Neymar sempre esteve predestinado a quebrar recorde. Na Seleção, a Copa do Mundo ainda não veio, mas depois da noite desta terça-feira, o camisa 10 só tem Pelé a sua frente no quesito artilharia. Com os três gols marcados na vitória do Brasil por 4 a 2, pela segunda rodada das eliminatorias para o Catar-2022, Ney ultrapassou Ronaldo com 64 gols e precisa de mais treze para assumir o topo.
Se não foi um baile brasileiro, como contra a Bolívia, a seleção peruana também não conseguiu bailar a Marinera. A igualdade permaneceu no primeiro tempo. Depois de um susto – tanto pelo gol precoce quanto pela forma, um poderoso chute – Neymar começou a fazer história, mais uma vez.
O gol de empate foi, além de histórico, nostálgico. De pênalti, Neymar trouxe lembranças ao torcedor. Não só brasileiro, mas o de cada clube envolvido na história.
O santista pode lembrar com mais afinco da rotina do menino da Vila nas cobranças: passos para o lado esquerdo, um pequeno pulo e pegadas rápidas antes da batida. E, claro, o gol. O cruzeirense mais velho ou o corintiano mais jovem também nunca esquecerão o dedo balançante de Ronaldo quando comemorava seus gols.
Neymar trouxe ambos, além da memória afetiva que cada um envolve. Mais do que isso, sai de Lima como o segundo maior artilheiro da história da Seleção. Como diria o cântico provocativo aos hermanos, “Só Pelé, só Pelé…” está a sua frente, com 13 gols de vantagem.
O jogo
Talvez o placar fique em segundo plano com a marca histórica. Ainda assim, se Neymar quer chegar a Pelé, a Copa do Mundo é algo que o Rei, de fato, entendia muito bem. E o maior torneio de futebol do planeta estava em jogo, para quem acabou se esquecendo, justamente o direito de disputá-lo.
Se as Eliminatórias Sul-Americanas são marcadas pela altitude dos países andinos – e a dificuldade em alcançar o bom futebol lá -, em Lima era outro tipo de “altura”. O Brasil se deparou com as linhas altas de marcação do Peru. Machu Picchu ficaria orgulhosa da pirâmide da seleção peruana para pressionar a saída de bola brasileira. Deu frutos, mas não tão maduros quanto podia, e os mandantes sorriram apenas na grande finalização de Carrillo.
Depois de um primeiro tempo de superioridade brasileira, o Peru voltou ao segundo tempo agressivo. Ao mesmo estilo de marcação alta, conseguiu aproveitar um lateral jogado na área para ampliar o placar. Mais um susto para a Seleção canarinho e, além de tudo, para Weverton: além de outro chute de fora da área, Rodrigo Caio, que entrou no primeiro tempo para substituir Marquinhos, machucado, desviou a trajetória da bola e matou o goleiro do Palmeiras.
A história do empate viria pelo, por coincidência dos fatos, pelo alto. Richarlison, que se aproveitou muito bem das linhas altas da defesa peruana, cansou de ter boas oportunidades pela direita ao longo do jogo. Dessa vez pela esquerda, aproveitou o passe de cabeça de Firmino para empurrar a bola com a coxa para o gol.
Mais ainda de Neymar
O VAR, figurinha carimbada nas discussões de bar interrompidas pela pandemia, esteve em ação constante. Viu e reviu todos os gols, traçou linhas, ajudou o árbitro, só não se mostrou presente no terceiro tento brasileiro. Neymar faria história novamente. Em outro pênalti sofrido, o camisa 10 seguiu a rotina supracitada – dos movimentos ao fim da cobrança. Neymar não foi só fenomenal, foi mais que Fenômeno.
Mais ainda porque não basta passar. Os então 63 gols não são o bastante. Aos 49 do segundo tempo, em um chute seu, Gallese não encaixa a bola, dá um rebote favorável ao Brasil e… Mais uma vez se cria a oportunidade para Neymar arrastar a bola para a rede. Hat-trick do menino.
Com isso, na hierarquia, Neymar já destronou muita gente ao longo dos anos. O Príncipe, o Imperador e até quem parecia estar em um nível acima, o Fenômeno. Para Neymar, só falta o Rei.
Ficha técnica
Brasil 4 x 2 Peru
Local: Estádio Nacional – Lima, Peru
Data: 13/10/2020
Horário: 21h
Árbitro: Julio Bascunan (Chile)
Cartão amarelo: Renato Tapia, Christofer Gonzáles (PER)
Cartão vermelho: Carlos Zambrano e Carlos Cáceda (PER)
Gols: André Carrillo 6′ 1ºT, Neymar 28′ 1ºT, Renato Tapia 14′ 2ºT, Richarlison 19′ 2ºT, Neymar 38 2ºT e 45+4′ 2ºT
Brasil: Weverton; Danilo, Marquinhos (Rodrigo Caio), Thiago Silva e Renan Lodi (Alex Telles); Casemiro, Philippe Coutinho (Éverton Ribeiro) e Douglas Luiz; Richarlison, Roberto Firmino (Everton) e Neymar.
Técnico: Tite
Peru: Gallese; Advíncula, Zambrano, Abram e Trauco; Tapia (Cueva), Aquino e Yotún; Carrillo, Farfán (Polo) e Gonzáles (Araujo).
Técnico: Ricardo Gareca