Futebol Internacional

“Novo Futebol”: Retorno da Bundesliga revela mudanças no jogo pós-pandemia

Bundesliga retomou as atividades no dia 16 de maio (Créditos: Twitter/FC Bayern)

O futebol é, em sua essência, um esporte marcado por evoluções. Desde a criação na Inglaterra, no século XIX, o jogo se transformou de diversas formas até chegar no que é hoje. Essas mudanças – causadas por alterações nas regras e, principalmente, por novas maneiras de ver o jogo – aconteciam de forma lenta e gradual, e demoravam anos para serem percebidas.

Agora, podemos estar testemunhando mais uma série de transformações no esporte mais popular do mundo. Dessa vez, de forma mais repentina e causada pela pandemia do coronavírus.

Após ficar dois meses suspensa, a Bundesliga foi a primeira grande liga da Europa a retomar as atividades. E após a conclusão de quatro rodadas, já é possível observar grandes diferenças no futebol nascido da raiz do distanciamento social – e que deverá perdurar pelos próximos meses.

Sem torcida, sem favoritismo

Timo Werner, do RB Leipzig, celebra gol na goleada de 5 a 0 sobre o Mainz, fora de casa (Créditos: Divulgação/Bundesliga)

Uma das máximas mais conhecidas no futebol está sendo comprovada no retorno da Bundesliga. De fato, as torcidas ganham jogos, seja empurrando o time mandante, pressionando o adversário ou, até mesmo, influenciando as decisões da arbitragem.

Antes da paralisação, com as arquibancadas lotadas, foram disputadas 224 partidas. Desse total, foram 97 vitórias das equipes mandantes (43,3%), 49 empates (21,9%) e 78 vitórias das equipes visitantes (34,8%).

Agora, com os portões fechados, o cenário é bem diferente. Em 36 jogos disputados, apenas 8 clubes saíram vitoriosos jogando em casa. Isso representa um aproveitamento de apenas 22,2% – quase metade do que havia antes. Quem comemora são os times visitantes. Já foram 18 triunfos de clubes jogando longe de casa (50%) e 10 empates (27,8%).

Sem essa variável importante do “fator casa”, os jogos se tornam mais lógicos e os melhores times levam vantagem. Segundo o diretor esportivo do Borussia Dortmund, Michael Zorc, a ausência da torcida, inclusive, pode ter sido vital no possível título do Bayern de Munique.

“A vantagem de jogar em casa quase desaparece sem o público. Se tivéssemos a Muralha Amarela perdendo de 1 a 0 para o Bayern no segundo tempo, poderíamos ter feito muito mais”, lamentou o dirigente se referindo ao clássico disputado na 28ª rodada e que encaminhou o oitavo título seguido do clube bávaro.

Maior distanciamento

O futebol sempre foi um jogo de bastante contato e nem o coronavírus pode mudar isso. Faltas, divididas e duelos aéreos continuarão ocorrendo diversas vezes no decorrer das partidas.

No entanto, a Sportec Solutions – empresa subsidiária à federação alemã – detectou uma estatística curiosa nas primeiras rodadas após o retorno da Bundesliga. Antes da paralisação, os jogadores passavam em média sete minutos do jogo a uma distância de menos de dois metros de outro atleta. Agora, esse tempo de contato se reduziu para seis minutos por jogo.

Essa mudança pode ser explicada pelo temor dos jogadores com o momento completamente atípico no cenário esportivo e mundial. Mesmo com todo o protocolo sanitário estabelecido, ainda há o risco de novas infecções durante as partidas.

Em entrevista ao site Globoesporte.com, o lateral-direito brasileiro William, do Wolfsburg, admitiu que “os jogadores estão mais tranquilos, mas o medo continua. É tudo muito novo, tudo aconteceu muito rápido, então o medo ainda está presente.”

Com menos contato físico, várias outras estatísticas do jogo são influenciadas. Por exemplo, o número de roubadas de bola por partida reduziu de 36,79 para 34,07. Além disso, há menos desarmes (33,34 – 31,07), menos divididas (22,74 – 21,48) e menos bloqueios (6,19 5,93).

Estratégia se torna chave

Marko Grujic, do Hertha Berlim, comemora gol após escanteio (Créditos: Divulgação/Bundesliga)

Com menos contato físico e sem a pressão psicológica da torcida, os clubes passam a dar mais atenção à parte tática e às jogadas ensaiadas.

Desde o reinício da Bundesliga, aumentou o número de gols de bola parada por jogo. Nessas quatro rodadas, os clubes atingiram uma média de 0,56 gols originados de escanteios, faltas ou pênaltis. Antes da paralisação era de apenas 0,31.

Além disso, os clubes passaram a trabalhar mais a bola antes de definir as jogadas. Assim, há menos chutes a gol por jogo (25,02 comparado com 26,89 de antes) e menos cruzamentos (17,85 contra 20,1 de antes).

Por fim, os técnicos têm agora direito a cinco substituições por partida. Essa mudança na regra deixa o jogo mais intenso, reduz o risco de lesões dos jogadores e ainda possibilita ao treinador impor mais variações táticas ao longo dos 90 minutos.

Caso isolado ou tendência no mundo?

Sem o impacto das torcidas, com menos contato físico e mais estratégia. Assim se desenha o “novo futebol” na Bundesliga, que beneficia os melhores times, com os jogadores mais qualificados. Resta saber se essa tendência será exclusiva à Alemanha ou irá se expandir ao resto do mundo.

Ainda neste mês, haverá o reinício dos campeonatos em Portugal (3 de junho), na Espanha (11 de junho), na Inglaterra (17 de junho) e na Itália (20 de junho). Quatro das principais ligas da Europa dividirão com a Bundesliga toda a atenção dos fãs, ansiosos para saber quais efeitos a pandemia causará no futebol que conhecemos.

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