O Esporte News Mundo traz com exclusividade uma entrevista com Léo Neiva, treinador brasileiro de 43 anos e ex-jogador profissional que assumiu recentemente o comando da seleção de São Cristóvão e Névis. O país está localizado no Caribe e tem uma das menores populações da região. O técnico é um dos poucos brasileiros atualmente que comandam uma seleção nacional. Léo, que possui as licenças A e Pro da CBF, faz parte de um projeto de reestruturação do futebol local que visa a evolução do esporte no país, inclusive com cursos de capacitação para técnicos.
Léo chega com um desafio muito grande em mãos, visto que a política de São Cristóvão e Névis em relação às medidas protetivas quanto ao surto de Covid-19 no mundo são bastante rígidas. O governo local não permite que outras seleções venham jogar em São Cristóvão e Névis. Bem como os atletas do país, quando jogam fora, devem ficar em quarentena por 14 dias quando retornam. O que acaba dificultando muito na preparação.
ENM: Relate mais sobre sua experiência em São Cristóvão e Névis. Como é o país? O futebol no local, campeonatos nacionais, entre outros.
Léo Neiva: Está sendo excelente. Oportunidade única de poder comandar uma Seleção em uma eliminatória de Copa do Mundo. Me surpreendeu positivamente a estrutura física de trabalho e o nível dos jogadores locais. Temos o Campeonato Nacional (Premier League), a FA Cup (Estilo Copa do Brasil) e a 2ª divisão nacional. Além da liga feminina.
ENM: Sua ida para o local faz parte de um projeto de reestruturação do futebol no país. Como eles chegaram até você? O que exatamente foi cobrado e exigido?
Léo Neiva: Viemos para um trabalho de médio a longo prazo com o objetivo de desenvolver o jogador local e diminuir a distância técnica e tática existente entre os locais e os “internacionais” que atuam na Europa, a maioria na Inglaterra além dos outros nos EUA. Nosso objetivo é deixar um legado aqui para que tenhamos mais jogadores “locais” com condições de representar o País, além de criarmos uma identificação com as crianças e jovens tendo ídolos locais. Acho que o convite se deu através do nosso trabalho realizado na Jamaica que é (Top 5) da Concacaf, aonde fomos campeões nacionais na temporada 15/16.
ENM: Você tem todas as licenças da CBF praticamente. Como são os cursos, o que mais aprende neles e tenta levar para suas equipes e jogadores.
Léo Neiva: Sim. Fizemos a Licença A e concluímos a Pro em 2019. O Curso é teórico-prático. São realizadas muitas dinâmicas e estudos sobre (cases) situações reais de jogo. A troca de ideias e intercâmbio de informações foi do mais alto nível. Tive o privilégio de ter como colegas de turma o atual os últimos 2 treinadores da Seleção brasileira (Tite, Dunga e Mano Menezes) além de outros grandes treinadores do nosso Futebol.
ENM: Em relação as eliminatórias para a Copa de 2022. Como está a preparação de São Cristóvão e Neves. Acredita que a equipe consiga surpreender? E quais níveis de dificuldade você enxerga na competição? Que times considera os melhores?
Léo Neiva: Estamos tendo certas dificuldades devido às restrições e protocolos do Governo em relação ao Covid. Não podemos realizar amistosos, pois se sairmos temos que cumprir quarentena de 14 dias no retorno. A dificuldade maior é em relação ao tempo de trabalho em comparação às demais seleções do grupo. Somente agora após 1 mês estamos conseguindo trazer o Treinador de Goleiros brasileiro Gerhard Benthin com passagens na Seleção Brasileira sub17 e Los Angeles Galaxy. O mesmo só poderá vir por estar residindo nos Estados Unidos, pois o Brasil está na lista de países com restrições. A seleção de Trinidad e Tobago é mais experiente, já disputou Copa do Mundo e conta com jogadores de mais peso a nível internacional, além do tempo de preparação. Uma outra favorita é a Seleção da Guiana comandada pelo Treinador brasileiro Marcio Máximo que já tem 2 anos de trabalho, mas com certeza iremos tentar buscar o melhor resultado e por que não uma classificação surpresa?
ENM: Além da carreira de treinador, você foi jogador e atuou nesses chamados centros de Futebol fora do comum, por exemplo, esteve em Tailândia e Mianmar. Como é o Futebol jogado nesses países? Nesse caso gostaria que explicasse tanto o lado jogador, quanto de treinador.
Léo Neiva: Futebol asiático é muito dinâmico sempre buscando uma transição rápida. Atuamos também na África do Sul e na Tânzania onde conquistamos títulos nacionais com um futebol de muita força física aliado a habilidade natural do jogador africano. Como jogador atuei em times chamados pequenos médios tendo parado cedo aos 24 anos, pois como não tinha chegado a um nível desejado por mim, preferi dar sequência aos estudos e me preparar para trabalhar em outro lado
ENM: Como atuam as equipes comandadas por Léo Neiva? Esquema, forma de atuação no campo, prefere a posse de bola, joga esperando o adversário?
Léo Neiva: Procuro sempre quando possível mediante as características do meu grupo imprimir um futebol dinâmico e intenso com uma transição ofensiva rápida, jogo vertical e uma posse de bola inteligente e objetiva. Gosto de usar o 1-4-2-3-1 variando de acordo com as fases e circunstâncias do jogo.
ENM: Quais treinadores você admira no Futebol Brasileiro e Mundial? E por quê?
Léo Neiva: Seria injusto citar nomes, pois esqueceria de um ou de outro, mas temos excelentes referências no futebol brasileiro com ideias de jogo moderno e ofensivo assim também como temos especialistas em montar excelentes times no setor defensivo. Busco sempre tirar um pouco de cada um para montar o meu próprio estilo de jogo. Nos meus times tento sempre buscar ser ofensivo, mas também com uma defesa segura e compacta. Atacar marcando. Acredito que é possível manter esse equilíbrio como equipe.
ENM: Onde atuam a maioria dos jogadores de São Cristóvão e Neves? Como é feito o mapeamento dos jogadores em cada posição?
Léo Neiva: Na Europa em sua grande maioria na Inglaterra. Temos o Romaine Sawyers que joga pelo West Bromwich Albion na Premier League inglesa como o grande representante da seleção em uma liga forte e reconhecida mundialmente. Os demais jogadores atuam nas outras divisões inglesas, além de alguns jogadores nos Estados Unidos. A Associação tem scouts que residem na Inglaterra, Escócia, Estados Unidos e Canadá, responsáveis pelo mapeamento.
ENM: O Brasil antes mesmo da chegada do Jorge Jesus teve um período de treinadores estrangeiros e nesta temporada aumentou, o Futebol de SP por exemplo, tem três gringos e apenas o Mancini como brasileiro nos quatro grandes. Como observa isso?
Léo Neiva: Vejo sempre de forma benéfica e produtiva este intercâmbio. Somente temos que observar que não é de hoje que os clubes brasileiros contratam treinadores estrangeiros e a grande maioria não obteve êxito. Temos que ter cuidado para não contratar somente pelo passaporte e sim uma contratação baseada em trabalhos realizados anteriores e com sucesso.
ENM: Para finalizar gostaria que deixasse um recado para os torcedores e pessoas que acompanham seu trabalho e pretendem conhecer melhor.
Léo Neiva: Sempre em frente com positividade e otimista por melhores tempos. Espero em breve retornar ao Brasil para poder mostrar um pouco do nosso Trabalho.
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