Futebol

Novos técnicos, velhos problemas

Roger Machado é exemplo da nova geração (Foto: Mailson Santana/Fluminense)

Recentemente, o Brasil tem visto surgir uma nova safra de técnicos de futebol. Nomes como Roger Machado, Tiago Nunes e Fernando Diniz são exemplos da chamada nova geração, que chegou prometendo trazer novos ares – e novos conceitos – para os times nacionais. Mas, estarão essas novas estrelas do banco conseguindo atender às expectativas? Ou não há nada de tão novo nos gramados? 

Foto: Unsplash

Vamos olhar alguns exemplos. Tiago Nunes, por exemplo, surgiu como uma nova promessa ao levar o Athético Paranaense a surpreendentes conquistas, na Copa do Brasil e na Copa Sul-americana. Dois troféus foram o bastante para ser contratado pelo Corinthians, aonde chegou com a missão de tornar o time ofensivo um time reconhecidamente defensivista. O sonho durou dez meses – e só foi tão longe porque boa parte do tempo foi de paralisação de campeonatos. Assumiu um Grêmio pós-Renato Gaúcho, tarefa inglória para qualquer um, e não resistiu a maus resultados no início do Brasileirão.

Teria o sucesso no Paraná sido um mero acidente? Para responder a essa pergunta, é preciso contextualizar. Enquanto Athlético é um clube estruturado, com um trabalho sólido de muitos anos, o Corinthians vem sofrendo com problemas financeiros, que refletem no campo na forma de jogadores desmotivados ou pouco qualificados. O Grêmio vivia uma crise interna, já havia algum tempo, mas que era controlada por Renato Gaúcho. Tiago Nunes não dispunha de credenciais para peitar caciques do elenco ou diretores do clube.

Roger Machado também tem ligação com o tricolor gaúcho, onde jogou e começou como técnico. Treinou também Atlético Mineiro, Palmeiras, Bahia e Fluminense, por períodos de tempo relativamente parecidos. Aqui não se pode dizer que os clubes dificultavam – fora o Flu, todos são bem-organizados e pontuais nos pagamentos. Ainda assim, em todos eles, a trajetória de Roger se repetiu: um começo promissor, um platô de estabilidade e… estagnação. Nesse ponto, uma derrota imprevista era o bastante para um bilhete azul. No Palmeiras, ele foi demitido mesmo com o time liderando a classificação da Copa Libertadores. O que sugere que alguém percebeu alguma coisa…

O terceiro exemplo é Fernando Diniz – esse já não é uma novidade, já que despontou no surpreendente Audax de 2016. Após o brilho no Paulistão daquele ano, assumiu o Athético Paranaense, e mais tarde o Fluminense, São Paulo e Santos. Em todos esses clubes insistiu em sua filosofia de jogo que inclui posse de bola e troca de passes, ainda que em situações de risco. Não ganhou títulos de expressão, mas tem colecionado haters, que preferiam aguentar um chutão a ver seu time tomar um gol bobo. Ainda assim, clube após clube, Diniz insiste em seu modelo de jogo. 

Foto: Pixabay

Por motivos diversos, esses três exemplos da nova geração parecem sofrer para conseguirem se firmar. Depois de um primeiro bom trabalho, não tem conseguido convencer nos seguintes. Por outro lado, jovens técnicos estrangeiros têm feito sucesso por aqui: Abel Ferreira no Palmeiras; Hernán Crespo no São Paulo; e Juan Pablo Vojvoda no Fortaleza. Será que técnicos estrangeiros são intrinsecamente melhores que brasileiros?

Não é bem assim. Há estrangeiros que quebraram a cara no Brasil, desde Ricardo Gareca, no passado distante, até Miguel Ángel Ramírez, no passado recente. E há jovens brasileiros que estão dando certo, como Maurício Barbieri que, depois de uma demissão do Flamengo, que muitos consideraram injusta, está fazendo um trabalho sólido no Red Bull Bragantino.

Sua amiga, a tecnologia

Os jovens técnicos, como Tiago Nunes e Roger Machado, têm o mérito de abraçar o bom hábito de usar tecnologia. Evoluir é descobrir novas formas de fazer algo, inclusive jogar um jogo. E hoje é impossível fazer isso sem o auxílio de um computador. O vôlei já usa há muito tempo informações em tempo real sobre o que está funcionando, e o que não. Dispondo de informações de scout, performance e perfis táticos, um treinador pode sim mudar o rumo de uma partida.

É primordial entender o papel incontornável da tecnologia nos dias de hoje, e fazer ela trabalhar em seu benefício. Durante a paralisação do futebol, diversos museus usaram as visitas virtuais como solução para manter o interesse do público. Restaurantes descobriram o poder do delivery. Os cassinos, antes restritos a suntuosos edifícios no exterior, hoje oferecem sua diversão online. Mudanças completas de paradigma, algo que pode e deve ser adotado no nosso futebol. 

Infelizmente, nem todos os técnicos – e nem todos os jovens – querem subir no bonde tecnológico e usar as melhores ferramentas disponíveis. Muitos ainda acham que vão conseguir ganhar o vestiário apenas no papo de boleiro. Em geral, são os primeiros a perder o emprego.

Ao final, os técnicos da nova geração provavelmente não são tão geniais, nem tão ruins como querem os dois extremos da paixão futebolística. Há bons talentos que podem ser lapidados, mas, para isso, precisam das condições ideais de tempo e, principalmente, pressão. E, no Brasil, a fórmula tradicional é de muito pouco tempo antes da pressão aumentar. A ideia do “projeto”, com a qual se contrata um técnico, vale até a página dois, ou até a segunda derrota doída. Enquanto clubes e dirigentes não mudarem de mentalidade, e realmente respaldarem o trabalho do profissional que contrataram, e enquanto os novatos não encararem o estudo como parte fundamental da formação, vamos continuar na mesma situação de sempre: novos técnicos, velhos problemas.

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