O universo dos e-sports tem tido muito destaque nos últimos anos, com grandes marcas investindo e times já consolidados em esportes tradicionais abrindo espaço para novas modalidades. Junto desse cenário, as atléticas também estão crescendo e o cenário competitivo de jogos eletrônicos atraindo atenção de dentro e fora da universidade. A INTZ A2E é um exemplo de sucesso no meio universitário, então conversamos com Marianna Motta, presidente da atlética de e-sports da Universidade Federal Fluminense (UFF), para saber sua visão sobre esse movimento que vem evoluindo cada vez mais.
A história pessoal de Marianna com a atlética repete a de muitos jovens universitários, cada um com suas particularidades, sendo a dela o interesse pelo mundo dos jogos online. O seu encontro com a A2E foi em 2017, no final do ano em que entrou na faculdade, justo num momento que se sentia deslocada por não pensar que encontraria pessoas com interesses parecidos naquele ambiente. Sua descoberta sobre a atlética de e-sports da UFF aconteceu de maneira inusitada, durante um jogo de League of Legends, que por acaso tinha pessoas da mesma faculdade e que falaram sobre a A2E.
As atléticas tem por objetivo unir as pessoas e fazer gente diferente se conhecer e interagir por meio de um interesse comum, os esportes e toda a descontração que vem ao participar dos eventos juntos. “a galera entende muito que aqui não é um lugar pra ganhar dinheiro porque a atlética é voluntária, mas é um lugar de fazer networking, de integrar, de passar pela experiência da graduação de forma mais leve… então fazer parte de um time de uma atlética já ajuda bastante…”, disse Marianna.
O cenário de e-sports universitário é mais recente do que as atléticas com esportes tradicionais, com as primeiras competições em 2016, mas já se consolidou muito e tem campeonatos prestigiados como a LUE (Liga Universitária de e-Sports) e o TUES (Torneio Universitário de e-Sports), que chegou a ter patrocínio da Globo e a final transmitida na televisão pelo Sportv.
Para Marianna, o primeiro grande avanço no meio foi logo que começaram as competições, sendo bem organizadas e divulgadas, e o segundo veio em 2019 com o surgimento de mais torneios, modalidades online nas atléticas tradicionais, e os olhares de grandes marcas, como a Red Bull que patrocinou alguns torneios. Nesse mesmo ano, ocorreu um fato que chamou muita atenção para o cenário universitário, a A2E UFF fez a parceria com a INTZ, o maior clube de e-sports da América Latina, que segue junto à A2E até hoje.
PARCERIA COM A INTZ
Marianna Motta: “Não beneficia só a A2E, mas toda a comunidade da UFF, você pode entrar na A2E, você pode falar com a A2E e ter a oportunidade de ter contato com a INTZ, os profissionais. Também ajuda a dar visibilidade pro cenário universitário em geral, tanto que outras equipes também apadrinharam atléticas, por exemplo a Havan Liberty com a FURB e outras”
COMPETITIVIDADE NO CENÁRIO
– “É uma comunidade que faz suas próprias iniciativas, mas que chama atenção de muita marca, então tem um potencial muito grande, e as atléticas nascem exponencialmente. Também é um cenário muito maleável, o que é bom e ruim ao mesmo tempo, a A2E pode ser hoje a maior campeã do FIFA, mas semestre que vem nosso jogador multicampeão se forma e a gente não tem mais ele, e tem outra atlética que vai se destacar, o que é muito bom pra competitividade, também tem seus lados negativos, mas essa questão de poder ser o melhor a cada semestre é o que esquenta um pouquinho a comunidade.”
MOTIVAÇÃO DOS ATLETAS DA A2E
– “Pra cada perfil de jogador a gente tem um objetivo e metas pra ele, então a galera que entra pra A2E pra ser um profissional, eles encaram como se fosse o início da jornada deles. Por exemplo, um garoto que joga LoL, ele vai preferir jogar o universitário do que jogar um “tier 3″, que é o cenário amador de LoL, porque o universitário já é muito mais organizado. Dentro da A2E ele vai ter todo o backup que ele precisa pra só precisar jogar, então vai ter o manager que vai fazer a inscrição dele, a gente vai pagar a taxa de inscrição no campeonato, a gente vai dar desconto pra ele comprar o uniforme, então ele vai ter a blusinha com o nick dele, ele vai ter a equipe de edição de vídeo fazendo os highlights dele que ele pode usar como portfólio pra entrar numa seletiva de um time, então ele tem todo esse suporte atrás e pra ele é benéfico porque ele quer seguir a carreira de pro player.”
