O Corinthians começa 2022 pensando em reformular alguns setores das suas categorias de base. Assim, após dificuldades no ano passado, com mudanças na direção do departamento, o diretor Osvaldo Neto falou em entrevista ao GE sobre aumentar a captação de jogadores, retomar as obras do CT e do alojamento dos garotos e garantir a manutenção das joias do clube.
2021 terminou com título da equipe Sub-17 no Campeonato Paulista da categoria sobre o Palmeiras. A conquista fez com que Neto doasse 100 cestas básicas a instituições filantrópicas como pagamento de uma promessa.
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“Foi um ano muito conturbado. Com saída do (gerente Fernando) Yamada, em maio, ficamos quase dois meses sem gestor. Depois chegou o Carlos Brazil, com aquela equipe toda, gerou um clima tenso com alguns funcionários que já estavam. Quando o projeto estava começando a ser desenvolvido, ele deixou o Corinthians para voltar ao Vasco, junto com diversos profissionais. Infelizmente, não consegui fazer o que, de fato, eu queria em 2021″, analisou Neto.
“Com a chegada do André Figueiredo (novo gerente, contratado do Ceará) tenho metas para 2022. Algumas delas são: fazer contratos profissionais de alguns garotos do sub-17, que ainda têm vínculo de formação; analisar com calma as renovações do sub-20; e reestruturar a captação de atletas”, concluiu.
O novo modelo para recrutar jogadores já foi definida. A ideia é de que o Timão vai contar com cinco olheiros fixos, tendo outros como terceirizados. Esses últimos estariam espalhados por todo o país, mas não teriam contrato com o clube, suas comissões serão pagas a cada indicação aprovada.
“Se o jovem passar pelo nosso crivo e ficar no clube, o captador vai receber uma bonificação. Por exemplo: se o atleta assina contrato de formação, quem o recomendou ganha R$ 5 mil. Se ele continua e assina um vínculo profissional, o captador ganha mais R$ 20 mil. Isso gera um estímulo, faz com que mais gente queira indicar jogador ao Corinthians. Mas tudo será feito com muito critério, só traremos jogadores que tenham nível para o clube”.
Nesta temporada, Alysson Maris assume como chefe do setor de captação de atletas para a base. Antes, ele era observador técnico do profissional do Corinthians. As transições na gerência do departamento não foram os únicos imbróglios em 2021. Além disso, aconteceu diversos relatos nos bastidores sobre tentativas de ingerência do conselheiro Jacinto Antônio Ribeiro, apelidado de Jaça.
Certa vez, acabou vazando um áudio do ex-jogador Alex Meschini criticando Jaça. Após alguns dias, ele deixou de ser coordenador técnico da base para assumir como auxiliar técnico de Sylvinho no profissional.
Jaça esteve presente também na viagem ao Oriente Médio ao lado de Osvaldo Neto e Fernando Yamada, entre março e abril de 2021. A intenção era estreitar laços com os clubes árabes e atrair possíveis investidores, o que até o momento não trouxe resultados.
“O diretor sou eu. O Jaça é um cara influente no clube, conselheiro vitalício, está lá há mais de 50 anos. Ele é respeitado, mas não poder de decisão algum”.
Com a nova temporada, Neto disse que irá se reunir com o novo gerente André Figueiredo para analisar os contratos dos garotos que estão para vencer e precisam ser renovados. Assim, ainda no final de 2021, o Corinthians conseguiu renovar com o zagueiro Roberto Renan e o meia Matheus Araújo, que será o camisa 10 na Copa São Paulo de Futebol Júnior.
Por outro lado, o centroavante Cauê, que atuou no profissional na temporada passada, está de saída do Timão. Logo, seu passe pertence ao Novorizontino, e a equipe do interior negocia com o Grupo City para vender o garoto ao Lommel Sk, da 2ª divisão da Bélgica.
“O Corinthians fez todo o esforço possível para segurá-lo, queríamos manter o Cauê. Chegamos a pagar R$ 500 mil pelo empréstimo e 5% dos direitos econômicos dele. Porém, houve um imbróglio entre o jogador e o Novorizontino, que tinha contrato com ele. Também houve uma troca de agentes, ele trabalhava com a Elenko e depois foi para o escritório do Giuliano Bertolucci”.
O diretor afirmou que a permanência de Cauê foi discutida internamente pelo departamento profissional do Corinthians e não na base, por isso não deu maiores detalhes sobre a situação. Assim, o GE foi falar com Alessandro Nunes, gerente de futebol do Timão para entender o caso.
“Nosso percentual dos direitos era baixíssimo, só 5%. Também havia uma questão contratual com o Novorizontino, que não nos envolvemos. Teríamos de pagar R$ 2 milhões por 40% dos direitos econômicos. Para um cenário em que o jogador não iria atuar no profissional de imediato, são números que não comportam fazer”.
Porém, o nome de Cauê consta entre os inscritos na Copinha, mesmo ele não tendo chances de disputar devido as negociações. O torneio é tratado como prioridade da base pelo Corinthians, que é o maior campeão com dez títulos.
“A expectativa é sempre buscar o troféu, mas o objetivo da base é formar atletas para o profissional e fazer com que o clube não gaste para qualificar o elenco. Estamos com expectativa grande, é sempre um torneio tradicional. A Copinha vai ser um divisor de águas para muitos. Quem for bem, deve subir”.
No geral, Osvaldo Neto avalia que 2021 foi um ano de altos e baixos, ele destacou a contratação de uma nutricionista exclusiva para os atletas da base e também a saída de mais de 60 nomes de categorias diferentes.
De acordo com o dirigente, isso reduz custos e também eleva o nível do trabalho de formação. A meta para o futuro é deixar um legado no clube, não apenas com bons jogadores, mas também com patrimônio. Por isso, ele pretende terminar as obras do CT da base, priorizando os alojamentos.
Vale ressaltar, que a garotada do Corinthians já treina no local, mas ficam hospedados e se alimentam em outro lugar. Com a chegada dos novos patrocinadores ao profissional, um dos acordos especulados é de que os parceiros do Timão que vão arcar com os custos das obras do novo CT da base.
“O Duilio (Monteiro Alves, presidente do Corinthians) chegou a comentar comigo que está bem encaminhado para retomarmos as obras em 2022. Estimamos um custo de R$ 12 milhões. A princípio, seria com recursos próprios, mas seguimos buscando parceiros”.
Por fim, o departamento da base segue a linha do profissional no sentido de contratar menos e melhor. O foco estará nos jovens atletas, segundo Osvaldo Neto:
“O melhor caminho para se reforçar na base é de baixo. Quanto mais novo, melhor. Tanto para economizar quanto para formar melhor o garoto desde jovem, e até para que o jogador tenha o DNA do clube”.
O Corinthians prevê gastar R$ 8,6 milhões com a base no orçamento de 2022, a maior parte será com salários e encargos. Ou seja, cerca de 2% do total das despesas estimadas para o ano.
