Por Marcela Lima e Mateus Bassi
Marcadas para a primeira quinzena de dezembro, as eleições que definirão o novo presidente do São Paulo Futebol Clube têm agitado o dia a dia nos arredores do Morumbi. De um lado está Roberto Natel, sobrinho de Laudo Natel, ex-governador e mandatário são-paulino, na linha de frente da chapa “Resgate Tricolor”. Do outro, está Julio Casares. Protagonista do grupo “Juntos pelo São Paulo”, o candidato concedeu entrevista exclusiva ao Esporte News Mundo.
Na íntegra, conheça os assuntos abordados no bate-papo com o ex-diretor de marketing do clube:
Atualmente, a venda de ingressos é feita de duas formas: por meio do site “total-acesso” e das bilheterias. Entretanto, nas compras on-line, os torcedores têm apresentado uma série de reclamações, visto que a plataforma trava com certa frequência, não aceita determinados métodos de pagamento e, para piorar, não funciona com muitos acessos simultâneos. Isso posto, qual é a proposta do senhor para solucionar este problema? O que fazer para facilitar a vida do torcedor que busca somente assistir ao jogo, mas muitas vezes não consegue comprar seu ingresso?
Realmente existe esse gargalo na venda de ingressos, principalmente em situações de alta demanda, que precisa ser solucionado. Faremos isso por meio da diretoria de inovação, que será uma novidade da minha gestão. Nós teremos um profissional do mercado especializado em tecnologia, e uma de suas principais atribuições será melhorar o atendimento ao cliente, ao torcedor. O São Paulo tem contrato vigente com a empresa que efetua a venda de ingressos, então o primeiro passo será fazer uma análise detalhada desse contrato e do serviço prestado. A partir daí, exigir eficiência do concessionário. Se entendermos que eles não conseguem atingir o padrão de qualidade que vamos estabelecer, podemos até rescindir esse contrato. Como esse padrão de qualidade será definido? Por meio da inovação tecnológica que pretendemos implantar. Vamos estreitar o laço com o torcedor, conhecê-lo melhor e entender o que ele precisa, o que ele quer para melhorar a experiência de ir ao estádio como um todo. Ter um sistema de venda de ingressos moderno e eficiente é uma das nossas prioridades, porque isso será fundamental, por exemplo, para o crescimento que queremos promover no programa de sócio-torcedor e para a consolidação do setor popular, que terá 8 mil lugares a preços bem baixos em todas as partidas no Morumbi. Também incluo aqui o Camarote dos Ídolos, um local Premium no anel intermediário, onde o torcedor que tem a condição de pagar um valor mais alto poderá assistir aos jogos ao lado de grandes nomes da história do São Paulo, com um serviço bastante exclusivo. São ações que pretendemos executar logo que assumirmos e, por isso, essa questão dos ingressos terá uma atenção especial.
Muitos torcedores também reclamam sobre as ações de marketing do São Paulo Futebol Clube. Na verdade, em sua maioria, eles se queixam sobre o fato de faltarem ações tanto para fortalecer o marketing tricolor quanto para aproximar o apaixonado pelo clube de seus bastidores. Desta maneira, o que o senhor tem a dizer sobre o Departamento de Marketing atual? No que pensa como alternativa para potencializar o setor?
Não gostaria de fazer uma avaliação do departamento atual, pois há uma equipe trabalhando e é preciso respeitá-la, mas fico à vontade ao falar de marketing, pois é a minha área de atuação. Aliás, temos cases dentro do próprio São Paulo do período em que estive à frente dessa diretoria. Fundamentalmente, o marketing precisa conhecer o produto e o cliente. O que eu tenho para oferecer e para quem eu posso oferecer? Ao contrário de boa parte das empresas convencionais, um clube de futebol tem diferentes categorias de público. O desafio é atender a todos, desde o torcedor que tem condição de comprar um produto em edição limitada, por um preço alto, até aquele que não consegue juntar o dinheiro para adquirir o uniforme oficial e precisa de uma alternativa. Desde a empresa que pretende falar com a classe A até a empresa que dialoga com a classe D. Vamos ter um diretor de marketing vindo do mercado, com metas, e certamente conseguiremos alavancar as receitas. Queremos reviver a época em que éramos referência em ações de marketing. Criamos o Batismo Tricolor, que foi um grande sucesso, fechamos uma parceria com a Warner para licenciamento de produtos, lançamos diversas opções de camisas que o torcedor até hoje se lembra e sente saudade, enfim. Até a grama do Morumbi nós vendemos. Tudo é oportunidade, mas tem que saber aproveitar.
Por muitos anos, o São Paulo foi considerado referência em reffis. Não à toa, diversos atletas vinham realizar seus tratamentos nas instalações do clube. Neste contexto, conta para a gente: quais são suas propostas para o Reffis, suas respectivas melhorias e o que fazer para o SPFC permanecer como referência na recuperação de atletas?
Venho falando em realizar uma reestruturação completa na Barra Funda, e o Reffis está inserido nisso. Essa reestruturação não é “fulanizada”, ou seja, não significa mandar esse ou aquele funcionário embora e trazer outro para o lugar. Queremos promover uma mudança de processos baseada no que há de mais atual no universo do futebol. A partir da montagem da diretoria executiva de futebol, vamos dialogar com referências da área de saúde e observar exemplos de sucesso no esporte. Mais: vamos aprender e melhorar com o objetivo de ter a equipe de trabalho mais qualificada possível, a estrutura física mais moderna possível, os melhores equipamentos possíveis e os procedimentos mais eficientes possíveis.
