“A cor nunca pode definir o caráter de uma pessoa”. Foi com esta declaração que Leonardo Pinheiro Conceição, o Léo, lateral-esquerdo são-paulino, construiu sua entrevista à SPFC TV nesta quinta-feira (21). Natural do Rio de Janeiro, o jogador abriu o coração para mostrar que, na vida de um atleta profissional, nem tudo são flores.
Revelado nas categorias de base do Fluminense, Léo, que por vezes é chamado de Léo Pelé em razão da semelhança física com o Rei do Futebol, pode dizer que sofreu bastante no início da carreira. Ainda jovem, o jogador foi vítima de racismo em um shopping, tendo os seguranças pedido para que ele se retirasse do local, que é público, pelo simples fato de ser negro.
Com os olhos marejados, o velocista ala tricolor abriu o jogo sobre o episódio.
– Ali eu pensei em desistir. Foi a primeira vez que pensei: “Não dá mais para mim. O racismo é inaceitável”. Não existe eu ser mandado embora de um local público por causa da minha cor. Como é que se expulsa um menino de um shopping? Não dá – lamentou.
Orgulho de ser quem é e chegar onde chegou
Filho de um ex-padeiro e uma ex-cozinheira de quartel, Léo não esconde suas origens. Como muitos meninos cariocas, o sonho do jogador são-paulino sempre foi crescer e se tornar um jogador de futebol profissional. No entanto, a vida não pegou leve com o ala tricolor.
Sem oportunidade, Léo e sua família chegaram a improvisar no preparo de bolinhos de chuva para vender.
– Não tinha leite, não tinha pão, não tinha café e não tinha nada. Usávamos farinha e água – recordou.
Além de madrugar com seu pai, Léo, que chegou a dividir um só cômodo com mais seis irmãos – ele era o caçula -, lembra que, quando chovia, “caía mais água dentro do que fora”. Resistente, seu pai tentou impedir que o então garoto fosse para Santos defender as cores do time do Rei do Futebol.
Antes mesmo de completar 10 anos de idade, Léo garantiu a seu pai que mudaria a vida dos Pinheiro Conceição. O resto é história.
Pelé, ele mesmo, vem aí
Nos dois anos que morou em Santos, Léo não hesita: foi grande a experiência adquirida. Em um determinado dia, a previsão era aquela que todo garoto ansioso pela bola rolar espera ter um dia: Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, chegaria para visitar a garotada.
Ao abrir a porta da sala em que os garotos estavam acomodados, o maior jogador de futebol de todos os tempos bateu os olhos em Leonardo Pinheiro da Conceição e não aguentou: “não é possível, esse menino é meu filho”. Todos os garotos caíram na gargalhada, mas, com carinho, o episódio jamais saiu dos pensamentos do atleta são-paulino.
Por que um negro não pode vencer na vida?
No final do bate-papo que mesclou lembranças boas e ruins, Léo Pelé, que iniciou como meia no Fluminense, fez questão de levantar alguns assuntos pertinentes não só às quatro linhas, mas também fora delas.
– Por que um negro não pode vencer na vida? O maior atleta do futebol é negro. Um dos maiores presidentes democráticos – fazendo clara referência a Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos – também. Os principais atletas da NBA idem – afirmou.
Mesmo com todos os percalços, Léo foi enfático ao dizer que sua passagem pelo São Paulo passou por uma escolha consciente feita lá atrás.
– Eu escolhi o São Paulo. Esperei, dei o meu melhor e hoje estou aqui, realizando um sonho. Nos treinos, sempre procuro me esforçar ao máximo para melhorar a qualidade do futebol apresentado por toda a equipe – pontuou.
Para encerrar, Léo fez questão de, à capela e em tom descontraído, declamar uma de suas músicas preferidas. O trecho combina bastante com seu próprio perfil:
– Já chorei demais, já sofri demais, agora eu “tô” de boa, só coisas boas – cantou.
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