Especial, surreal, inacreditável, inesquecível… É difícil achar palavras suficientes que o torcedor do Atlético-MG possa encontrar para descrever a temporada 2021. Foram três taças nesse ano, Campeonato Mineiro, Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil.
Cada uma dessas taças está guardada no coração do torcedor que, finalmente pode chorar de felicidade após tantos anos sofridos, com humilhações, derrotas vergonhosas, provocações … o Galo deu a volta por cima e conseguiu retribuir, no campo, tudo que a torcida fez por ele.
Para o torcedor chorar foi o que mais fez sentido nos últimos anos, talvez décadas. O problema era que as lágrimas e angustias foram passando de geração e geração. A felicidade ocasionalmente aparecia e rapidamente ia embora.
Foi uma longa jornada, mas finalmente, podemos dizer que o atleticano chorou por amor, felicidade e paixão por ter feito a escolha certa ao torcer para o Clube Atlético Mineiro.
A Saga de 50 anos
É difícil imaginar que um clube tão tradicional pudesse ficar tantos anos sem levantar o troféu, de colocar o nome no topo do futebol nacional, no país que eleva o esporte como uma de suas prioridades e eternas paixões.
50 anos é muito tempo. Dentre os grandes times do Brasil, com torcedores em todos os estados, que o seguem fielmente, seja em Campina Grande, na Paraíba, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, ou em Ponte Nova, em Minas Gerais.
Vindo dessas três cidades do Brasil, nasceram ídolos, personagens carismáticos, revolucionários do futebol. Cada um desses atletas vivenciou uma fase do clube. Cada um deles viu o choro de milhões e como, essa mesma torcida pode torná-los ainda maiores.
Não dá para falar de choros acumulados em 50 anos, sem se lembrar do homem de Ponte Nova, ou melhor: REI. Maior artilheiro da história do Galo e para muitos o melhor jogador que já vestiu o manto sagrado, Reinaldo fez tudo que pode para ser campeão nacional.
Em 1977, um inacreditável vice-campeonato invicto (algo que só o Galo pode proporcionar ao seu torcedor), perdendo no Mineirão, nos pênaltis, para o São Paulo. Depois, batalhas e mais batalhas contra as lesões e, principalmente, contra o Flamengo. Ah! O Flamengo dos anos 80. Essa frase já traz ao atleticano um misto de angústia, raiva e lágrimas de tristeza. É difícil, mas muita gente não superou José Roberto Wright.
A fase de Reinaldo acabou. O artilheiro, que entrou para história, hoje, na emoção, derrubando equipamentos de transmissão da tv oficial do clube, vê seu time levantar o tão sonhado troféu.
O clube seguiu em frente, com eliminações contra equipes de menor nível, seja no Campeonato Brasileiro ou na Copa do Brasil. O torcedor voltaria a sorrir em 1999, quando Marques e Guilherme, também ídolos do clube, levaram o Galo a mais uma final do Brasileiro. Foram três jogos, mas Luisão decidiu para o Corinthians, e o time paulista se sagrou campeão.
As lágrimas, que tinha um relacionamento em construção com o torcedor atleticano, passou para um noivado interminável nos anos 2000 e, de 2001 a 2011, o que mais teve foi sofrimento. Times horríveis, sem expectativa nenhuma de sequer chegar a Copa Libertadores, quanto mais sonhar com título Brasileiro. Para coroar, o rebaixamento de 2005.
Há coisas nesse mundo que não tem como medir, e uma delas é o amor. O quanto o atleticano ama seu time é incomparável. O sentimento de nunca abandonar o clube e que ele é parte essencial da sua vida, foi demonstrado com todo o coração, no Mineirão, na campanha da segunda divisão, em 2006.
Uma nova fase surgia para o Atlético-MG, talvez o começo de uma revolução dentro do clube. Já no campo, a figura central daquele time com Diego Tardelli, Jô, Bernard, Dátolo, Victor … era o gaúcho de Porto Alegre, duas vezes melhor do mundo, Ronaldinho Gaúcho.
As lágrimas de tristeza passaram para alegria, o clube tinha finalmente conquistado respeito internacional com o título da Libertadores de 2013. E não demonstrou que seria algo momentâneo. Em 2014, de maneira tão épica como no ano anterior, levantou mais um troféu, a Copa do Brasil, sobre o maior rival, o Cruzeiro.
Mas, faltava alguma coisa para o atleticano. Um peso chamado Campeonato Brasileiro. A pressão se tornou uma obsessão doentia, o time, a torcida … era ansiedade, nervosismo. O clube saiu dos trilhos e mal gerenciado se afastou da briga no topo da tabela.
Então surgem quatro cavaleiros. Não os do apocalipse, mas do dinheiro. Rubens Menin, Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador. Quatro mecenas que investiram no clube, para colocá-lo no lugar que ele merecia.
Nesses investimentos surgiu o Gigante Esmeralda de Campina Grande. Givanildo Vieira de Souza, ou, simplesmente, Hulk. Um jogador que conquistou o torcedor alvinegro, que se espelhou novamente em um ídolo. Uma pessoa na qual as crianças puderam se identificar, não tem como ser mais especial. Mas na verdade tinha. Artilheiro do clube, líder em assistências, melhor jogador do campeonato, parece um super-herói, mas foi um homem que levou o Galo ao bicampeonato.
Enquanto isso, o casamento entre as lágrimas e o atleticano, teve uma melhora, eles até fizeram as pazes. E finalmente, aquela angústia de 50 anos se foi. O sofrimento se tornou alegria, o grito de desespero mudou para grito de euforia, a zoação dos rivais foi silenciada. O clube se engrandeceu, evoluiu. A torcida que nunca deixará o time andar sozinho, se mostrou ainda mais fiel.
O Bicampeonato em 15 Dias
Parece difícil acreditar, mas o Atlético-MG foi bicampeão novamente, 15 dias depois do Campeonato Brasileiro. A piada de ”clube sem bi” acabou categoricamente. A campanha impressionante na Copa do Brasil, impulsionada pela torcida e pelo elenco, levou ao clube ao topo do país e destaque no mundo todo.
O menino que sofreu com eliminações para Brasiliense, Criciúma, Goiás, Botafogo … As lágrimas de raiva em momentos que o coração entregava tudo para o time, que vergonhosamente era eliminado. E pensar que, ironicamente, uma eliminação vergonhosa fosse o gatilho ideal para mudar tudo.
Dia 26 de fevereiro de 2020, no sertão pernambucano, o Atlético-MG renasceu após envergonhar a todos, não somente seus torcedores. A eliminação nos pênaltis para o Afogados de Ingazeira foi o último grande vexame que o Galo proporcionou ao seu torcedor. Lágrimas não faltaram naquele dia.
Com o vexame apoteótico e o tapa na cara do torcedor, o time tomou rumo na vida. Na temporada seguinte, de forma surreal, venceu as semifinais por 6 a 0 no placar agregado e as finais por 6 a 1, também no agregado. O olhar incrédulo, seguido de um choro e um sorrisinho, tanto em Curitiba, como em Belo Horizonte, fecharam esse bicampeonato com a impressão de “Nossa, isso realmente aconteceu”.
As lágrimas não vão abandonar o torcedor, que aguarda, esperançoso, que a alegria se espalhe para sempre no coração do atleticano e que a fé inabalável deste mesmo aficionado, continue trazendo conquistas para o Clube Atlético Mineiro.