Na presidência do clube desde outubro de 2015, o Leco não conseguiu conciliar as gestões financeira e esportiva do São Paulo Futebol Clube. Segundo números e estatísticas, dentro de campo, foram 19 competições disputadas. Nenhum título. Fora dele, alguns estudos recentes do Estadão mostraram uma dívida de R$ 526 milhões em 2019. O senhor sabe se este número piorou em tempos de pandemia? Mais: o que fazer para aliar uma gestão moderna e de bons resultados dentro e fora das quatro linhas?
Ainda não tivemos acesso aos números pós-pandemia, mas já sabemos que o cenário que vamos encontrar na parte financeira será bastante desafiador. Já seria se não houvesse a pandemia. Com ela, certamente todos os clubes sofreram impactos severos. Recuperar o fôlego do São Paulo será uma das nossas primeiras preocupações. Teremos um Comitê Financeiro, liderado por um diretor de mercado, que vai se debruçar em todas as dívidas do clube a partir da hora um do nosso mandato. Este grupo terá como principal missão negociar com os credores para aliviar o curtíssimo e o curto prazo e alocar esses compromissos em médio e longo períodos. Feita essa reorganização da dívida, uniremos a austeridade com o aumento de receitas. Não é porque teremos mais tranquilidade no fluxo do dia a dia que poderemos rasgar dinheiro ou gastar sem critério. O São Paulo precisará de assertividade em todos os seus departamentos, sobretudo no futebol, que representa cerca de 80% do orçamento. Por isso, teremos o CAF, Comitê Avançado de Futebol, que será uma equipe montada para diminuir o risco de erro nas contratações de atletas. Temos um celeiro invejável de jovens jogadores, basta olhar para os destaques da nossa equipe hoje em dia. É realmente necessário ir ao mercado e gastar milhões em apostas? Vamos investir, sim, mas de maneira mais certeira.
No futebol atual, muito se fala em termos como “intensidade” e “inovação”. No caso do São Paulo, o que é possível fazer para modernizar alguns processos, como reforma do estádio e integração de gestão diretiva? Visando melhores resultados, é possível otimizar alguns procedimentos internos e externos do clube?
Queremos fazer do São Paulo o clube mais tecnológico, profissional e integrado possível. Isso passa por alguns pilares do nosso plano de gestão, como inovação, profissionalização e governança. O desafio é entregar um clube muito mais moderno do que vamos encontrar, seja nos procedimentos do dia a dia do futebol, seja no conforto que o Morumbi vai oferecer ao torcedor, seja nas práticas de gestão. Ter profissionais de notório saber nas áreas estratégicas, facilitar o diálogo entre eles e cobrar eficiência será um passo fundamental.
As categorias de base sempre foram motivo de orgulho para todos os são-paulinos. Muitos jovens que saem de Cotia são verdadeiras revelações e, por isso, normalmente acabam despertando o interesse de outros clubes. Nos últimos anos, pudemos perceber diversos atletas saindo do São Paulo para jogar em outros times sem nem disputar uma partida pela equipe principal, ou jogando muito pouco pelo time de cima. O senhor pretende continuar com este modelo de negociação para os jovens da base? Quais são suas ideias para que os garotos cresçam no clube e, dentro de campo, consigam devolver o investimento colocado sobre cada um?
Acredito que não haja ninguém, no São Paulo ou fora, que considere que negociar um atleta formado em casa antes que ele tenha a chance de atuar profissionalmente seja um bom caminho. E isso independe do valor da venda. O Centro de Formação de Atletas em Cotia existe, em primeiro lugar, para abastecer o elenco profissional com talentos, algo que tem feito muito bem e que, não fossem essas vendas precoces, faria ainda melhor. Óbvio que as transferências também são importantes, mas têm de ser consequência. Entendemos que os jovens têm ficado pouco devido à situação financeira ruim do clube. O São Paulo não está conseguindo sobreviver sem efetuar vendas urgentes, e é isso que precisa ser atacado. Como já falamos, os passos principais para resolver o problema passa por renegociar as dívidas e adotar uma política de austeridade financeira, que transita por maior assertividade nas contratações e aumento de receitas. Perceba como todas as áreas estão interligadas e impactam umas nas outras. Por isso eu digo que teremos 30 bolas para chutar e todas precisam entrar no gol. É trabalho integrado e eficiente.
O São Paulo, além do futebol, investe em diversos outros esportes, como por exemplo atletismo, basquete e etc. Recentemente, no entanto, surgiu a fala de um dos conselheiros do clube. Na oportunidade, ele criticou o departamento de golfe do São Paulo. O que o senhor tem a dizer sobre essas modalidades esportivas que não são tão usuais no Brasil? Mais: quais são suas propostas para o restante dos esportes, como o basquete e atletismo já citados?
Temos hoje dois ótimos exemplos de esportes profissionais além do futebol masculino: o basquete masculino e o futebol feminino do São Paulo. Ambos são competitivos, mobilizam o torcedor e atraem empresas parceiras, por isso funcionam e vão continuar funcionando. Este é o modelo a ser seguido nessas e em outras modalidades: incentivar que elas sejam autossuficientes. Vamos ter um profissional de marketing com a missão de buscar receitas para essas modalidades, além de profissionalizar cada vez mais a gestão do dia a dia.
Neste sábado (28), o São Paulo terá nova eleição. Dessa vez, serão definidos os 100 novos membros do Conselho Deliberativo do Clube. A votação ocorrerá por intermédio de, aproximadamente, quatro mil sócios.
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