá que eu to querendo espaço, que eu quero emprego…Eu não quero emprego coisa nenhuma. Eu estou bem empregado, estou ótimo, não quero nada do São Paulo. Agora, se um dia, lá na frente, porque eu tenho contrato com a Globo, se tem uma posição que eu falo que posso trabalhar no São Paulo, é de coordenador técnico. Mas com autonomia”, condiciona Muricy:
“Isso é, na hora de contratar um treinador, de contratar jogadores, de conversar treinador, cobrar treinador (porque tem que se cobrado também), na hora que o presidente quiser mandar embora treinador porque a torcida tá pressionando, é você falar: ‘Pera aí, presidente, o cara é bom treinador porque eu estou lá no dia a dia, estou vendo’. Uma pessoa que tem experiência para ficar do lado treinador é uma função em que eu poderia trabalhar. Em outra função eu não trabalho mais. Mas não pode nem pensar nisso agora, porque já tem gente nesse lugar muito bem lá, o São Paulo já está ótimo nisso”.
‘MAICON FOI INJUSTIÇADO’
Muricy também foi questionado sobre o jogador mais injustiçado que teve sob seu comando no Tricolor. E não titubeou.
“Foi o Maicon, que hoje está no Grêmio. Eu era um treinador que tinha uma bagagem forte, com títulos, e eu segurava a onda. Mas o dirigente solta publicamente que o jogador não está bem. Isso não se faz. Este é o problema, porque a torcida compra ideia. E compraram. Eu dizia a eles: ‘Ele (Maicon) é o volante-meia, o cara que melhor passa a bola, que mais organiza, que mais dita o ritmo do nosso time. Como ele não serve para o São Paulo?’. Mas teve um momento em que conversamos: ‘Pô professor, não dá mais. Você briga por mim, maseu não to aguentando […] Eu falei que estava na hora mesmo”, recorda o comentarista.
“Ele foi pro Grêmio e mudou totalmente o Grêmio. Você conversa com o Renato, com o pessoal. Ele mudou o Grêmio de patamar de jogo, de meio-campo. O Grêmio era um ‘time do Sul’, de briga, de força. Para mim, ele foi o mais injustiçado no São Paulo”, declarou Muricy.
Maicon chegou no São Paulo em 2012, após destacar-se pelo Figueirense, e permaneceu no Morumbi até 2015. Naquele ano, também o último de Muricy Ramalho no Tricolor, sairia por empréstimo ao Grêmio e não voltaria mais.
HERNANES
“O Hernanes é um jogador que, quando jogou comigo, estava em uma grande forma, um jogador diferente de tudo que eu já vi no futebol, seja fisicamente, mentalmente…é muito forte. É um jogador que ajuda o ambiente a acreditar nas coisas. Ele tem essa coisa fora de campo muito importante para um time. Mas o futebol hoje está mais competitivo, mais pegado, ele está sentindo um pouco isso. Ainda teve a ida para a China, tirou um pouco isso dele. Eu trabalhei lá, o jogador sente um pouco quando ele volta.”
ALEXANDRE PATO
“O Pato, eu falo para ele toda hora, sempre falei. ‘Você tem que competir mais’. Porque ele tem coisas muito importantes para um atacante: ele tem um arranque muito forte, ele bate muito ‘duro’ na bola, ele é inteligente demais para procurar os espaços, para receber o passe. É um jogador diferente. Mas esses caras, igual eu também falo do Ganso, têm que competir mais. Hoje, só a técnica, só o talento, não dá. Tem a parte de querer mais, de competir mais. Quando o Pato coloca isso na cabeça, ele começa dar a resposta. Mas tem que ser mais constante, menos oscilante. Mas acho que agora ele acho o caminho dele. O Diniz é bom para isso, fala bem nesse sentido de motivar o jogador.”
ELOGIOS A KAKÁ E PARALELO COM DANIEL ALVES
“Para você ter uma ideia como esses caras são diferentes. Ele (Kaká) para jogar no São Paulo seria fácil, era só ele falar ‘Kaká quer jogar no São Paulo’ com alguém da diretoria. Claro que eu ia falar ‘pode vir’. Não. Ele mandou o pai dele ir na minha casa conversar comigo e perguntar: ‘Muricy, você quer o Kaká?’. Isso é respeito. Só os diferentes fazem. Ele queria saber a minha opinião sobre ele. Eu falei: ‘Claro, baita jogador, bom caráter. Além de ser grande jogador, vai ajudar na convivência, como (se comporta) o jogador que foi melhor do mundo. Ele chegava mais cedo do que todo mundo na fisioterapia, porque sabia que precisava de um reforço muscular, treinava muito dentro de campo. E tem aquela coisa, o negócio de estipular o líder. Não, o líder tem que ser nato, e o Kaká era, assim como Daniel Alves é. Não tinha que falar nada pra ele. E a gente já tinha o Rogério Ceni. Para a gente foi fundamental, depois de um ano antes brigar para não cair (2013), passamos para brigar pelo título (2014).”