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Torcedoras comentam sobre experiências e expectativas de jogos históricos em Curitiba

Reprodução/Igor Barrankievicz/DCSContent

O início do Campeonato Paranaense de 2023 ficará marcado para sempre na história dos rivais da capital. Após punição do STJ/PR que determinava que a dupla AthleTiba jogasse seus dois primeiros jogos em casa com portões fechados no campeonato estadual, como punição pela confusão e confronto entre as torcidas de Coritiba e Athletico no Couto Pereira no Campeonato Paranaense de 2022.

Os clubes recorreram e a nova medida determinou que apenas mulheres e crianças de até 12 anos estariam permitidas de ir aos estádios, restringindo apenas os homens do acesso aos jogos. Tanto Athletico quanto Coritiba, ainda aproveitaram para ajudar quem precisa, cobrando apenas 1kg de alimento não perecível para doações pelo ingresso.

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O primeiro jogo exclusivamente feminino e infantil foi no Couto Pereira, na partida entre Coritiba e Aruko. Muito mais do que vitória do Coxa por 1 a 0, as quase 9 mil mulheres nas arquibancadas que foram o grande destaque da partida, com repercussões positivas por todo o mundo.

Bruna Pelegrini nunca acompanhou o futebol. Mas encorajada pela amiga, esteve presente no Couto Pereira, e conta que sua ida ao estádio a marcou muito, mesmo sem ser torcedora Coritiba.

— Foi algo que me marcou muito, a união de todas ali foi incrível. Vi mulheres que não se conheciam se ajudando para outra não passar mal com calor. As crianças torcendo muito ao lado das mães era algo que eu nunca tinha visto, é sempre com o pai. – Disse.

Porém, Bruna não se vê voltando futuramente ao Couto Pereira, ao menos não da mesma forma apenas com as amigas. Ela ainda não avalia as arquibancadas como um lugar seguro para as mulheres e por isso.

— Não me sinto segura de ir sem minha família. Já vivi situações de assedio e machismo prefiro ir novamente no estádio com quem me da a segurança de que esta tudo bem. Futebol é visto como coisa de homem e é comum eles acharem que mulher está ali só por conta de outros homens ou para eles. De certa forma sim é um grande problema isso, não me vejo voltando ao estádio da forma que fui dessa vez. – Lamenta Bruna.

Para o jogo do Athletico no sábado (21), contra o Maringá, a expectativa das torcedoras é parecida. Beatriz Fernandes terá sua primeira experiência de ir a um jogo do Athletico, vontade que se despertou nos últimos anos, mas não se realizava justamente por conta do receio de um ambiente machista e violento por parte de seus pais e dela mesma.

— As vezes que entrei na arena foram pra assistir os jogos da copa em 2018 e aquela energia era incrível. Esse último ano fui na entrada da Arena para divulgar um projeto sobre mulheres no mundo do futebol, mas sentir aquela vibe dos torcedores, da torcida organizada chegando, foi muito massa e me instigou a passar a acompanhar e fazer parte disso. Mas eu não havia esquecido do medo dos meus pais, então esse jogo, somente com torcida feminina e crianças, foi a oportunidade perfeita para uma primeira vez assistindo o jogo do Athletico presencialmente. Estou animada e ansiosa para sábado, é um dia histórico para todas. – Contou.

Beatriz também comentou sobre a alta adesão do público na Arena da Baixada. Os ingressos foram esgotados no site do Athletico e são esperadas quase 40 mil pessoas, sendo um dos maiores da história do estádio que já protagonizou grandes decisões e jogos de Copa do Mundo.

— Eu imaginava que teria muita gente, mas não que lotaria. Mulherada quebrando totalmente o papinho que “futebol não é pra mulher”. Que os homens possam aprender muito com esse jogo assistindo de fora, tenho certeza que temos muita coisa a ensinar, principalmente sobre respeito e igualdade de gênero. – Disse Beatriz.

A coxa-branca Isabella Elias é figurinha carimbada em todos os jogos do Coritiba em casa, e admite que a partida entre Coritiba x Aruko foi uma das melhores experiências dentro do Couto Pereira.

— Foi incrível! Para ser bem sincera, eu não estava tão empolgada, mas acabou sendo uma das minhas melhores experiências dentro do Couto. Além de tudo, me senti muito segura e foi um momento muito especial e único. – Disse Isabella.

A torcedora athleticana Julia Barossi frequenta a Arena da Baixada em toda oportunidade, e espera que esses jogos aproximem ainda mais as arquibancadas das mulheres.

— A expectativa é que mais mulheres e crianças comecem a frequentar os estádios. Que mais pessoas conheçam a Arena da Baixada e tenham uma primeira impressão de ambiente seguro e de lazer e entretenimento para todos. Frequentar os estádios é uma sensação única. Com um lugar seguro e saudável para mulheres e crianças, acredito que essas pessoas que nunca foram antes se interessem em voltar novamente. – Disse Julia.

Isabella e Julia, mesmo indo quase que uma vez por semana ao estádio, apontam que é sim um ambiente machista que oprime e invalida as opiniões das mulheres. Ambas também já sofreram episódios de assédio no Couto Pereira e na Arena da Baixada.

— Infelizmente é raro encontrar alguma mulher que tem o costume de frequentar estádios e nunca ter sofrido algum tipo de assédio. – Revela Isabella.

Uma pesquisa da Universidade Estácio de Sá, publicada no site PressFut, aponta que cerca de 63% das mulheres que frequentam estádios no Brasil já sofreram assédio, e que 75% das entrevistadas já tiveram medo ou receio de ir a um jogo de futebol. Além disso, a minoria das entrevistadas, 40%, disse que já foi a um estádio sozinha, mas apenas 16% das entrevistadas respondeu que costumam ir desacompanhadas.

Apesar de muito avanço nos últimos anos, é evidente que as arquibancadas ainda são um ambiente machista. Cabe a todos os torcedores combater isso e tornar os estádios de futebol um ambiente mais confortável para todo mundo. É por isso que as partidas com restrições para o público masculino em Curitiba são históricas, pois dão às mulheres a chance de aproveitar um jogo de futebol no estádio como a maioria dos torcedores homens, apenas se preocupando com o desempenho do seu time dentro de campo e não na própria segurança.

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