Na prévia da semifinal entre Brasil e Coréia do Sul no vôlei feminino olímpico, uma notícia pegou todos de surpresa e desfalcou a Seleção brasileira: Tandara foi flagrada no antidoping e consequentemente cortada dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020.
A oposta da Seleção, presente em conquistas importantes, como o ouro olímpico de 2012, testou positivo para Ostarina. Tandara ainda aguarda a contraprova do seu exame, mas o advogado que defende a atleta no caso, Marcelo Franklin, disse ao globoesporte.com que não está surpreso com a substância:
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— A substância não me surpreendeu. Hoje, é uma substância problemática no Brasil. É problemática porque vem sendo utilizada de forma indiscriminada pela indústria brasileira, causando vítimas. Como é um caso que corre em sigilo, não adianta comentar tese de defesa, não costumo comentar nesse momento sobre a linha de trabalho
Conforme indicado pelo advogado, Tandara não é a primeira atleta a ser flagrada com Ostarina em sua amostra de antidoping, relembre outros casos do esporte brasileiro.
Fernanda Borges – Lançamento de Disco – 2021 | Punição: 2 meses de suspensão
A atleta Fernanda Borges, do lançamento de disco, foi pega de surpresa por um teste positivo faltando poucos meses para o início da Olimpíada.
Em exame realizado em maio, a brasileira testou positivo para a substância e a divulgação aconteceu no dia da convocação do atletismo, com o nome de Fernanda entre os atletas selecionados, mas o caso já corria em sigilo pela Agência Mundial Antidoping e Fernanda foi suspensa provisoriamente, até que seu caso fosse julgado.
O julgamento foi feito pela Sports Resolution, orgão ligado a Federação Internacional de Lançamento de Disco (World Athletics). Com a defesa de Marcelo Franklin, mesmo advogado de Tandara, a atleta teve uma punição de dois meses de suspensão, bem menor do que o pedido da World Athletics, de quatro anos, alegando negligência. Como Fernanda já havia cumprido o prazo da punição durante a suspensão provisória, foi liberada em cima da hora para os Jogos Olímpicos, chegando ao Japão três dias antes da sua prova.
Fernanda conseguiu competir e lançou 57.90m, ficando em 10º lugar nas eliminatórias, sem conseguir a vaga para a fase seguinte.
Amanda Ribas – UFC – 2017 | Punição: 2 anos de suspensão
A lutadora de brasileira de MMA Amanda Ribas foi flagrada com Ostarina em maio de 2017, cerca de um mês após assinar contrato com o UFC, a mais famosa organização de artes marciais mistas do mundo.
Após teste positivo da USADA, Agência Antidoping dos Estados Unidos, Amanda alegou inocência
— Sou atleta desde criança, competi no mais alto nível no jiu-jítsu, no judô e agora realizei meu sonho de lutar no UFC. Sou completamente contra qualquer tipo de vantagem indevida no esporte, como o uso de PEDS. Nunca tomei nada em momento nenhum da minha carreira e não tomei agora. Desconheço a origem do teste positivo da USADA e já estou trabalhando com eles junto com o meu empresário e meu treinador para provar a minha inocência, o que vou fazer! E vou lutar no UFC e serei campeã!
Em janeiro de 2018, a USADA anunciou a suspensão de Amanda por dois anos, aceita pela atleta, que confirmou ter contribuído para a investigação e enviado todos os suplementos que tomava, na época, para análise, no entanto, nenhum deles mostrou traços da substância encontrada.
Com a suspensão, a lutadora brasileira teve adiada sua estreia no UFC, que aconteceria em julho de 2017, contra Juliana Lima e foi postergada para uma luta contra Emily Whitmire, em 29 de julho de 2019. Atualmente Amanda tem quatro vitórias e uma derrota na organização.
Larissa Cunha – CrossFit – 2021 | Punição: cortada dos CrossFit Games 2021 e suspensa provisoriamente
O caso mais recente, antes do de Tandara, é o da atleta de CrossFit Lari Cunha, que teve um exame positivo para Ostarina divulgado no final de julho e acabou cortada dos CrossFit Games faltando alguns dias para a sua estreia na competição.
