Uma reta final decepcionante no Campeonato Espanhol foi o suficiente para afundar o Barcelona na crise. O clube tropeçou contra adversários mais fracos, foi ultrapassado pelo rival Real Madrid e teve que se contentar com o vice-campeonato nacional. Além disso, as atuações abaixo da média evidenciaram uma crise no vestiário, que ameaça a continuidade do técnico Setién no comando da equipe.
Para salvar a temporada sem títulos até o momento, só há mais uma oportunidade: a tão sonhada Liga dos Campeões. Neste sábado, às 16h (horário de Brasília) o Barça volta a campo na competição para enfrentar o Napoli, pelo jogo de volta das oitavas de final (na ida, 1 a 1). Uma eliminação no torneio significa a primeira temporada sem conquistas do clube nos últimos 12 anos (a última vez foi em 2007/08).
Para eliminar o Napoli e manter vivo o sonho da 6ª “Orelhuda”, o Barcelona conta com a vantagem de ter feito um gol fora de casa. Dessa forma, qualquer vitória ou um empate sem gols, no Camp Nou, classifica o clube catalão para as quartas de final. Em caso de novo 1 a 1, o confronto será definido na prorrogação ou pênaltis, se necessário. Uma derrota ou um empate por dois ou mais gols representa o fim de temporada melancólico.
A TEMPORADA CULÉ
Ainda sob o comando de Ernesto Valverde, o Barcelona teve uma primeira metade de temporada irregular, com muitos altos e baixos. De um lado, o clube se classificou para o mata-mata da Champions League de forma invicta e como líder do Grupo F. Do outro, o Barça sofria tropeços no Campeonato Espanhol contra equipes inferiores tecnicamente (Osasuna, Granada, Levante e Espanyol, por exemplo). A principal crítica, porém, era sobre a falta de um padrão propositivo no estilo de jogo e a dependência extrema do talento individual das estrelas Messi e Suárez.
Em janeiro, após a eliminação da Supercopa da Espanha para o Atlético de Madrid, a situação ficou insustentável. Mesmo na liderança do Espanhol, Valverde foi demitido e Quique Setién, ex-Real Betis, foi o escolhido para resgatar o tradicional estilo de jogo de passes e ofensivo. Um fato curioso: essa foi a primeira vez em 17 anos que o Barcelona trocou de técnico durante a temporada.
Pegando o time no meio da temporada, era esperado que Setién precisasse de um tempo para fazer as mudanças necessárias. Nos 12 primeiros jogos sofreu 3 derrotas, incluindo uma para o Real Madrid e outra para o Athletic Bilbao que eliminou o Barça da Copa do Rei, ainda nas quartas de final. Apesar disso, se manteve na liderança do Campeonato Espanhol e tinha dois pontos de vantagem para o Real Madrid, quando o torneio foi suspenso em março.
E foi justamente após a retomada do futebol que a crise explodiu na Catalunha. Mesmo com tempo de sobra para ajeitar a equipe, Setién não foi capaz de fazer o time jogar bem, sofreu quatro tropeços nas 11 rodadas finais do Espanhol, viu o Real Madrid deslanchar e terminou a competição de forma frustante, na vice-liderança.
CRISE NO VESTIÁRIO
Além dos resultados negativos em campo, um outro problema atormenta a cabeça de Quique Setién e ameaça a permanência dele na próxima temporada. Desde o início de sua passagem pelo Barcelona, havia especulações sobre um mal estar interno entre comissão técnica e o elenco do clube e, nos últimos meses, essa crise no vestiário se tornou evidente.
Esse rompimento tem algumas figuras centrais. De um lado, Messi, Suárez e Piqué, as principais lideranças do vestiário. Do outro, Quique Setién e Eder Sarabia, seu auxiliar polêmico. E a principal insatisfação do elenco é justamente com Sarabia. Com seu jeito falastrão, o braço direito de Setién costuma ser bem ativo durantes as partidas, inclusive, cobrando e xingando os jogadores do próprio time.
Esse comportamento obviamente não agrada os atletas e cria um clima desconfortável e de desunião. Na partida contra o Celta de Vigo, por exemplo, foi possível ver Messi ignorando as instruções dadas por Sarabia, durante a pausa para hidratação (veja abaixo). Ao fim da partida, que terminou no empate por 2 a 2, foi a vez de Suárez questionar o trabalho de Quique Setién, em entrevista para a imprensa local.
