A goleada sobre o Peru por 4 a 0, em ritmo de treino, evidencia o quanto o Brasil está sobrando na América do Sul. Já são 26 jogos de invencibilidade sobre os rivais sul-americanos em jogos oficiais, com 22 vitórias e 4 empates.
Apesar de seguir vencendo, a Seleção Brasileira recebe críticas por não encantar. A exceção é Neymar, brilhando intensamente a cada partida do Brasil. Grande parte do mérito é do próprio jogador, que é um craque indiscutível, porém a fase exuberante do camisa 10 está totalmente atrelada à forma de jogar do time.
Para Neymar brilhar como tem brilhado, Tite deu total liberdade ao jogador, que deixou a ponta-esquerda para atuar pelo meio, flutuando por todo o campo. Com isso o Brasil ganhou um armador para pensar o jogo e dar assistências incríveis, sem perder um atacante finalizador que define as jogadas com maestria.
Diante do Peru, Neymar fez um gol e foi determinante nas jogadas que terminaram com os gols de Éverton Ribeiro e Richarlison. Os números do camisa 10 falam por si. São sete gols, cinco assistências e três pênaltis sofridos nos últimos seis jogos pelo Brasil. Além de ser decisivo, o craque encontra tempo para encantar com a sua magia, aplicando dribles desconcertantes e arrancadas fantásticas.
Entretanto, para isso acontecer é cobrado um preço. O que Neymar tem de liberdade, falta para os seus companheiros, que precisam cumprir suas funções com muita aplicação tática. Isso acaba minando um pouco as características de jogadores que também estão acostumados a decidirem por seus clubes. O próprio Tite revelou isso na coletiva após a vitória sobre o Peru.
– A gente está conseguindo dentro da Seleção, e acredito que em parte no clube também, dar uma liberdade criativa a ele e ele tem dado uma contribuição coletiva, principalmente no perde-pressiona. Se Neymar vem muito atrás, ele não vai ser efetivo. Tem um conjunto harmonioso que proporciona a ele ser efetivo – afirmou Tite.
Everton Cebolinha e Gabi foram exemplos de que fazem parte de uma engranagem feita para Neymar brilhar. Ambos foram sacados no intervalo da partida contra o Peru após um primeiro tempo sem brilho. O ex-gremista ficou preso à lateral do campo e apareceu mais na fase defensiva do que criando jogadas de perigo. Já o ídolo do Flamengo pouco foi notado, diferentemente de quando atua pelo Rubro-Negro, no qual é sempre participativo devido a sua intensa movimentação.
Para esses jogadores vale arriscar mais, improvisar e tentar algo novo em campo, porém sem vaga garantida no elenco, é compreensível que a ousadia dê lugar à obediência tática para não perder moral com o treinador. Por enquanto, o Brasil segue vencendo e moldado para que Neymar brilhe, a princípio, sozinho. Para ganhar a Copa América, o craque parece ser mais do que suficiente. Mas e para ganhar a Copa do Mundo?
O grupo parece estar pronto e o time já tem o seu craque. Agora o desafio para Tite é arrumar coadjuvantes que possam também ser estrelas e brilharem em um dia ruim de Neymar. Na história da Seleção Brasileira, exemplos não faltam. Romário dificilmente ganharia a Copa de 1994 sem Bebeto, e Ronaldo não traria o Penta em 2002 sem Rivaldo.