Em vídeo postado em seu Instagram, a atleta alegou inocência e disse que sequer sabia o que era Ostarina, levantando a possibilidade de contaminação cruzada. A contraprova, realizada dias depois da divulgação do vídeo, também teve resultado posistivo para a substância.
— Recebi o e-mail com o resultado da amostra B hoje na parte da tarde. E infelizmente não veio como estávamos esperando. O teste deu positivo novamente para Ostarina. A partir daqui vamos nos orientar em como proceder para provar a minha inocência. A verdade vai aparecer e vamos achar uma solução, escreveu a atleta em seu Instagram.
Em sua defesa, ela ainda menciona que passou por outros sete exames de antidoping e todos foram negativos.
Lari Cunha pode ter que encarar uma punição de até quatro anos, como parte da política anti-doping do CrossFit Inc., mas o futuro ainda é incerto, podendo haver uma pena reduzida, dependendo da defesa da atleta e também dos orgãos julgadores.
Kaynan Duarte – Jiu-Jitsu – 2019 | Punição: um ano de suspensão e perda retroativa de resultados
O atleta de jiu-jitsu Kaynan Duarte foi flagrado no antidoping em 2019 e teve seu caso resolvido no início do ano passado.
A denúncia pedia inicialmente a punição máxima, de quatro anos, mas segundo o próprio atleta, a pena foi reduzida para apenas um ano, pois a USADA comprovou que seus testes positivos eram de traços vestigiais da substância e não caracterizavam o uso intencional para melhora de performance.
Em nota oficial, a USADA afirmou que a investigação concluiu que as quantidades de Ostarina nas amostras de Kaynan eram condizentes com contaminação cruzada e que os suplementos de uma pessoa próxima ao atleta continham traços de Ostarina, que pode ter resultado na contaminação.
A punição de um ano passou a contar em 2 de junho de 2019, data em que Kaynan teve o teste positivo e início da suspensão provisória. Além da suspensão, ele também perdeu o título mundial de Jiu-Jitsu, pelo peso-pesado, conquistado em 2019, assim como a medalha de prata na categoria absoluto.
Em suas redes sociais, o atleta se pronunciou após decisão da USADA e pediu desculpas pelo caso.
— Mesmo que tenha sido um acidente, sei que sou responsável por tudo o que entra no meu corpo. Gostaria de me desculpar com minha família, amigos, treinadores, patrocinadores e fãs, e também agradecer por seu apoio durante o período difícil longe do esporte.
Bia Haddad – Tênis – 2019 | Punição: 10 meses de suspensão
Em julho de 2019, a tenista Bia Haddad foi flagrada no exame antidoping com duas substâncias: além de Ostarina, o exame também testou positivo para Ligandrol. Na época, Bia vivia o melhor momento da sua carreira, atingindo a 58º posição no ranking mundial e a segunda rodada do torneio de Winbledon.
Defendida por Bichara Neto, que chegou a dizer em entrevista à Veja que havia índicios de falha grave na coleta das amostras, Bia conseguiu uma punição branda, muito menor do que a pena máxima, de até quatro anos.
Em julgamento, a defesa convenceu a ITF (International Tennis Federation) de que a atleta ingeriu as substâncias proibidas por meio de um suplemento contaminado.
O advogado comemorou o resultado, que rendeu uma punição de dez meses, uma vez que hoje em dia é difícil que os orgãos absolvam integralmente alguém acusado de doping, mesmo acidental, pois a entidade prevê que o atleta assumiu o risco.
— O problema é que com o passar do tempo os casos de contaminação cruzada aumentaram bastante, a ponto da ITF divulgar alertas direcionados a atletas da América do Sul em função do número de casos. Eles não podem alegar total desconhecimento. A Wada alerta para isso, disse Bichara Neto.
No caso de Bia, a defesa comprovou que a contaminação se deu a partir do laboratório que manipulou os suplementos.