– Para alguma coisa servem os treinadores, para analisar essas situações. Nós nos doamos dentro de campo e a sensação é que fora de casa estamos perdendo muitos pontos importantes que não perdíamos em outras temporadas – declarou Suárez
DESFALQUES E VOLTAS
Para dificultar ainda mais o trabalho de Setién, o Barcelona terá uma série de desfalques, principalmente no meio-campo. Busquets ( com acúmulo de amarelos) e Vidal (expulso no jogo de ida) estão suspensos e só voltam em uma possível quartas de final. Já o brasileiro Arthur, que foi negociado com a Juventus, pediu para antecipar a rescisão do contrato e não se apresentou para a disputa da Champions League.
Na zaga, o único desfalque será o francês Umtiti, que sofreu uma lesão no joelho esquerdo. Lenglet e Araújo, que também se lesionaram recentemente, já se recuperaram e estarão à disposição de Setién. No ataque, o ponta Dembélé, que voltou a treinar com o grupo nessa semana, ainda não está 100% recuperado e também está fora da partida.
Olhando por outro lado, o estrago poderia ser pior. Se a partida fosse realizada na data inicialmente prevista (18 de março), o Barça não contaria com Piqué, Jordi Alba e Suárez, jogadores que estavam lesionados na época. Agora, os três estão aptos e serão titulares na partida.
Com esse cenário, Setién terá que encontrar alternativas para escalar o Barcelona. Segundo a imprensa espanhola, uma possibilidade é o time entrar em campo em um 3-5-2. A escalação seria: Ter Stengen; Semedo, Piqué e Lenglet; Sergi Roberto, Rakitic, De Jong, Puig e Alba; Messi e Suárez. Outra opção mais conservadora é continuar no 4-3-3, escalando Griezmann no lugar de Puig.
DEPENDÊNCIA DE MESSI?
Que Lionel Messi é o grande craque do Barcelona não é novidade para ninguém. No entanto, um dos maiores problemas recentes do clube é depender totalmente do talento e da genialidade do argentino. E isso fica comprovado nos números. No Campeonato Espanhol, Messi foi o líder geral em gols (25), assistências (21), dribles (182) e passes decisivos (89), e carregou o restante da equipe nas costas.
Como companheiro de ataque, Messi terá o uruguaio Luis Suárez. O Pistolero sofreu uma grave lesão no joelho no início do ano, ficou cinco meses longes dos gramados, mas voltou em junho totalmente recuperado. Nas últimas sete partidas, Suárez marcou cinco gols e mostrou que pode ser decisivo para o clube catalão.
Tendo a vantagem de se classificar com um 0 a 0, o Barça também tem em Ter Stegen um importante trunfo. O goleiro alemão fez mais uma ótima temporada, foi fundamental em partidas do Espanhol e da própria Champions, e pode ser o herói da classificação contra o Napoli se o ataque não estiver em um dia inspirado.
TRAUMAS RECENTES
Ao entrar em campo contra o Napoli, o Barcelona carregará um peso maior em função das eliminações recentes na Champions League. Nas duas últimas edições, o clube catalão foi eliminado após abrir uma vantagem de três gols no jogo de ida e sofrer um apagão na partida de volta.
Na temporada 2017/18, o algoz foi a Roma. Na partida de ida das quartas de final, o Barça goleou por 4 a 1 no Camp Nou e encaminhou a classificação para a semifinal. No entanto, na partida de volta na Itália, o Barcelona foi irreconhecível, foi dominado nos 90 minutos pelos italianos e perdeu por 3 a 0, sendo eliminado pelo critério do gol fora de casa.
Já na temporada passada, o vexame foi na semifinal contra o futuro campeão Liverpool. E com um cenário muito parecido. Jogando em casa, o Barcelona se impôs, venceu por 3 a 0 e estava a um passo de voltar a final da Champions. Mas, no jogo de volta, mais um vexame histórico. Mesmo sem Salah e Firmino, o Liverpool goleou por 4 a 0, reverteu a vantagem e pôs fim ao sonho do Barça.
É verdade que o Barcelona decide em casa dessa vez e a vantagem nem é tão grande como nos anos anteriores. Por outro lado, ser eliminado nas oitavas de final da Liga dos Campeões é algo que não acontece desde 2007 para o clube catalão. Será que estamos diante de mais uma eliminação traumática?
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