AMBIENTE GERAL DA A2E
– “Pra galera que só quer entrar pra ser da galera, a gente tem já esse ambiente de marcar de fazer coisa, de ir pra Cantareira, de fazer parte de um grupo, de todo mundo sair com a canequinha bonitinha e se orgulhar de tá ali. Hoje na pandemia a gente não consegue sair pra beber junto, mas tá sempre no discord pra integrar, ver filme junto, vamos jogar junto. Então essa comunidade faz com que a pessoa se sinta motivada até nos piores dias dela, vai que ela acabou de perder uma final de campeonato, vai ter a galera pra apoiar, não vai ser só ele desligando o computador e indo dormir e esquecendo e começando a desanimar.”
CALENDÁRIO E COMPETIÇÕES
– “A gente geralmente começa nossa temporada lá pra abril, maio só, e termina bem tarde, lá pra dezembro, mas tem competições o ano todo… Atualmente a gente tem sete ou oito competições regulares durante o ano, algumas maiores que outras, mas sempre acontecendo, sempre tem campeonato pra jogar.”
ATLÉTICAS COM E-SPORTS
– “Eu posso somar umas 150, 200 atléticas que tem e-sports em seu leque de modalidades, sendo só e-sports ou não, e sempre tem mais, sempre aparece mais, esse número pode variar bastante”.
MUDANÇAS DEVIDO À PANDEMIA
– “Ao contrário de modalidades tradicionais a gente sobreviveu, online como sempre fomos, parece que a gente regrediu um pouco, mas ainda sobrevivemos né. Todas as competições continuaram online, não só continuaram as que já existiam como outras marcas, que conversavam já com o cenário universitário, mas não com e-sports ainda, voltaram as atenções, então eu como aluna da UFF e presidente da atlética de e-sports da UFF senti que muita atlética voltou os olhares pros e-sports. Vieram me procurar, eu ajudei no que eu podia, porque é interessante que isso nasça e cresça dentro da UFF assim como em outras universidades. Muitos outros torneios também voltaram as atenções aos e-sports, então a gente teve o JUBS fazendo edições ao longo do ano… pipocaram competições ao longo de 2020 o que ajudou bastante os e-sports a sobreviver”
IMPACTO NEGATIVO DA PANDEMIA
– “Como a gente tava nesse momento difícil de adaptação pro EAD muita gente parou de jogar, muita gente não conseguia mais. Já teve caso na minha atlética que o jogador teve que sair da atlética, era um dos melhores jogadores, porque a mãe dele perdeu o emprego e ele tinha que arrumar alguma coisa pra fazer, então ele não tinha mais tempo de jogar, então aconteceu isso bastante. Teve atlética que não conseguiu fazer seletiva porque a faculdade não abriu matrícula, porque tinha que se adaptar ao EAD com a galera que já tinha, então bagunçou o calendário, todo mundo ficou super aflito com o que ia acontecer. Então a gente meio que sobreviveu aos trancos e barrancos.”
IMPORTÂNCIA DA UNIVERSIDADE NOS E-SPORTS
– “Conforme os e-sports vão crescendo, cada vez mais são necessárias pesquisas acadêmicas pra basear algumas profissões nos e-sports, então hoje a gente tem falado muito sobre psicologia nos e-sports… tem que ter base acadêmica dentro das faculdades pra falar sobre isso, fisioterapia, todas as profissões ligadas a e-sports precisam dessa área mais acadêmica, universitária. A gente também revela grandes profissionais pro mercado de e-sports tanto de jogador quanto de staff… é um mercado muito grande e que só vai crescer e o universitário ta aí surfando nessa onda… Se a gente fala com o público de e-sports, da idade certa, tem o ‘know-how’ certo de várias modalidades, tá feito! Eu por exemplo tô me formando em letras mas eu posso muito bem ser especialista em e-sports, falar sobre e-sports pra grandes marcas.”
FUTURO DO CENÁRIO UNIVERSITÁRIO
– “Com certeza pode ser mais, porque pra 2019 aquilo foi o ápice, acho que se não acontecesse essa tragédia do corona vírus a gente teria crescido mais e mais ainda. Os e-sports universitários estão dentro do barquinho dos e-sports, enquanto os e-sports crescerem a gente vai crescer junto… acho que é um grande fenômeno que ainda não chegou no que ele vai chegar, eu tenho muito essa visão. E por causa da proximidade de idade, da galera que gosta e acompanha e-sports com a idade universitária, os e-sports universitários só tendem a crescer… os investimentos tão chegando assim como chegam pros profissionais, grandes marcas tão olhando pra gente, estamos ocupando mais espaço dentro das universidades.”
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